Desde que o Mitsubishi Eclipse Cross foi lançado no Brasil, ele foi só alvo de polêmicas. Visual controverso da traseira, nome emprestado de um emblemático esportivo nacional e perigosamente posicionado entre o ASX e o Outlander que estavam vendendo bem. Resultado? Não decolou. Mas a Mitsubishi quer mudar isso.
Com a produção nacional e a primeira reestilização, a marca transformou o estilo polêmico no maior atrativo do SUV médio. Além disso, refinou a dinâmica do modelo em busca de um lugar ao luar no segmento. Já que o posto ao sol pertence ao Jeep Compass e nenhum outro modelo ousa tirar ele de lá, por mais que o Toyota Corolla Cross até tente.
Inegável atração
Não dá para olhar para o Eclipse Cross e não o achar muito bonito. Era um efeito que só o Peugeot 3008 conseguia na categoria. A dianteira futurista com LED diurno fininho ligado à grade frontal e três blocos gigantes de LED na altura do para-choque dão um charme que nenhum outro Mitsubishi tem hoje.
A traseira melhorou e muito. Perdeu o vidro dividido no melhor estilo Pontiac Aztek para adotar um conjunto mais tradicional, mas ainda assim ousado. As lanternas invadem levemente a tampa do porta-malas e tem algo que faz lembrar o Nissan Kicks. O para-choque ganhou volume e a estranha quina do porta-malas sumiu.
Por dentro, mais do mesmo. O estilo não é tão moderno quanto lá fora, fazendo parte de uma linguagem visual mais antiga. Ainda assim, o acabamento é primoroso, com peças macias para todo lado e bem montadas. Bem acima de Corolla Cross e Taos, mas ainda faltando bem pouco para o nível de 3008 e Compass.
A posição de dirigir é mais alta do que eu gostaria pela pegada visual esportiva do Eclipse Cross. Mas o espaço traseiro é bom para os joelhos, só que acanhado no teto. Eu com meus 1,87 m de altura, raspo a cabeça no teto com facilidade. Já o porta-malas com 473 litros é largo e amplo, mas um pouco raso e com um significativo degrau em relação ao final da tampa do carro.
Rodar tipo premium
Ao volante o que mais chama atenção no Mitsubishi Eclipse Cross é a qualidade de rodagem. Ele anda liso, silencioso e com excelente isolamento acústico e de imperfeições do asfalto. A suspensão foi bem trabalhada para lidar com impactos da via, mesmo os mais severos, sem transmitir vibrações ou desconforto aos passageiros. Até quando é judiada.
Nessa tocada temos o motor 1.5 quatro cilindros turbo a gasolina. Com 165 cv e 25,5 kgfm de torque tem números intermediários entre Jeep Compass e VW Taos. A entrega também segue nessa tocada, sendo suficiente para nem passar perto a sensação de carro manco, ao mesmo tempo em que ele não tão espertinho quanto o modelo da Volkswagen.
É suficiente, por assim dizer. A vantagem é um consumo comedido de 10,2 km/l na cidade e 11,6 km/l na estrada. Para chegar a esses números, a transmissão CVT com oito marchas simuladas tenta jogar a rotação para baixo a todo tempo. Tirou o pé do acelerador e o Eclipse Cross desesperadamente joga o conta-giros para baixo.
Em acelerações, causa o efeito enceradeira com ponteiro colado no limite de giro enquanto o Eclipse Cross ganha velocidade. Ao menos ele verdadeiramente anda, ao contrário do que fazem alguns outros modelos com esse mesmo tipo de câmbio. Mas onde o Mitsubishi se destaca é nas curvas.
Neutralidade até demais
A suspensão neutra em rodagem se mostra bem preparada para as curvas mais fortes, mantendo a carroceria no lugar. Auxiliada pela tração inteligente nas quatro rodas, o Eclipse Cross até parece um hatch grande em estradas mais sinuosas.
A direção rápida ajuda nisso, pena ter um inexplicável centro morto com leveza excessiva e perigosa na estrada que exige ficar movimentando o volante em altas velocidades. Ela também é bem anestesiada, não passando nada do que ocorre no asfalto para o motorista. É ótimo para quem busca conforto, mas ruim para os que estão em busca de uma condução esportiva.
Itens de série com uma falta
Por R$ 221.990, a versão topo de linha HPE-S oferece o que se espera da categoria: faróis full-LED com facho alto automático, freio de estacionamento eletrônico, teto solar, frenagem autônoma de emergência, alerta de ponto cego, alerta de manutenção em faixa, piloto automático adaptativo e chave presencial. O preço sobe para R$ 232.990 se optar pela tração nas quatro rodas como a unidade testada.
O piloto automático não estava muito bem calibrado e ficava em uma distancia desnecessariamente longa do carro à frente, mesmo no modo mais curto. Além disso, o alerta de mudança de faixa não intervém nos freios ou volante para corrigir a trajetória do carro, algo que outros modelos fazem.
Veredicto
Entre as alternativas ao Jeep Compass, o Mitsubishi Eclipse Cross finalmente se destaca pelo visual inegavelmente bem acertado e pela condução divertida como de um hatch grande. O preço, que antes era um impeditivo para o seu sucesso, ainda está mais alto que a média da categoria, mas não tão mais longe quanto antes.
Acabamento bem feito e lista de itens de série bem montada são também outros destaques. Mas para conseguir um lugar ao sol, definitivamente, merecia uma direção mais bem acertada e um pouquinho mais de potência. A renovação finalmente tornou ele um produto atraente na categoria e, definitivamente, o SUV mais legal da Mitsubishi.
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