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Renault Duster turbo: cavalo que anda, bebe (e muito) | Avaliação

O melhor conjunto mecânico e carro que a Renault oferece no Brasil é, sem dúvida, o Duster turbo. Mas precisava beber tanto?

Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]
Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]

SUVs são a moda hoje em dia, mas entre os modelos compactos é inegável que apenas dois aguentam o tranco de verdade: Jeep Renegade e Renault Duster. Conhecidos pela robustez, os dois nunca foram sinônimo de performance animadora ou até mesmo consumo de combustível. Mas olha que coincidência: em 2021 ambos ganharam motor 1.3 turbo.

O Jeep Renegade já passou pela avaliação completa aqui no site do Auto+ em versão 4×4 e agora chega a vez do Renault Duster. Ao contrário do rival, porém, ele não tem tração nas quatro rodas, mas entrega menos preço (R$ 133.990) e maior espaço interno. O conjunto mecânico, aliás, fez dele o melhor Renault à venda no Brasil.

Coração de Mercedes-Benz

Projetado em parceria com a Mercedes-Benz, o motor 1.3 quatro cilindros turbo estreou no Brasil no Classe A Sedan, migrou para os SUVs GLA e GLB antes de chegar aos Renault. Na marca francesa, surgiu primeiro no Captur e agora equipa Duster e Oroch em suas versões topo de linha.

Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]
Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]
Mas o estado da arte desse motor está no Duster. Com 170 cv e 27,5 kgfm de torque, ele empurra o SUV compacto com força de sobra. As acelerações são fortes e as respostas do câmbio CVT são primorosas. É, categoricamente, o melhor acerto entre motor turbo e transmissão CVT à venda no Brasil.

O Duster não vacila nas respostas, subindo a rotação na medida certa para ganhar velocidade no tanto que o motorista aperta o acelerador. Tudo com o benefício de não elevar desnecessariamente o giro do 1.3, causando gritaria e efeito enceradeira como muitos carros com esse tipo de câmbio.

Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]
Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]
Mas o tanto que ele anda, é o tanto que bebe. E como o Duster turbo bebe! Ele secou um tanque 46 litros de etanol rodando apenas 235,4 km. Sendo que metade disso foi em estrada. O computador de bordo marcava média de 7,1 km/l. Com gasolina, fez 9,6 km/l em ciclo 90% estrada, rodando 312 km. A autonomia restante era de 90 km no computador de bordo.

Por falar nisso, um alerta: no momento de maior desespero, a autonomia do Duster simplesmente some! Ao registrar a possibilidade de andar algo abaixo de 40 km com o combustível restante, o computador de bordo apaga e você que lute para adivinhar quanto ainda poderá rodar sem abastecer.

Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]
Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]

Muito acima do Captur

Apesar de posicionado em preço abaixo do Captur, o Duster é superior em níveis tão nítidos quanto seu consumo exagerado. Enquanto o Duster turbo é vendido a R$ 133.990 na versão única Iconic, o Captur parte de R$ 142.990 em uma versão bem menos equipada, mas com o mesmo conjunto mecânico. Mas sobre isso falo adiante.

A superioridade do Duster em relação ao Captur está, em especial, na dinâmica. O Duster é robusto, tem suspensão voltada ao conforto, mas que encara a buraqueira sem a menor dificuldade. A atuação do conjunto é bem silenciosa e não dá barulho de fim de curso, mesmo quando abusada. Até nas curvas ele manda bem, mas não é um Sandero RS.

Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]
Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]
Dinamicamente está entre os mais bem acertados SUVs compactos à venda no Brasil, especialmente pela parrudez do conjunto. A direção é elétrica com peso bem calibrado para ser leve nas manobras e também pesada suficientemente para tocadas mais fortes. Junte isso ao volante de bom acabamento e terá um dos principais destaques do Duster.

Corretamente

Por falar em acabamento, esse é outro ponto favorável ao Duster. Não espere por superfícies macias como no Renegade, mas o que há lá dentro está correto. São plásticos duros, mas de texturas interessantes e encaixes corretos, dando uma sensação de maior cuidado que o Volkswagen T-Cross, por exemplo.

Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]
Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]
Elementos em metal no volante e nas saídas de ar-condicionado adicionam um tempero a mais e um contraste para a dominação dos tons de preto. Espaço interno é farto, com destaque para amplitude de ajustes de volante e banco. Quer sentar colado no chão ou nas alturas? O Duster possibilita isso – o Captur não.

Já o porta-malas é o maior da categoria com generosos 475 litros. Mas á espaço para melhorias. Os porta-copos são pequenos e rasos, fazendo com que garrafas virem com facilidade na cabine. Além disso, a quantidade de porta-objetos é escassa e há um redondo no meio do console central que não tem função alguma.

Além disso, o painel de instrumentos tem computador de bordo monocromático e com poucas funções – ainda que melhor que o painel digital de 2003 do Captur. A central multimídia tem tela de definição ruim e é bastante lenta nas operações. Merecia um tratamento melhor nesses dois pontos.

Do meio para cima

Ao custar R4 133.990, o Renault Duster Iconic turbo tem um paradigma interessante. É um SUV compacto topo de linha com preço de versões intermediárias. Isso traz vantagem a ele no quesito equipamentos. Mas esqueça qualquer tipo de assistência eletrônica ou algum mimo mais moderno que uma chave presencial por distância.

Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]
Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]
Ele tem de série apenas dois airbags, o que é vergonhoso frente ao Kwid, um subcompacto de entrada e carro mais barato do Brasil, que tem quatro bolsas de ar. Há ainda controle de tração e estabilidade, ar-condicionado digital de uma zona, central multimídia, piloto automático, vidros elétricos nas quatro portas, retrovisores elétricos e farol com acendimento automático.

Destaque vai para o sistema com quatro câmeras, que não formam uma imagem 360°, mas ajudam bastante nas manobras. Além disso, a versão Iconic turbo traz para-lamas alargados e um quebra-mato dianteiro com luzes auxiliares para o farol alto. Adicionam um toque extra ao visual bastante interessante do Duster.

Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]
Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]

Veredicto

Três grandes atrativos tornam o Renault Duster uma compra bastante interessante na categoria dos SUVs compactos. Primeiro que ele é mais barato que a média do mercado ao oferecer uma versão de topo com preço de rivais intermediários. Segundo é o espaço interno e porta-malas, os mais generosos da categoria. Terceiro: robustez que só ele e o Renegade têm.

A versão Iconic turbo entrega performance que o Duster nunca contou, mas uma sede assustadora que faz dele um dos mais gastões do mercado – somado isso ao tanque pequeno e suas visitas ao posto de gasolina se tornarão frequentes. A falta de tecnologias mais modernas também é notáveis.

Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]
Renault Duster Iconic turbo [Auto+ / João Brigato]
Contudo, é o melhor carro que a Renault vende no Brasil hoje. Só que se você cogita de alguma maneira comprar um Captur, esqueça essa ideia e compre um Duster. Ele é melhor que o irmão em todos os aspectos. Inclusive em acabamento, ainda que o Captur tenha uma faixa macia ao toque, o resto da cabine tem qualidade de Kwid e inferior ao modelo dessa avaliação.

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