Puristas são os tipos mais ferrenhos de fãs das marcas. São aqueles que querem que o legado da montadora seja preservado e que mantenha sua essência a cada lançamento, o que é algo extremamente necessário. Mas também são os primeiros a reclamar de qualquer novidade tecnológica grande. E a eles, o Porsche Taycan GTS é seu verdadeiro inferno.
Porque por mais que um purista possa reclamar que não é um Porsche de verdade por ser elétrico ou ainda por ter quatro portas, qualquer fã de verdade da marca alemã que dirigir o Taycan GTS não terá o menor argumento para dizer que ele não é filho legítimo do 911. Aliás, ele é o atual modelo da marca que mais se aproxima do Porsche definitivo.
Equilíbrio das forças
Como todo Porsche GTS, o Taycan GTS é o que preza pelo equilíbrio. Não tão fraco quanto as versões de entrada sem nome, nem tão absurdo quanto os Turbo. Isso sem contar o estilo mais esportivo e a pegada apimentada de suspensão que o deixa mais divertido. Por ele a Porsche cobra R$ 860 mil, mas a unidade testada beirou R$ 1 milhão por conta de opcionais.
Para empurrar esse esportivo de 0 a 100 km/h em ridículos 3,7 segundos, o Porsche Taycan GTS conta com dois motores elétricos, um em cada eixo. Individualmente entregam 299 cv e 43,3 kgfm de torque, resultando em 598 cv e 86,7 kgfm no total. Isso é suficiente para assustar qualquer pessoa que jamais andou em um elétrico.
Claro que ele não é bruto como o Taycan Turbo S, mas o GTS tem força mais do que suficiente para acelerar de maneira assustadora e deixar vários modelos mais comuns do 911 comendo poeira. A entrega dessa força é instantânea, bastando uma triscada mais forte no acelerador. Mas tudo de maneira previsível ao motorista.
Como a tração é integral, o Taycan gruda no asfalto e acelera reto sem a menor possibilidade de sambar a dianteira ou traseira – como comumente acontece com muitos carros elétricos fortes. Isso se reflete também nas curvas, onde o cupê de quatro portas gruda no asfalto de maneira assombrosa. A quantidade de força G que ele aguenta é digna de carro de corrida.
Direto e reto
Um dos pontos mais interessantes sobre o Porsche Taycan, e que o conecta diretamente ao 911, é a direção. Ela é muito rápida e direta, além de ter o mesmo volante. As respostas são instantâneas e, mesmo com pouco movimento do motorista, é possível sentir a mudança de direção. Isso o torna muito conectado aos pensamentos do condutor.
Já a suspensão mostra uma evolução gigantesca da Porsche em conseguir fazer um esportivo sem compromissos. Por mais que carros rápidos sejam divertidíssimos de dirigir, a convivência no dia a dia pode ser penosa. Ou porque a suspensão é tão dura que sua coluna será arrebentada em questão de horas ou porque a parte inferior raspa a cada lombada.
No Taycan isso não acontece. Claro que ele é um carro mais firme e assentado no chão, mas ele faz um Mini Cooper parecer uma britadeira. É possível rodar nos grandes centros e até em asfalto pouco cuidado sem que esse Porsche pareça desmanchar como acontece com outros esportivos. Mesmo em paralelepípedos, a coluna não sofre.
Além disso, o sistema pneumático permite elevar a suspensão como um todo para facilitar a entrada e saída de garagens e também de lombadas. No meu prédio, onde um Jaguar F-Type raspava os quatro cantos para entrar e sair, impedindo também que mais alguém além do motorista estivesse dentro, o Taycan GTS saiu e entrou sem um arranhão.
Autonomia coerente
Equipado com baterias de 93,4 kWh, o Porsche Taycan tem autonomia declarada de 318 km. Segundo a marca, ele pode carregar em 270 kW, tendo consumo médio de 23,3 kWh a cada 100 km. Na vida real, contudo, ele chega mais próximo dos 400 km e não sofre tanto ao usá-lo como um Porsche de verdade.
Como o sistema elétrico tem duas marchas, sendo que a segunda é engatada só em altas velocidades para reduzir o esforço do motor elétrico, o Taycan consegue ser econômico. Durante os 600 km rodados com o carro, foi preciso carregá-lo uma vez, mas sobrou mais de “meio tanque” ao devolvê-lo. Isso que a primeira carga foi bem usada em modo Sport Plus.
Eletricidade interna
Se no desempenho o Porsche Taycan GTS é um legítimo filho do 911, na cabine eles se aproximam ainda mais. Elementos do modelo original estão lá, mas com toques extras de tecnologia – algumas legais, outras inúteis e algumas até irritantes. Como esperado de um carro da marca, a qualidade está acima de tudo.
No GTS, há revestimento de couro no painel contrastando com alcantara, que está também no console central, volante e em partes do banco e portas. É um ambiente escuro e refinado, com ambos os materiais de textura agradável. Há plásticos sim, especialmente no console central e em botões de comando, mas de ótima qualidade.
Temos um painel de instrumentos totalmente digital formado por uma tela curva à frente do motorista e com qualidade excepcional, mesmo quando incide sol. Cada canto pode ser personalizado com mostradores diferentes, enquanto a parte central recebe velocímetro combinado (ou não) com GPS).
A central multimídia tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio, mas a tela é um pouco pequena. É boa de usar e tem menus muito claros, tendo como único incômodo a posição do cabo USB no console central que impede que celulares grandes caibam ali conectados. E não há carregador por indução.
Ainda no mundo das telas temos a opcional para o passageiro: totalmente dispensável. A última fica no console central para gerenciar alguns comandos, inclusive o ar-condicionado. Mas bem que poderiam ter usado botões físicos ali. Inclusive, a direção do vento do ar precisa ser controlada por uma tela, algo bem irritante.
Diferencial
Um dos pontos em que o Porsche Taycan GTS mais se destaca perante os irmãos é no teto solar opcional. Ele conta com uma cobertura elétrica na qual cria zonas opacas e outras transparentes ao toque de um botão. Parece mágica que haja realmente uma cobertura do sol feita apenas mudando o tanto de luz que o vidro permite passar.
Esse teto de vidro ajuda a dar mais espaço para a cabeça dos passageiros traseiros, que não ficam tão confortáveis. O banco é bem baixo, mas ainda assim é evidente que o Taycan é um carro para levar pessoas atrás só quando for necessário, ao contrário do Cayenne, do Macan e do Panamera que recebem melhor quem vai atrás.
Seu porta-malas dianteiro leva 81 litros, enquanto o traseiro conta com 366 litros. Na frente há espaço suficiente para cabos de carregamento e outros materiais de reparo necessários. Já na traseira, o estepe gigantesco rouba mais da metade do volume útil de carga, sendo uma questão filosófica: ter um estepe ou levar malas em uma viagem?
Veredicto
Se você é um purista, amante dos Porsche com motor a ar e que só um 911 ainda honra o legado da marca, dê uma chance ao Taycan GTS. Uma volta nesse esportivo elétrico de quatro portas e verá que todo o espírito da marca está intrínseco nele, até mais do que em um 718 Cayman ou em um Panamera.
Divertidíssimo de dirigir, mas sem os compromissos chatos de um esportivo, o Porsche Taycan GTS é, sem dúvida, um dos carros mais equilibrados que a marca fez. Se a estrutura de carregamento melhorar no nosso país, será difícil pensar em um motivo pelo qual alguém compraria outro esportivo que não seja ele.
Você ainda acha uma heresia a Porsche ter um esportivo elétrico como o Taycan? Conte nos comentários.
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