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Mercedes Classe C é o Corolla do segmento de luxo | Avaliação

Tal qual o Toyota Corolla, Mercedes-Benz Classe C é cheio de qualidade, poucos defeitos, mas nada muito extraordinário, a não ser o consumo

Mercedes-Benz C200 AMG Line [Auto+ / João Brigato]
Mercedes-Benz C200 AMG Line [Auto+ / João Brigato]

Existem alguns carros que as montadoras não podem errar de maneira alguma. A Porsche nunca pode deslizar com o 911, assim como a Toyota não é permitida baixar a bola com a Hilux. O mesmo acontece com Mercedes-Benz Classe C e BMW Série 3. Essa dupla é representante fortíssima de suas montadoras e também da indústria alemã.

São sinônimos de diversão ao volante, luxo na medida certa e tração traseira. Só que de uns anos para cá, especialmente após apostar na produção nacional, o BMW Série 3 tem reinado absoluto no mercado de luxo brasileiro. Com isso, deixou o Mercedes-Benz Classe C em segundo lugar. Mas a nova geração joga pela estabilidade, não para a liderança.

O público da Mercedes-Benz é muito mais tradicional e tradicionalista que o da BMW. Por isso, a marca da estrela visa agradar aos seus clientes fieis ao invés de tentar abocanhar novos consumidores. E nisso, o Classe C desenvolveu um complexo de Toyota Corolla: não é o melhor da categoria, mas não tem praticamente defeito algum que jogue contra.

Mercedes-Benz C200 AMG Line [Auto+ / João Brigato]
Mercedes-Benz C200 AMG Line [Auto+ / João Brigato]

Menos é mais

Para esse segmento de mais volume, a Mercedes-Benz escalou o C200 AMG Line para o Brasil. Por R$ 367.900, ele é mais caro que o Série 3 nas configurações 320i e que o Audi A4. Além disso, não conta com mais de uma versão com o motor de entrada. Isso se dá por conta da estratégia da marca de ficar sempre acima de Audi e BMW.

Só que o Classe C traz uma abordagem diferente de motor. Ao invés de um 2.0 quatro cilindro turbo como seus rivais, aposta no 1.5 quatro cilindros turbo ligado a um sistema semi-híbrido (ou híbrido leve ou MHEV). São 204 cv e 30,6 kgfm de torque, que fazem dele mais potente que o Série 3 e empatado com o A4, que também é semi-híbrido. 

Mercedes-Benz Classe C [Auto+ / João Brigato]
Mercedes-Benz Classe C [Auto+ / João Brigato]

Só que, por pesar praticamente 200 kg a mais que os rivais, o Classe C é mais lento: pede 7,3 segundos para chegar aos 100 km/h contra 7,1 segundos de Série 3 e A4. E isso é sentido no dia a dia. O Mercedes não é um carro lento, mas é mais vagaroso do que se espera de um modelo de luxo com tração traseira. 

Acelerações são apenas ok, retomadas também. E, diferentemente do BMW, ele não é muito ávido a ficar em altas velocidades. Boa parte disso se deve ao câmbio automático de nove marchas. Da sétima em diante, as marchas servem só para derrubar o giro do motor e o consumo. Com isso, uma retomada demora, porque é preciso o câmbio acordar.

Mercedes-Benz Classe C [Auto+ / João Brigato]
Mercedes-Benz Classe C [Auto+ / João Brigato]

Mas há uma vantagem gigantesca nisso: o consumo. Oficialmente a Mercedes-Benz divulga 11,1 km/l na cidade e 13,9 km/l na estrada. Mas o C200 faz bem mais do que isso. Durante uma semana de testes com 800 km rodados, o sedã entregou 16,7 km/l na estrada e 12 km/l na cidade. O sistema semi-híbrido ajuda, mas o 1.5 que é a grande estrela.

Classe chique

Se, fora o consumo, os números não impressionam, saiba que o Classe C é o rei da suavidade. É um carro extremamente comportado, linear e quieto. O motor não invade a cabine de maneira alguma, se fazendo presente só e somente em acelerações mais fortes, mas em um ronco tão sutil que parece pedir licença para entrar.

Mercedes-Benz Classe C [Auto+ / João Brigato]
Mercedes-Benz Classe C [Auto+ / João Brigato]

A suspensão vai na mesma pegada, mantendo a carroceria sólida e no lugar em rodovias, ao mesmo tempo em que absorve bem as irregularidades do asfalto de queijo suíço presente no Brasil. É macio no limite aceitável para um carro alemão, vale notar. Já a direção, é bem firme e pende para o lado pesado, mas reage rápido e entrega bom feeling.

Entre as marcas de luxo, a Mercedes-Benz é a que faz os melhores sistemas de auxílio à condução. O piloto automático adaptativo funciona de maneira linear e sem surpresas, mas a frenagem autônoma de emergência e os sensores de estacionamento são exagerados e alarmistas demais, beirando o irritante. 

Mercedes-Benz Classe C [Auto+ / João Brigato]
Mercedes-Benz C200 [Auto+ / João Brigato]

O sedã ainda conta com sistema de manutenção em faixa com intervenções sutis no volante e que vibra a direção quando invade a faixa oposta. Há ainda estacionamento autônomo e um belíssimo item de conveniência: ajuste automático do banco. Não estou falando da regulagem elétrica padrão, mas sim de algo a mais.

Na central multimídia, o C200 permite que o motorista marque sua altura. Com essa informação, ele ajusta automaticamente o banco e o volante (que também tem ajuste elétrico) para a posição perfeita. Testei o recurso com motoristas de diversos portes e ele não falhou uma vez em achar o local perfeito para dirigir.

Mercedes-Benz Classe C [Auto+ / João Brigato]
Mercedes-Benz Classe C [Auto+ / João Brigato]

A lista de itens de série ainda engloba itens como faróis full-LED com facho alto automático, ar-condicionado digital de duas zonas, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, painel digital, teto solar, chave presencial, monitoramento de pressão dos pneus, bancos dianteiros com ajuste elétrico com memória e controle de tração e estabilidade.

Festa do LED

O exterior da nova geração do Mercedes-Benz Classe C parece uma evolução do modelo anterior. Com muitas linhas parecidas com o Classe S, ele manteve uma fórmula clássica para acertar. Tem como sua maior ousadia a grade frontal com pontos cromados em forma da estrela da Mercedes-Benz. Mas o interior foi revolucionário.

Mercedes-Benz Classe C [Auto+ / João Brigato]
Mercedes-Benz Classe C [Auto+ / João Brigato]

A cabine passou a adotar um estilo bem mais esportivo e moderno, com destaque para a enorme central multimídia vertical levemente inclinada para o motorista. A Mercedes sabe fazer uma bela central, fácil de mexer, com menus claros, rápida e sem grandes mistérios. 

Isso vale também para o painel de instrumentos totalmente digital, o qual foi simplificado no uso em relação ao Classe C antigo. Mas que agora é bem melhor de mexer, personalizar e visualizar, graças à tela de alta definição e os gráficos claros. Pena que alguém teve a péssima ideia de achar que comandos touch no volante seriam uma boa ideia.

Outro ponto é que o modelo foi pensado para agradar ao mercado chinês. Ou seja, tem tantos LEDs no interior que fica parecendo uma boate de cruzeiro. Por sorte, é possível configurar a cor e intensidade das luzes. Mas confesso que me assustei ao sair com o Classe C à noite a primeira vez quando ele estava com luzes azuis no máximo, antes de eu arrumar. 

Couro de cima e couro de baixo

Apesar do visual bastante vistoso, o acabamento deixou a desejar. A Mercedes-Benz usou um couro de excelente qualidade no painel, parte superior das portas e volante. Mas, o material usado na parte inferior das portas e nos bancos parece de Volkswagen ou Chevrolet, não de um Mercedes.

É uma qualidade muito inferior ao couro usado no BMW Série 3 e, até mesmo, em partes do interior do próprio C200. Além disso, há muito plástico duro brilhante que, apesar do belo efeito visual, é oco e parece se tornar fonte futura de ruído. Ainda assim, é um acabamento melhor do que o encontrado no Audi A4.

O espaço interno é apenas bom. Com o banco da frente na minha posição (sou alto, tenho 1,87 m de altura), posso me sentar confortavelmente no banco traseiro. Mas eu fico no limite: cabeça raspa levemente no teto e o joelho só tem dois dedos de folga. Por conta do túnel central, o passageiro no assento meio é algo impossível de acontecer. 

[Auto+ / João Brigato]
[Auto+ / João Brigato]

Porta-malas de 455 litros é muito bom e cheio de recursos legais. Os bancos traseiros podem ser dobrados eletricamente diretamente pelo porta-malas através de dois botões. Além disso, ele tem uma cesta de supermercado escondida debaixo do tampão, a qual me salvou durante a compra do mês de gastar dinheiro com sacolas (sou mão de vaca, confesso). 

Veredicto

Confortável e econômico, o Mercedes-Benz Classe C aposta na manutenção de seu legado e em um status a mais que a marca da estrela sempre teve. Ainda que tenha alguns deslizes (como no acabamento), eles são pequenos perto de suas qualidades verdadeiras que transparecem em uma primeira volta. É como um Toyota Corolla: uma compra sem erro.

[Auto+ / João Brigato]
[Auto+ / João Brigato]

Só que o grande problema não é exatamente ele ou dele. É que o BMW Série 3 existe. E o rival da Bavária é mais barato, tem mais opções de versões, anda mais e é melhor do que ele em quase tudo.  Menos em consumo. Aí para bater o C200 nesse quesito, só um híbrido de verdade. 

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