Deixando para trás o título de carro mais lento do Brasil, a Ford Ranger aposentou o já cansado motor 2.2 quatro cilindros turbo diesel em favor do novo 2.0 quatro cilindros turbo. Depois de já ter experimentado a caminhonete média com motor V6, era hora de ver do que é capaz o novo propulsor quatro cilindros. E ele surpreendeu, pelo bem e pelo mal.

Debaixo do capô são entregues 170 cv e 41,3 kgfm de torque, uma diferença grande perante os 250 cv e 61,2 kgfm de torque do modelo V6. Ainda que nos números seja uma distância maior do que os 160 cv e 39,3 kgfm que a Ranger 2.2 tinha para a 3.2 de 200 cv e 47,9 kgfm, na prática a coisa muda.

Ex carro mais lento do Brasil

Antes da mudança de motor, a Ford Ranger era o carro mais lenta que hatches compactos com motor 1.0 ou subcompactos elétricos de baixo custo. O novo motor deu vida à picape, especialmente em giros baixos. A Ford liberou sua pista de testes em cenários bem inóspitos para colocar isso à prova.

Durante o off-road, lotado de lama, terrenos grudentos e superfícies difíceis, a Ranger 2.0 turbo não negou fôlego. Cumpriu as provas com a mesma desenvoltura da sua irmã V6, mostrando força mais do que suficiente para enfrentar os obstáculos que se mostravam à frente.

E não foi um caminho fácil: a Ranger teve de enfrentar lamaçal que testaram sua capacidade de imersão de 80 cm, além de rampas totalmente ensaboadas com terra encharcada. Em nenhum momento mostrou faltar torque no quatro cilindros turbo ou falta de valentia. Grande parte disso se deve ao bom trabalho da eletrônica junto da tração e do câmbio.

A Ford trabalhou bem na caixa automática de seis marchas para casar bem com o motor 2.0 turbo. Com isso, encontrou uma boa relação entre entrega de performance, com força em giro baixo e trocas suaves. É um conjunto que conversa bem e se entende. Além disso, toda eletrônica e a parrudez da tração 4×4 ajudam a picape a enfrentar o off-road.

No asfalto

Mas na hora de acelerar forte que a coisa muda. Enquanto a Ranger com motor V6 entrega performance animadora (mas não tão bruta quanto a Volkswagen Amarok), a 2.0 é apenas suficiente. Não te fará arregalar os olhos com as acelerações ou grudar no banco como um esportivo. Faz o que é necessário, não parece manca, mas não surpreende.

Em retomadas, vai apenas ok, mesmo com o câmbio reagindo rápido para fazer o motor encher com agilidade. Mas não espere por uma caminhonete estradeira que deixa muito sedã com ar de esportivo passando sufoco – isso é para a V6. Só que você não ficará mais atrás de um Fiat Mobi ou de um Renault Kwid no sinal como antes acontecia.

A vantagem do motor novo também é o consumo mais baixo. Oficialmente, a Ford declara que ela faz 10 km/l na cidade e 11,5 km/l na estrada na versão 4×4 automática. Vale lembrar que a Ranger 2.0 tem opção manual 4×4 na versão XL, enquanto a XLS oferece trações 4×2 ou 4×4, mas sempre automática de seis marchas (além da XLS V6).

Virada de jogo

Confesso que o interior da Ranger me surpreendeu verdadeiramente. Já havia tido um contato prolongado com a Limited com pacote, que apresenta telas enormes dentro, acabamento com materiais macios e algumas regalias. Ao ver a XL com para-choques preto e preço bem mais baixo, esperava menos. Só que não.

A Ford manteve o painel de instrumentos totalmente digital e a central multimídia vertical desde a versão de entrada básica. Claro que as telas são menores, mas a qualidade foi mantida e a usabilidade facilitada também. A central tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio, mas o carregador por indução só está presente na XLS.

Ford Ranger XLS 4x4 [divulgação] — Ford Ranger XLS 4×4 [divulgação]

O acabamento mantém a mesma qualidade das versões mais caras, exceto em alguns pontos. As portas não tem mais parte macia na porção superior, enquanto o painel é todo em plástico rígido e não há o segundo porta-luvas. Até o descanso de braço muda de acabamento e se transforma em uma superfície rígida com plástico duro.

Espaço interno é farto, especialmente na segunda fileira, onde a Ford Ranger é referência na categoria das caminhonetes médias. Na caçamba, ela leva 1.250 litros de carga, mas não tem protetor de caçamba, muito menos capota marítima – uma falha grave nessa categoria.

Veredicto

Considerando que o salto da Ranger XLS 4×4 (R$ 259.990) automática para a XLS V6 (R$ 279.990) automática é de R$ 20 mil, isso pode pesar no orçamento de muita gente. Mas, sinceramente, dilua o valor nas parcelas ou espere mais um pouco para levar a picape mais potente para casa. No final das contas, vai valer o sacrifício a mais.

A real é que o motor 2.0 turbo é só suficiente para a caminhonete média. Agora ela não passa mais vergonha como fazia com o 2.2 turbo de antigamente. Mas onde a Ranger mostra que é a melhor da categoria é com o motor V6.