É o fim de uma era. A partir de 2025, a Jaguar não mais venderá carros a combustão no mundo. Com isso, seu legado de 75 anos produzindo esportivos, como o F-Type, chegará ao fim. Para celebrar essa história, a JLR trouxe só 12 unidades do Jaguar F-Type 75 ao Brasil e uma delas está na frota de imprensa da marca, a qual pude dirigir.
Por R$ 612.977, ele é o mais caro de toda a gama e é oferecido no nosso país só e somente na carroceria conversível com pintura Giola Green, acabamentos escurecidos, rodas de liga-leve pretas de 20 polegadas e interior com couro caramelo. Lá fora há como personalizá-lo, enquanto por aqui o pacote é fechado.
E não há problema algum nisso, afinal, a escolha de tonalidades da Jaguar para o nosso país, foi bastante feliz. O verde tem um certo tom de esmeralda que dá um toque especial ao modelo, enquanto o interior é chamativo e elegantíssimo. Combine isso aos detalhes em preto pela carroceria e ao já belo visual do F-Type que terá a combinação perfeita.
E o V8, hein?
Só que a grande questão é que todo o legado de 75 anos da Jaguar fazendo esportivos não é tão honrada pelo que o F-Type tem debaixo do capô. O conversível traz motor 2.0 quatro cilindros turbo de 300 cv e 40,8 kgfm de torque. É exatamente o mesmo conjunto que está presente nos SUVs da marca britânica e em um monte de Land Rover.
Pode parecer hipocrisia dizer que 300 cv é pouco, visto o tanto que me diverti com os 297 cv do Honda Civic Type-R. Mas dada a proposta do F-Type, é pouco. Lá fora ele conta com opção de motor V6 e V8, sendo que esse último é cultuado pelo barulho absurdo que faz e por ser um esportivo um tanto quanto incontrolavelmente divertido.
Ele pede 5,9 segundos para chegar aos 100 km/h, mas por ser um carro baixo e bem esportivo, a sensação é de maior lentidão. Ele não te gruda nos bancos como o esperado, nem acelera forte ao ponto de assustar o passageiro do lado. O escapamento, mesmo em modo Sport, ronca baixo e está longe do escândalo até que uma Ram Rampage R/T faz.
Toda a questão da experiência esportiva em um carro como o F-Type está intimamente ligada à potência farta do motor e o barulho desnecessário (mas legal) que só combina com um esportivo. Mas ele não tem nenhum dos dois. É forte o suficiente para não ser manco e não passar vergonha frente a um SUV compacto turbinado. Mas só.
Esportivo inglês
Por conta de suas dimensões e maneira com a qual foi construído, o Jaguar F-Type te pede alguns quilômetros de adaptação antes de uma tocada mais forte. São 4,47 m de comprimento, ou seja, a mesma coisa que um Chevrolet Onix Plus. Só que a diferença é que há um gigantesco capô e seu traseiro está a milímetros da roda traseira.
Ou seja, você se senta mais na parte traseira do carro do que no meio ou à frente, como é o comum. Isso faz com que você se conecte diretamente com as rodas traseiras, sentindo cada dobra do pneu ou possibilidade de desgarrar. Entendido esse conceito, o F-Type entrega uma dinâmica bem purista, com traseira alegre e diâmetro de giro curto.
Ele exige pouco trabalho de direção para mudar a trajetória, mostrando uma direção bem direta e muito firme. Chega até a ser pesada, mas é o que combina com sua proposta. Nas curvas, o F-Type perde a traseira com certa facilidade, pedindo um pouco mais de braço nas horas em que a tocada fica mais apimentada. Não é um carro para iniciantes.
Nessa pegada, temos a suspensão bem dura. Atropele uma joaninha na rua e sentirá diretamente na sua coluna. O F-Type não perdoa qualquer tipo de imperfeição no asfalto, enquanto o fato de ser baixo e bicudo faz com que sua frente seja lixada por qualquer saída de garagem ou calçada um pouco mais alta.
Sinais de vida
Compartilhada com outros modelos da Jaguar, a transmissão automática do tipo tradicional com oito marchas vive momentos distintos na condução. Temos um câmbio de reações rápidas e trocas nitidamente sentidas. Mas em um carro que gosta de deixar a rotação baixa e trocar sempre a marcha para manter o consumo baixo.
Oficialmente, a Jaguar declara 7,5 km/l na cidade e 9,7 km/l na estrada. Contudo, na prática as coisas mudam. Durante nossos testes, ele cravou 6,3 km/l na cidade e 8,9 km/l na estrada – sempre com o ar-condicionado ligado e a capota fechada. Com o teto aberto, o consumo piora bastante por conta da aerodinâmica.
Esmero britânico
Um dos pontos que chama atenção nos carros da Jaguar é o toque a mais de sofisticação, especialmente nos detalhes. O painel é todo forrado em couro macio, variando entre os tons de marrom e preto. Só na porção central temos plástico, mas texturizado e de boa qualidade. No modelo 75, detalhes em preto brilhante tomam conta da cabine.
Na última atualização, o esportivo recebeu painel de instrumentos totalmente digital de ótima qualidade e personalizável. Dá até para deixar o mapa em uma das laterais do painel. Temos ainda central multimídia atualizada com uso facilitado e boa definição. A película que permite usá-la mesmo de capota aberta, contudo, deixa a tela mais opaca e sem vida.
Todos os comandos são fáceis de serem alcançados e estão à mão, especialmente porque a cabine é pequena. O único pênalti é o fato de o botão do freio de estacionamento e o do teto serem iguais e muito próximos – um motorista distraído pode sem querer puxar o freio ao invés de fechar a capota.
Por ser um esportivo, conforto não é a palavra de ordem, por isso os bancos são duros. Ficar atrás do volante do F-Type por horas te renderá uma dor nas costas (como ocorreu comigo preso na Marginal Pinheiros por duas horas por conta de um trânsito absurdo). Há regulagem elétrica e o couro é de primeira, mas não salva a coluna.
Lá atrás são 233 litros de capacidade no porta-malas, 33 litros a mais que um Fiat Mobi e com espaço que não fica comprometido pelo teto recolhido. É um porta-malas fundo e bem usável. Enquanto o interior tem diversos nichos e espaços para cacarecos espalhados (menos um lugar específico para o celular).
Pacote Brasil
Sendo um Jaguar, especialmente em edição de despedida, o F-Type vem bem completo. Mas, não traz piloto automático adaptativo, vale ressaltar. Na parte de auxílios a condução temos sistema de manutenção em faixa, frenagem autônoma de emergência, faróis full-LED adaptativos com acendimento automático e alerta de ponto cego.
Ele ainda traz de série abertura e fechamento elétrico do teto até 50 km/h, chave presencial, volante com aquecimento, volante com ajuste elétrico de altura e profundidade, start-stop, retrovisores fotocrômicos, quatro airbags, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera de ré e central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay.
Veredicto
O Jaguar F-Type reúne condução clássica de um esportivo britânico com o nível de refinamento que nenhum de seus antecessores teve. Por isso é tão triste ver um carro tão belo como ele se despedir depois de tantas décadas de história. Especialmente dando tchau com um motor 2.0 turbo que não honra todo o legado que ele mesmo construiu.
Leve para casa se quer um futuro colecionável na garagem e uma verdadeira obra de arte sobre rodas que tem interior mais luxuoso que qualquer hotel 5 estrelas que já esteve. Mas, pelos R$ 612.977 cobrados pela Jaguar por ele, fica difícil não pensar que o BMW Série 4 conversível está logo ali por quase R$ 200 mil a menos com mais espaço e tocada mais interessante.
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