Em geral as picapes médias são ótimas para andar na terra, trabalhar e pegar pesado. Mas asfalto não costuma ser um território que elas gostam muito. Em especial a estrada, onde sua carroceria volumosa tende a sofrer com o vento e as dimensões gigantescas atrapalham. Mas a Volkswagen Amarok V6 é diferente.
A picape média alemã segue por uma receita totalmente diferente das rivais. Abre mão da capacidade off-road e da vontade de pegar pesado para se tornar quase um Golf GTI com caçamba. Disse quase. Única picape média V6 à venda no Brasil, ela também é uma das mais cara de sua categoria. Por isso, levamos a versão mais custosa de todas Extreme de R$ 294.090 para o teste.
Quem tem limite é município
O território da Amarok é a estrada. É nessa terreno que ela mostra seu melhor. A suspensão mais dura que o típico em picapes se mostra bastante estável e capaz de manter a grandalhona na trajetória sem correções constantes como requerem algumas de suas rivais.
O revés disso é na cidade. Ela pula mais que a Ford Ranger, mas menos que a Nissan Frontier. Pequenas imperfeições fazem com que a carroceria toda chacoalhe e faça barulho. Ainda assim, nitidamente uma picape de asfalto
Só não tente passar por cima das lombadas como em outras picapes ou como nos SUVs da Jeep. A Amarok reclama com batida seca e metálica na traseira. Na terra ela não se sente muito confortável, especialmente por conta dos pneus de uso urbano e da tração 4×4 ativada somente sob demanda do próprio carro.
Já a direção de assistência hidráulica vive uma certa incoerência. É excessivamente pesada nas manobras, dificultando balizas (que já não são muito fáceis devido a suas medidas de trambolho). Entretanto, em movimento assume peso correto e uma surpreendente agilidade para esse tipo de sistema.
Na estrada ela exige força adequada e não fica boba, mantendo a picape em linha sem a menor dificuldade. Uma assistência elétrica, como em todos os outros Volkswagen à venda hoje no Brasil, sem exceção, seria mais do que bem vinda à Amarok.
Nada substitui um V6
Orgulho da Volkswagen, o motor 3.0 V6 turbo reside debaixo do capô da Amarok e é alardeando pelo logotipo na dianteira e na traseira. Bebendo diesel, ele tem 258 cv e 59,1 kgfm de torque. É mais que todas as suas rivais, o que fornece a ela o título de picape média diesel mais potente do mundo.
Ela pode chegar a 272 cv com a função Overboost. Mas ela é extremamente específica. A Amarok tem que estar entre 50 e 120 km/h, pedal com pelo menos 70% do curso e a força extra só dura dez segundos. Na prática, é um efeito sentido com um empurrão a mais.
O que de fato se faz mais presente, no entanto, é o delay do turbo. Até 2.500 giros, a Amarok é pacata, se arrasta para sair e ganhar força. Mas depois disso, vira um canhão. Te recebe com um soco no estômago e acelera de maneira que custa a acreditar que uma picape daquele tamanho é capaz de fazer.
Em acelerações mais fortes, a transmissão automática de oito marchas deixa o motor trabalhar com rotações mais altas e o turbo cheio. Já no trânsito da cidade, ela troca de marcha cedo, mantendo o ritmo mais fraco e economizando combustível.
Entretanto, o consumo médio ficou em 9,5 km/l entre cidade e estrada. Bom para um motor tão forte e que se recusa a andar devagar. É notável como o câmbio engole as marchas uma a uma de maneira muito rápida. Mal saiu do sinal, 50 km/h e ela já estará em sétima. Tudo sem trancos e com muita suavidade. Nessa tocada também está o ronco do motor.
Se os vidros estiverem fechados, você mal notará que está em uma picape diesel. Aquele barulho típico não é tão presente como nas rivais. Sendo fortemente mais notado do lado de fora ou com as janelas abertas. Ainda assim, o V6 produz uma sonoridade diferente dos motores em linha da concorrência e mais instigante.
Sinal dos tempos
Lançada em 2010 e reestilizada somente uma vez desde então, a Volkswagen Amarok já mostra claros sinais de idade na cabine. Há somente uma entrada USB contra três do tipo 12V, que praticamente ninguém usa. Além disso, a central multimídia é minúscula e tem tela com definição ruim. Mas pelo menos tem Android Auto e Apple CarPlay.
A tela pequena tem poucos recursos e é lenta, além de um layout já cansado. Nem se compara as atuais centrais que a Volkswagen usa em carros até mais simples com o o Gol. Em concordância com isso está o painel de instrumentos. Simples, ele tem tela colorida, mas poucos recursos e usabilidade não tão facilitada quanto os demais modelos da marca.
Até mesmo o volante é simplificado. Não tem comandos do piloto automático como outros Volks, deixando essa tarefa para botões na haste de seta. O acabamento é simples, sem superfícies emborrachadas, mas plásticos de boa qualidade e bem montados. Há até carpete nos bolsões de porta tal qual o Golf.
Os bancos são confortáveis e revestidos com couro de ótima qualidade. Dignos de modelos premium. Há ajuste elétrico para motorista e passageiro, além de regulagem de comprimento do assento. Espaço traseiro é acanhado e apertado, mas típico de picapes dessa categoria.
No quesito tecnologia, a Volkswagen Amarok V6, mesmo na versão de topo Extreme, carece de recursos. Tem sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera de ré e faróis de LED com acendimento automático como seus maiores recursos tecnológicos. Não há nenhum tipo de recurso autônomo ou regalias modernas como suas rivais tem. Ela não vai além do padrão de antigamente.
Nem mesmo chave presencial ela tem, sendo o mesmo tipo canivete em um Gol de R$ 60 mil – algo inaceitável para quem beira R$ 300 mil. Retrovisores tem rebatimento e aquecimento, mas é preciso virar a chavinha na porta para que eles se dobrem ao estacionar. Outro elemento de um modelo antigo que ela ainda tem é o porta-luvas com possibilidade de ser trancado na chave. Há anos não via isso em um carro novo.
Veredicto
A Volkswagen Amarok V6 é a melhor companheira para aqueles que gostam de uma picape e pegam muita estrada. A potência e disposição do motor V6 alinhada a dirigibilidade agradável fazem dela a rainha das rodovias.
Entretanto, o uso urbano em grandes centros não é tão prazeroso quanto o de uma Ford Ranger Black. Especialmente pela falta de direção elétrica e pela suspensão dura. O preço próximo dos R$ 300 mil coloca a Amarok em uma situação perigosa: falta acabamento e equipamentos que justifiquem tamanha cifra.
Em suma, é uma ótima picape, com um ótimo motor, mas menos equipada do que precisaria e mais cara do que deveria.
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