É inevitável que, quanto maior o carro e mais sofisticado, menores as chances de ele ter um consumo bom. Mas a modernidade nos permitiu ter acesso a modelos híbridos que provam justamente o contrário. Como é o caso do Toyota Corolla Cross Hybrid, o SUV híbrido mais barato do Brasil e único flex do mundo na categoria.
O modelo eletrificado começa em R$ 181.190 na versão intermediária XRV, mas testamos o modelo topo de linha XRX para entender o que há de melhor no SUV médio da Toyota. Por R$ 188.590, ele traz o pacote mais completo do SUV e o como exclusividade a belíssima cor Azul Netuno (o que engorda a conta em R$ 190.540).
Beira do ridículo
A Toyota merece palmas por ser a única marca do Brasil a produzir um carro híbrido localmente. E não somente isso, por adaptar o sistema à nossa realidade, fazendo o motor a combustão beber etanol ou gasolina. Em nossos testes com o combustível vegetal ele registrou 16,1 km/l, já com gasolina marcou 19,2 km/l de média.
É impressionante ver um SUV do tamanho do Corolla Cross fazendo médias de consumo que chegam ao dobro do que consegue rivais como Jeep Compass e Volkswagen Taos. A contrapartida é que ele não será um modelo tão ávido a grandes acelerações e uma tocada mais animada como o próprio Corolla Cross 2.0 aspirado.
O Corolla Cross Hybrid se sente mais à vontade com uma condução mais serena. E o interessante de um carro híbrido é que o motorista se sente incentivado a fazer isso, conforme as médias de consumo vão melhorando a cada quilometro rodado. Os 122 cv providos pela combinação do motor 1.8 de 101 cv e o elétrico de 72 cv.
A Toyota não divulga o torque total porque os dois motores não trabalham com 100% de seu rendimento o tempo todo. Contudo, o 1.8 entrega 14,5 kgfm, enquanto o elétrico vem com 16,6 kgfm. Na prática isso se traduz em performance apenas suficiente. O Corolla Cross acelera sem dificuldades, mas sem empolgar.
Não vai te fazer passar vergonha nas ruas ou comprar a fileira da esquerda de uma rodovia. Mas também não será o SUV que deixará hatches metidos a esportivo comendo poeira no sinal.
Serenidade e enceradeira
Esse comportamento mais manso do Corolla Cross Hybrid fez com que a Toyota adotasse uma transmissão CVT diferente do modelo 2.0. Aqui não há simulação de marchas, produzindo aquele chato efeito enceradeira quando o carro acelera. Ou seja, o motor fica berrando como um doido sem parar, com a rotação lá em cima, enquanto o SUV ganha velocidade.
Ao arrancar, como o motor elétrico é que entra em ação, não há o efeito de deslizamento do CVT, o que torna as saídas de sinal do Corolla Cross algo bem suave. Fora os momentos de forte aceleração, o câmbio se faz pouco presente, manejando muito bem a força do motor 1.8 em parceria com o elétrico.
Em velocidades baixas ou em constância, o motor elétrico entra em ação e empurra as rodas do SUV médio em silêncio. O bom isolamento acústico faz com que a transição entre os dois motores seja tão suave que o motorista só perceberá se vigiar os gráficos de força exibidos no painel de instrumentos e na central multimídia.
Direção é bem calibrada, pendendo para o conforto. Mas com bom peso e rapidez suficiente para curtir um pouco a condução em circuito mais sinuoso. Já a suspensão é nitidamente voltada para o lado mais macio, ainda que o Corolla Cross não passe vergonha nas curvas e não chacoalhe excessivamente. Nesse ponto, está mais para um sedã que para um SUV.
Servidão tecnológica com derrapadas
A versão topo de linha do Toyota Corolla Cross, a XRX, traz o que há de mais completo na marca japonesa hoje em dia. Mas com alguns sacrifícios, inevitavelmente. Ele tem frenagem autônoma de emergência, alerta de ponto cego, alerta de tráfego cruzado, sistema de manutenção em faixa e piloto automático adaptativo.
Ainda que o sistema de manutenção em faixa funcione perfeitamente, mantendo o Corolla em trajetória sem correções desnecessárias como a Fiat Toro faz, o piloto automático adaptativo fica um pouco aquém. Ele é desativado automaticamente em velocidades muito baixas, não contando com função anda e para como o VW Taos – algo bem útil em trânsito pesado.
Ele também conta com teto solar, mas com proporções bem diminutas e com um sério problema. O defletor de vento é muito pequeno e não suficiente para evitar a ressonância acima de 55 km/h. O incômodo é tanto que é impossível ficar com o teto aberto acima dessa velocidade. O freio de estacionamento no pé é outra falta imperdoável desse carro.
O painel de instrumentos é parcialmente digital, contando com visor interno totalmente digital combinado a três medidores com ponteiros, sendo um medidor de força bastante interessante. A tela tem ótima definição, é rápida e de uso facilitado. Contrasta com a central multimídia lenta, com tela opaca e de definição aquém do esperado para um carro que beira dos R$ 200 mil.
Questões de Corolla
A cabine da versão XRX do Corolla Cross Hybrid se apresenta de uma maneira mais elegante que a XRE testada anteriormente. Há partes em couro bege nas portas, painel, além dos bancos. É mais suscetível a sujeira, mas basta cuidar que está tudo bem. A sensação de qualidade é maior, ainda que não seja exatamente assim.
O acabamento perdeu pontos em relação ao Corolla sedã. Os pontos macios não são tão macios assim e a porção superior do painel é de plástico duro no SUV, enquanto no sedã é emborrachado. Além disso, o console central tem uma caixinha para conexão USB que parece uma adaptação.
O espaço traseiro não é dos melhores, tendo pouca área para os joelhos. Lateralmente, três ocupantes lutam com seus ombros por um pouco mais de espaço. O sedã trata melhor os passageiros traseiros, assim como alguns de seus concorrentes. Ao menos o porta-malas de 440 litros é mais do que suficiente para muita bagagem e é bem aproveitado.
Veredicto
O Toyota Corolla Cross XRX Hybrid é um tipo de SUV para um público diferente do VW Taos e do Jeep Compass. Ele é pensado para aqueles que querem gastar pouco combustível, mas sem abrir mão do conforto já conquistado por ter um carro da categoria de médios. Nesse quesito conforto e consumo, o SUV da Toyota é imbatível.
Entretanto, o problema encontrado na versão topo de linha com motor 2.0 se repete aqui. Ter o referencial do Corolla sedã atrapalha a vida do Cross pelo fato de ele ser nitidamente menos sofisticado em todos os aspectos e ainda custar a mais. Não é um upgrade para quem sai de um Corolla, mas é uma alternativa a quem busca um SUV e não quer torrar dinheiro no posto.
>>Toyota Corolla Cross é Corolla de verdade, mas tem poréns | Avaliação
>>Taos Highline vs Compass S: quem é rei dos SUVs médios? | Comparativo
>>Jeep Compass Longitude turbo é o sonho da classe média | Avaliação