Narcisa Tamborindeguy é um dos maiores memes brasileiros da atualidade. A socialite riquíssima tem seu jeito extrovertido e cativante, mas também cheia de excessos e que jamais passa despercebida por onde passa. Se Narcisa pudesse ser um carro, ela seria a Ford F-150. “Ai que loucura, ai que caçamba!”.
Narcisa e F-150 compartilham o mesmo amor pelo refinamento e pelo luxo, especialmente na versão topo de linha Platinum. Por R$ 519.990, a caminhonete grande provavelmente custa o mesmo que uma obra de arte que a socialite tem em seu apartamento de Copacabana. Mas não deve nada em refinamento para a residência da carioca.
Copacabana Palace
Assim como a Ram 1500 Limited, a Ford F-150 Platinum é verdadeiramente refinada. Apesar de pertencer a uma marca generalista, ela traz acabamento digno de modelos de luxo como Audi, BMW, Mercedes e Volvo. Há couro por toda parte mais alta do painel, enquanto elementos imitando aço e madeira decoram as outras partes da cabine.
Os bancos são revestidos em couro preto e contam com costuras e elementos em camurça bege. Vale ressaltar que o couro usado é de qualidade e com toque aveludado. No volante, logotipo prata da Ford e inscrição Platinum, que está presente também nos bancos e descanso de braço.
Mas o que mais impressiona na F-150 é a qualidade das telas. A central multimídia parece usar uma tela digna de um iPad dada a ótima resolução, profundidade e fidelidade de cores, além de brilho na medida. É rápida de usar, prática e cheia de recursos. Há Android Auto e Apple CarPlay sem fio, inclusive com possibilidade de esticar a área de exibição.
O painel de instrumentos digital segue pela mesma pegada. Conta com diversos recursos e informações úteis para o off-road e para o on-road. Há só de pontuar que os mostradores com números gigantes e sem ponteiros não combinam em nada com a vibe luxuosa e parruda da caminhonete. Parece algo feito para um carro elétrico ou um hatch moderninho.
Cobertura dupla
Na mesma proporção que a cabine da Ford F-150 Platinum é refinada, ela é enorme. Os bancos da frente parecem poltronas de sala de cinema premium e abraçam o corpo com conforto e uma quantidade enorme de regulagens. Inclusive, volante e pedais podem ser ajustados eletricamente. É impossível não achar a posição perfeita para dirigir.
No banco traseiro, o espaço é colossal. Mesmo se o motorista for alto como eu, que tenho 1,87 m de altura, consigo sentar com as pernas cruzadas no banco traseiro. O assento é mais baixo do que o da Ram 1500, obrigando as pernas a ficarem mais elevadas. Mas, ainda assim, é confortável.
A F-150 ainda é cheia de porta-objetos. Há espaço debaixo do banco traseiro que funciona quase como ótimo espaço de armazenamento interno e um console central tão grande que deve ter mais espaço que o porta-malas de um Fiat Mobi. Na caçamba, a capacidade é de 1.370 litros e 681 kg.
Mas destaque para a presença de um degrau retrátil e para a tampa com abertura e fechamento elétrico. Além disso, ela conta com tomada dentro da caçamba e também mais duas domésticas na cabine. A única falha imperdoável é um carro de meio milhão de reais não contar com uma mísera capota marítima como item de série.
Lista vip
Mais longa que a lista de convidados de uma festa da Narcisa, é a quantidade de itens de série que a F-150 Platinum tem. Ela traz faróis full-LED direcionais com acendimento automático e assistente de luz alta, alerta de ponto cego, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera 360°, chave presencial e estribo lateral elétrico.
Há ainda ar-condicionado digital de duas zonas, assistente de partida em rampa, assistente de manutenção em faixa, piloto automático adaptativo, monitoramento de pressão dos pneus, alerta de colisão frontal com frenagem autônoma de emergência, bancos dianteiros com aquecimento e resfriamento, banco traseiro com aquecimento e sete airbags.
Adicione à comprida lista mais itens como vidros elétricos nas quatro portas, retrovisores elétricos com aquecimento e antiofuscante, freio de estacionamento eletrônico, teto solar panorâmico, luz ambiente interna, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay, sistema de som Bang & Olufsen e carregador de celular por indução.
Ai que loucura
Além de todo luxo, algo que Narcisa Tamborindeguy e Ford F-150 têm em comum é o fato de serem espalhafatosas. Debaixo do capô, a caminhonete traz o mesmo motor Coyote 5.0 V8 do Mustang. Com 405 cv e 56,7 kgfm de torque, ele ronca tão alto quanto a socialite grita de sua janela enquanto joga ovo nos transeuntes da rua.
Mesmo pesando 2.517 kg, a F-150 dispara com o mesmo ímpeto de um hatch esportivo. São necessários 7,1 segundos para chegar aos 100 km/h. Ou seja, mais rápido do que um VW Polo GTS, que é um hatch esportivo. E suficientemente forte para fazer Narcisa gritar “ai que loucura”. Especialmente por conta do belíssimo ronco de Mustang.
É impressionante o que esse motor V8 a gasolina consegue fazer, mesmo em um carro de 5,88 m de comprimento, 2,08 m de largura e 1,96 m de altura. Parte do bom rendimento se deve à transmissão automática de dez marchas. Ela trabalha com reações muito rápidas e trocas totalmente imperceptíveis.
Das dez marchas, as sete primeiras de fato funcionam para fazer a picape ganhar força e velocidade. Já as três últimas baixam a rotação e fazem metade dos cilindros desligar para ronronar a 1.500 rpm em uma velocidade de 120 km/h. Isso deveria fazer o consumo baixar bem, mas não é o que acontece. São 6,3 km/l na cidade e 8,6 km/l na estrada.
Durante nossos testes, ela marcou média de 6,7 km/l com boa parte dos trechos rodados em estrada. Na cidade, era difícil que a F-150 fizesse mais de 5 km/l, enquanto na estrada, chegou a marcar 9 km/l em situações mais tranquilas. Por sorte, a piscina, quer dizer, o tanque, tem 136 litros de capacidade e garante uma alta autonomia.
Euro-americana
Um dos pontos mais interessantes da F-150 é que ela não nega suas raízes americanas, mas tem um certo tempero europeu que a Ford desenvolveu ao longo dos anos. Ou seja, ela é confortável como se espera de um carro da terra do Tio Sam, mas ainda assim tem certa firmeza de suspensão e peso de direção que são típicos do Velho Continente.
A direção, por exemplo, é melhor calibrada do que a da Ram 1500. Tem assistência elétrica e calibração perfeita. É leve para fazer as manobras algo um pouco mais fácil (algo complicado por conta de seu tamanho jamantônico). Mas, na hora de rodar, assume firmeza que dá mais confiança e controle, além de ser rápida a ponto de permitir fáceis manobras evasivas.
A suspensão é mais confortável do que a de uma picape média. Ou seja, pula, mas bem pouco. Ao mesmo tempo em que absorve com maestria os buracos e superfícies ruins. Andar em uma rua de paralelepípedo se torna um asfalto liso para a F-150. Enquanto os buracos são passados como se não existissem.
Na estrada, ela roda como uma pluma, se mantendo reta e estável o tempo todo, com leves flutuações como um transatlântico. É interessante notar que o isolamento acústico é de primeira, mantendo tudo que acontece lá fora do lado que deve ficar. Até mesmo a sinfonia do V8 é bem abafada, tirando um pouco da diversão.
Veredicto
Grande demais, espaçosa até mais do que o necessário, luxuosa para caramba e espalhafatosa, a Ford F-150 é a verdadeira personificação de Narcisa Tamborindeguy em formato de carro.
É o tipo de caminhonete que você não se cansa de dirigir e sempre vai se divertir a cada ida ao mercado. Quer seja pela diversão ao volante, ou por sempre passar perrengue para estacionar. Mas, não é exatamente o tipo de carro que o picapeiro tradicional vai querer.
Afinal, tem pouca capacidade de carga na caçamba e não vem com motor diesel. Mas é o tipo de veículo que compradores de modelos de luxo vão apreciar. Afinal, reúne diversos atributos exigidos diretamente por esse mundo. Isso explica o porquê ela é o carro mais vendido dos EUA há décadas.
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