Se no passado os carros chineses tinham no preço baixo e na lista de equipamentos recheada como vantagens perante concorrentes nacionais, agora a estratégia é outra. Enquanto a CAOA Chery investiu na nacionalização de seus carros, a JAC aposta na especialidade da China: fazer carros elétricos. E com uma picape elétrica que ela quer briga com Toyota Hilux e Chevrolet S10.
Com 5,61 m de comprimento, 1,88 m de largura e 1,83 m de altura, a JAC iEV330P é cerca de 30 cm mais longa que a média da categoria, sendo toda essa parte extra destinada à caçamba, que é mais rasa que outras caminhonetes e carrega apenas 800 kg, contra uma tonelada das rivais. A JAC iEV330P também é mais cara. Aliás, é a picape média mais cara do Brasil: são R$ 389.900 em versão única.
Futuro ligado
Ao contrário de suas rivais, a picape média da JAC não usa motor diesel ou flex, mas sim um conjunto elétrico de 150 cv e 33,7 kgfm de torque. Pode não parecer muito, mas a iEV330P tem torque instantâneo entregue diretamente ao primeiro toque do acelerador. Sem carga, ela limita a força a 60% do total disponível para preservar as baterias.
O silêncio à bordo é divertidamente estranho para uma caminhonete desse porte, onde a grande maioria dos modelos equivalentes têm motores diesel com sonoridade e vibração bem presente. A picape elétrica mostra que a força do motor elétrico é compatível sim com esse tipo de categoria.
Declaradamente voltada ao trabalho, a JAC iEV330P não será como suas rivais estradeiras que podem chegar a mil quilômetros com um tanque de diesel. Ela pode rodar até 320 km, número que pode diminuir na estrada, já que carros elétricos consomem bem mais bateria em velocidades altas.
Além disso, ela tem velocidade máxima de apenas 97 km/h – nada recomendado para estradas de alta velocidade como a rodovia dos Bandeirantes em São Paulo onde o limite é 120 km/h. Assim, a JAC limita a picape elétrica ao uso urbano ou rural, desde que você tenha um lugar para carrega-la. Segundo a marca, já foram encomendadas 10 unidades da picape.
O sistema regenerativo da JAC iEV300P não é dos mais fortes entre os carros elétrico, impossibilitando um reaproveitamento da força da gravidade ou dos freios para ganhar alguns quilômetros extras.
Passado insistente
À parte de toda tecnologia do motor elétrico, a picape da JAC parece uma Chevrolet S10 ou uma Toyota Hilux da geração anterior. É uma picape de concepção mais antiga em sua construção, como prova o fato de ela ter direção pesada com assistência eletro-hidráulica, não elétrica como era de se esperar.
Há também de notar que a suspensão e os coxins da carroceria não são tão evoluídos quanto nas rivais, que têm investido com força no aprimoramento desses sistemas há um bom tempo. Com isso, a iEV330P chacoalha e pula como nas caminhonetes de antigamente. Transmite bastante robustez, mas chega a ser algo irônico visto o silêncio de seu motor elétrico.
Outro ponto em que a picape elétrica da JAC puxa para o lado do passado é em seu interior. Apesar da faixa de couro central, os materiais são de concepção simples, o visual parece datado e há diversos componentes vindos do SUV compacto T40 (ou iEV40 se preferir a versão elétrica), além do painel de instrumentos com tela pequena e gráficos de Nokia dos anos 2000.
O volante Chevrolet não é a única inspiração na S10, visto que o painel de porta lembra bastante a peça que era usada pela atual geração da picape da GM quando foi lançada em 2015.
Veredicto
A JAC foi extremamente ousada em sua jogada ao trazer uma picape elétrica ao Brasil. É um nicho ainda não explorado por aqui e nem lá fora e que possui potencial para explodir nos próximos anos – como Ford, Tesla e Chevrolet comprovam por estarem desenvolvendo suas caminhonetes elétricas.
A JAC iEV330P é uma picape cara por ser elétrica, mas funciona muito bem ao seu propósito que é o trabalho e servir como um carro de imagem para as empresas, que terão uma frota 100% limpa.
Analisando a picape em si, é como se ela misturasse doses do passado (suspensão e interior) com toques do futuro (motor elétrico) para tentar se inserir no presente. Tem potencial, mas precisa melhorar. Depois de ver rapidamente como os chineses evoluíram com os SUVs, e pensando que essa é a primeira tentativa no segmento de picapes, a evolução virá e muito rápido.
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