“Falem bem ou falem mal, mas falem de mim”. Esse clichê ditado popular talvez nunca tenha sido tão bem aplicado no mundo automotivo como ultimamente tem acontecido com Hyundai e BMW. Sempre que uma dessas marcas lança um novo carro, elas movimentam discussões acaloradas nas redes sociais.
Repare que a grande maioria dos comentários sempre julga aquele carro como feio. E logo em seguida um debate começa com defensores fervorosos da marca ou até mesmo pessoas que se sentiram agradadas por aquele design. Mas há uma grande questão: Hyundai e BMW estão certíssimas em lançar carros feios.
A lógica das redes
Existe uma explicação muito lógica para isso e em diversos fatores. Como comecei a falar das redes sociais, vou começar por elas. Todos esses ambientes virtuais entendem que, quando mais comentário um post possui, maior o seu engajamento. Portanto, é um conteúdo relevante e que deve ser levado a mais pessoas.
Isso se torna uma bola de neve com cada vez mais novos usuários visualizando aquele post. Meu perfil no Instagram é prova viva disso, onde as fotos mais curtidas são as do Hyundai Creta – justamente porque os usuários se digladiam nos comentários. A maioria xingando o SUV coreano, mas alguns o defendendo. E para uma marca, quanto mais ela aparece, melhor.
Vira notícia
As redes sociais acabam por se tornar somente a ponta do iceberg. Porque como aquele carro se torna muito falado nas redes sociais, também se torna pauta nos sites de notícia e canais no YouTube. Pessoas querem saber mais sobre ele, entender que tipo de carro é e o porquê de tantas críticas.
Na última semana, o BMW XM Concept virou notícia em quase todos os portais por conta da exagerada grade frontal. Se fosse um carro menos ousado e até esquisito, passaria batido por muita gente. E isso também ajuda as montadoras a ganhar mais espaço e atingir novos públicos.
Questão de afirmação
Uma marca não vive de redes sociais e de notícias para vender seus carros, ainda que elas ajudem a alcançar novos públicos. Só que o carro é um produto passional, ainda que tenha seu lado racional. As pessoas querem transmitir uma imagem ao andar com aquele carro nas ruas. E quem se parece com os demais não se destaca.
É justamente por isso que o Hyundai Creta é do jeito que é e que os últimos BMW têm apresentado bizarras grades gigantescas. Tomemos como exemplo o SUV compacto da Hyundai. Hoje o seu segmento é povoado de modelos, chegando a 18 na última contagem. Ser diferente acaba por se tornar uma obrigação, afinal é preciso destaque.
O modelo antigo era bonito sim, mas com visual tão genérico que poderia ser vendido por qualquer outra montadora. Para tanto, existem mais SUVs compactos com fórmula estilística bastante semelhante e que mal se diferenciam. Na realidade, a categoria hoje tem o Hyundai Creta, Jeep Renegade e Volkswagen Nivus como os únicos realmente fora do padrão.
É quase como nos anos 1980, onde todos os carros médios eram praticamente iguais, até que uma marca tentou fazer algo diferente e fora da casinha. A Hyundai foi e fez isso com o Creta. Mas também lá fora com o Palisade, o novo Tucson e até como Kona. No caso do Kona e do Creta, perceberam que erraram um pouco a mão e já os melhoraram nas reestilizações.
“Eu sei que as pessoas odeiam”
Caso da BMW é ainda mais complicado. Dentro do segmento de luxo, onde a tríade alemã domina é preciso muito mais para se destacar. Os consumidores migram de uma marca para outra facilmente e a recente ameaça de marcas como a Genesis tem feito pressão sobre a BMW.
A marca alemã sabe que as pessoas estão odiando a nova grade frontal. Domagoj Dukec, chefe de design da marca alemã em uma entrevista à revista Top Gear justifica: “você pode criar algo lindo, temos carros que são só bonitos. Mas existem alguns consumidores que se você quiser alcança-los, precisa se destacar, criar algo fora da caixa”.
Exatamente isso que anda sendo feito pela marca alemã. O SUV XM poderia ser somente uma interpretação do Porsche Cayenne por parte da BMW. Mas não. Ele é ousado, diferente, tem grade frontal enorme, dois logotipos no vidro traseiro e traseira de cupê. Ou no caso do iX. Por que alguém compraria um SUV elétrico da BMW quando existe um Tesla?
Justamente por conta de seu visual totalmente fora do lugar comum. Existem modelos que vão vender bem independentemente de seu estilo, como é o caso do M3. Ali existe a questão emblemática da marca e do legado do modelo. Ser feio, como ele é hoje, acaba sendo um ponto de destaque a mais.
Final das contas
Números não mentem. O Hyundai Creta tem vendido mais desde que a atual geração estreou, assim como aconteceu com o HB20. Já a BMW segue como a marca de luxo mais vendida do Brasil e de diversos lugares no mundo. Mesmo diante de tanta polêmica, os carros chamam atenção, o consumidor vê e gosta.
Principalmente por ter algo bem diferente do carro do vizinho. E pouco importa que o morador ao lado ache feio.
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