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Vans: rainhas da Engenharia de Emblema e do troca-troca de marca

Não existe outra categoria no mundo dos carros que mais tenha passado pela Engenharia de Emblema do que as vans

Fiat Fiorino e Peugeot Parter Rapid [Montagem: Maurício Garcia]
Fiat Fiorino e Peugeot Parter Rapid [Montagem: Maurício Garcia]

Qual a melhor maneira de lucrar com a Engenharia de Emblema? Pegar o modelo mais genérico possível e mudar o mínimo possível em seu design. Só que clientes comuns não costumam engolir muito esse tipo de modificação. A solução, é apelar para o segmento de veículos comerciais.

Por isso, nessa terceira matéria especial sobre Engenharia de Emblema, vamos explorar o tipo de carroceria que mais se beneficia e até abusa desse tipo de artimanha automotiva: as vans. No segmento de veículos comerciais, é preciso economizar cada centavo possível para ter um modelo lucrativo. Por isso, as marcas tendem a juntar forças para produzir diversas vans.

Stellantis e a dança dos logos

O maior exemplo disso é o trio Fiat Ducato, Citroën Jumper e Peugeot Boxer. Bem antes do surgimento da Stellantis, as três marcas já faziam vans juntas. O desenvolvimento encabeçava uma marca, a qual usava peças de seus carros de rua nas vans e depois cada marca dava o toque final no design simplesmente alterando somente a grade e logotipos.

Isso se estendeu também às minivans, com Peugeot 806, Citroën Evasion, Lancia Zeta e Fiat Ulysse surgindo de um projeto comum. O trio foi substituído por Peugeot 807, Citroën C8, segunda geração da Fiat Ulysse e Lancia Phedra. Tudo isso antes da Stellantis surgir.

Só que entre as vans médias, a estratégia era outra. Peugeot e Citroën desenvolveram Expert e Jumpy. As irmãs ganharam derivados Opel e Vauxhall quando as marcas alemãs se juntaram ao grupo. Depois a Toyota passou a vender sua própria versão das vans francesas. Só depois da Stellantis que a Fiat lançou a Scudo.

Curiosamente entre esses modelos há diferenças relativamente substanciais. Peugeot e Citroën usam faróis diferentes, só que o conjunto da Jumpy é o mesmo da Fiat Scudo e das Opel / Vauxhall Vivaro. A Toyota ProAce, por sua vez, tem faróis exclusivos. Só que todas as vans desse grupo têm traseira idêntica.

Recentemente no Brasil tivemos o primeiro exemplo da junção entre PSA e FCA na forma da Peugeot Partner Rapid. Ela é o puro suco da Engenharia de Emblema ao adotar linguagem visual da marca francesa em uma Fiat Fiorino. E para piorar a situação, só tem o sobrenome Rapid para usar o mesmo borrachão lateral da RAM ProMaster Rapid.

Lá na Europa, o Fiat Doblò era usado como base para a geração anterior do Opel Combo e nos EUA como RAM ProMaster City. Mas agora Combo e Doblò não passam de um Citroën Berlingo, ou um Peugeot Partener, ou Toyota ProAce City com outro nome e design um pouco diferente.

No Brasil, temos o original

Não é só a Stellantis que faz isso. Outras marcas também vendem suas vans através de outras marcas. Mas o interessante é que no Brasil temos somente o modelo original. A Renault Master, por exemplo, já deu origem à antiga geração da Opel Movano, que hoje é derivada de Ducato, Boxer e Jumper.

A van grande da Renault também é vendida como Nissan Interstar, mas como estão dentro do grupo, está tudo bem. O curioso é a Mercedes-Benz, que usa o Renault Kangoo para fazer a van pequena Citan, também vendido na versão luxuosa como Classe T e, futuramente, a versão elétrica EQT. Mas há um derivado Nissan, chamado de Townstart.

A Mercedes-Benz também fez o contrário, mas com a Sprinter. A primeira geração foi vendida como Volkswagen Crafter, Freigtliner e Dodge Sprinter. Já a segunda geração manteve os dois derivados americanos e perdeu a prima alemã, mas ganhou uma infinidade de clones chineses, incluindo uma versão JAC vendida no Brasil. Já a atual Sprinter, só teve versão Freightliner até 2021.

Para cada lado

Mas talvez o modelo que mais foi vítima da Engenharia de Emblema entre todas as vans (e de maneira mais aleatória possível) foi a Renault Trafic. Na primeira geração ela foi vendida como Renault, Chevrolet, Tata, Winnebago, Opel, Vauxhall e Inokom. No Brasil tivemos tanto Renault Trafic, como Chevrolet Trafic.

Já na segunda geração, o número de primos diminuiu, sendo somente Nissan, Opel e Vauxhall. O trio se repetiu na terceira geração e ganhou a adição de Fiat Talento, Mitsubishi Express e a Nissan trocou o nome de NV300 para Primastar.

Por conta da compra da Opel e Vauxhall pela PSA, a Vivaro migrou para ser derivada de Peugeot Expert e Citroën Jumpy em 2018. Já a Fiat Talento foi substituída pela Scudo, igualmente derivada dos modelos anteriormente citados, em 2021. Já deu para perceber que na Engenharia de Emblema das vans, está tudo conectado?

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