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Jeep Commander flex: é mais e menos que o irmão Compass | Avaliação

Maior e mais luxuoso que o Compass, mas menos impactante e bem comportado com o motor flex: esse é o Jeep Commander

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Jeep Commander Overland Flex [Auto+ / João Brigato]

O Jeep Commander é um grande orgulho para a Stellantis do Brasil. Afinal, foi o primeiro projeto da marca norte-americana desenvolvido no nosso país e pensado para um segmento que ainda vai crescer muito nos próximos anos. Hoje quem domina é o CAOA Chery Tiggo 8, mas a Jeep quer a liderança.

Para isso, partiu de um projeto muito bem consagrado, o Compass, criando um irmão maior, mais refinado e dinamicamente totalmente diferente dele. Chamar de Grand Compass é maldade, ainda que eles compartilhem muitos elementos. Mas a comparação é inevitável e o Commander mostra que ele é mais que o Compass e menos que ele ao mesmo tempo.

Para entender melhor qual é a do Jeep Commander, avaliei a versão Overland Flex, que promete ser a mais vendida da gama. Por ele, a Stellantis cobra R$ 239.990 e não há opcionais com custo extra: pintura de qualquer tipo ou cor do interior não são cobrados pela marca norte-americana.

Jeep Commander Overland Flex [Auto+ / João Brigato]
Jeep Commander Overland Flex [Auto+ / João Brigato]

Porte, peso, pisada

Quando Renegade, Compass e Toro ainda usavam motores flex aspirados, uma crítica a eles era unânime: eram fracos e beberrões. Isso tudo se resolveu com a estreia do motor 1.3 T270 quatro cilindros turbo flex. Ok, consumo nem tanto, mas para o porte dos modelos, está em um nível bem aceitável.

Com 185 cv e 27,5 kgfm de torque, esse mesmo 1.3 turbo foi escalado para o Commander e parecia dar conta do recado. O problema é que o SUV médio espichado tem 1.715 kg registrados na balança. O que faz dele um carro muito pesado e que se faz sentir pelo motor. Antes dos 2.500 rpm, o Jeep não tem fôlego.

Jeep Commander Overland Flex [Auto+ / João Brigato]
Jeep Commander Overland Flex [Auto+ / João Brigato]
A situação mais crítica foi ao sair parado de uma subida em direção a uma rotatória. Uma manobra que exige velocidade e bastante do torque do carro. O Commander se arrastou antes do conta-giros subir e ele verdadeiramente embalar. Acima desse regime, no entanto, o 1.3 entrega mais vivacidade e um ronco interessante. Mas o consumo ficou alto: média de 7,3 km/l com etanol com trechos 60% estrada.

Mas ao colocar sete pessoas dentro, novamente ele sente o peso (literalmente). É preciso pé mais fundo no acelerador e mais trabalho do câmbio automático de seis marchas para fazer o SUV deslanchar. É um tipo de problema que seu principal rival, o CAOA Chery Tiggo 8, não sofre com o motor 1.6 turbo que tem praticamente os mesmos números de potência e torque.

Jeep Commander Overland Flex [Auto+ / João Brigato]
Jeep Commander Overland Flex [Auto+ / João Brigato]
Na estrada, mesmo vazio, ele fica alternando entre quarta, quinta e sexta marcha para se manter em velocidade de cruzeiro. Por sorte, as trocas são tão suaves e o isolamento acústico é tão bem feito que você mal notará o trabalho da transmissão. É um carro que verdadeiramente anda na sobriedade de um modelo de luxo.

Tapetão

Um item em que a Stellantis do Brasil é mestre é em acerto de suspensão. Os modelos da Fiat e da Jeep geralmente se destacam muito nesse quesito e não poderia ser diferente com o Commander. Ele é nitidamente macio, mas tem conjunto robusto que encara a buraqueira e até uma estrada de terra como se andasse em um tapete persa recém penteado.

Jeep Commander Overland Flex [Auto+ / João Brigato]
Jeep Commander Overland Flex [Auto+ / João Brigato]
Por conta dos 4,76 m de comprimento, 1,68 m de altura e 1,85 m de largura, ele balança um pouco em tocadas mais fortes. Mas nada grave para um modelo desse porte. Aliás, o Commander vai muito bem nas curvas, é um SUV que tem chão como dificilmente outros têm. Isso sem sacrificar o conforto e a robustez que se espera de um Jeep.

Só não se empolgue muito com curvas fortes por conta do controle de tração e estabilidade. Em curvas mais aceleradas, é nítido que o Commander não chegou ao limite, nem mesmo seus pneus. Mas a eletrônica entra em ação de maneira muito brusca e corta toda força para evitar que o motorista faça algum tipo de barbeiragem.

Jeep Commander Overland Flex [Auto+ / João Brigato]
Jeep Commander Overland Flex [Auto+ / João Brigato]
Outro elemento intruso é o sistema de manutenção em faixa. Ele é exagerado e corrige o volante com socos fortes, não permitindo ficar fora do centro da faixa – problema compartilhado com a Fiat Toro, mas não com o Compass. Os sensores de estacionamento são exagerados a ponto de disparar por conta de uma calçada mais alta ao parar em um sinal.

Já a direção, é calibrada na medida. Pende mais para o lado da leveza, especialmente nas manobras, mas é rápida e tem peso correto em altas velocidades. Destaque ainda vai para o ótimo isolamento acústico que torna a cabine do Commander um santuário do silêncio.

Jeep Commander Overland Flex [Auto+ / João Brigato]
Jeep Commander Overland Flex [Auto+ / João Brigato]

No ponto

Onde o Commander mais agradará aos olhos e mãos será no interior. A cabine é verdadeiramente sofisticada e chega quase (ênfase no quase) no nível dos carros premium. Encaixes bem feitos, materiais de qualidade e visual moderno compõem a cabine do SUV de sete lugares.

Ela é praticamente idêntica à do Compass, salvo o console central um pouco mais largo com descansa-braço com o inscrito Jeep 1941. A faixa de suede no painel traz sofisticação junto dos elementos em cromado e da textura na parte inferior. Bancos com costuras tipo diamante ajudam ainda mais nessa sensação de refinamento.

O motorista tem à disposição uma ótima central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio. O sistema é rápido e fácil de usar, além de contar com comandos de voz e até Alexa. Já o painel de instrumentos totalmente digital tem película acetinada para evitar reflexos do sol e permite boa personalização dos elementos.

Atrás, espaço para dois adultos na fileira do meio é bom. Há bastante visão do teto solar panorâmico e também área para cabeça e ombros. Os visitantes são recebidos por ar-condicionado com comandos individuais. Mas quem se senta no meio tem um assento alto, duro e inexplicavelmente de outra cor.

Há possibilidade de mudar a posição dos bancos que correm sobre trilhos e ajustar a inclinação do encosto. Já a fileira do fundo é surpreendentemente espaçosa para os pés, área que geralmente não recebe atenção. Espaço para as pernas é apenas ok, mas os braços não são bem recebidos pelas caixas de rodas altas e com parte interna inclinada.

Ao menos há entrada USB e porta-copos para a turma do fundão. Sem os bancos armados, o porta-malas carrega bons 661 litros. Já com eles em uso, são 233 litros – suficiente para algumas bagagens. Na versão Overland, ainda há a facilidade da inclusão de porta-malas com abertura elétrica.

Acima do Limited

Pela primeira vez, um SUV da Jeep produzido no Brasil tem uma versão mais sofisticada que a Limited. Ainda que a Série S do Compass atue nesse limiar, ela não passa de uma Limited com todos os opcionais. Trazendo o nome Overland para o Commander trouxe consigo uma generosa lista de itens de série.

Ele conta com faróis full-LED com acendimento automático e luz alta automática, monitoramento de pressão dos pneus (que foi bastante útil durante a semana de teste para identificar um pneu furado), assistente de estacionamento, câmera de ré, park assist, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, além de frenagem autônoma de emergência.

Traz ainda piloto automático adaptativo, chave presencial com partida remota, vidros elétricos nas quatro portas, ar-condicionado digital de duas zonas, carregador de celular por indução, volante com ajuste de altura e profundidade, teto solar, indicador de fadiga, alerta de tráfego cruzado, freio de estacionamento eletrônico e start-stop.

Veredicto

O Commander era o que faltava para a Jeep no Brasil. Ele é um passo além do Compass e uma ponte entre a linha de modelos nacionais e importados da marca. Além disso, apresenta a versatilidade dos sete lugares que tende a ser moda por aqui nos próximos anos. Preço bem acertado e interior sofisticado são seus grandes destaques.

[Auto+ / João Brigato]
[Auto+ / João Brigato]
A grande questão é que ele é menos impactante e não tão a escolha unânime como o Compass na sua categoria. Por aqui, o CAOA Chery Tiggo 8 apresenta conjunto tão bom quanto, mais prazer ao dirigir e ainda por menos. No caso do Commander, o motor flex é fraco para ele e os auxílios eletrônicos de segurança exageradamente intrusivos, o tornam menos prazeroso que o Compass.

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