Entre as grandes transformações que o mundo automotivo vem sofrendo nos últimos tempos a maior de todas é a dominação dos SUVs. Os hatches médios e minivans morreram por conta dos SUVs compactos. Mas será que os sedãs também vão enfrentar uma baixa futura por conta dos SUVs cupê? O Fiat Fastback talvez seja a resposta disso.
A real é que a Fiat só teve relevância no segmento de sedãs médios com o Tempra. O Marea até vendeu bem, mas acabou se tornando meme mais tarde. Já o Linea nunca se posicionou bem no mercado e foi um fiasco. É nítido que a marca não quer investir mais nesse segmento, mas não significa que não quer atingir a faixa de preço onde o Toyota Corolla está.
Para isso, juntou dois elementos diferentes em um carro. Partiu do Pulse, o primeiro SUV compacto da Fiat produzido e desenvolvido no Brasil. Mas trouxe elementos visuais do conceito Fastback do Salão do Automóvel de 2018, onde ele ainda era derivado da Toro. O resultado é um belo SUV com porta-malas gigantesco que faz inveja até ao Cronos.
São 600 litros declarados pela Stellantis no método de medição que eles usam, mas no padrão VDA são 516 litros. Ou seja, entre os SUVs compactos (e até médios) não há ninguém que chegue perto dos números do Fastback. Além disso, a cobertura da tampa do porta-malas é bem prática e fácil de usar.
Mas o revés veio em espaço interno. O Fastback não recebe bem uma pessoa com mais de 1,80 m na traseira, a qual raspa a cabeça no teto e fica com pouco espaço para as pernas. Culpa do teto mais inclinado que sacrifica a praticidade e o espaço em nome do estilo. Mesmo com o banco com maior inclinação, é mais apertado que Pulse, Cronos e Argo.
Pulsos de herança
Por mais que a Fiat evite dizer que o Fastback é derivado do Pulse, isso não é algo pejorativo. Afinal, tomou como base um modelo bem acertado para atrair um tipo diferente de público. O Fastback usa a mesma base MLA, chapas dianteiras e parte do interior do SUV compacto de entrada da marca.
A dianteira tem como diferenciação o para-choque (o mesmo que estará no Pulse Abarth) e os faróis full-LED. No Pulse a seta não é de LED, enquanto no Fastback houve a integração com a luz diurna. O que muda de verdade é da coluna B para trás, por conta do perfil cupê. Mas preciso admitir, nenhuma foto até hoje fez justiça ao carro ao vivo.
Os flagras ou imagens de divulgação mostravam um carro bem mais pesado visualmente do que ele é de fato. Ainda que a traseira seja mais volumosa do que deveria para a frente e porte compacto do carro. Parece que a traseira nasceu para ser de um SUV da Toro, mas migrou para um derivado do Pulse. É bonito, mas o VW Nivus é mais harmonioso.
Por dentro, o Fastback ganha elementos escurecidos para dar mais sofisticação. Mas o console central alto faz toda diferença. Ele tem mais porta-objetos e freio de estacionamento eletrônico – é um toque de Jeep ao Fiat mais sofisticado da linha e algo que deveria estar no Pulse. Volante, central multimídia e painel, contudo, são os mesmos do irmão menor.
Veneno de escorpião
Nesse primeiro contato com o Fiat Fastback pudemos rodar somente com a versão topo de linha que tem nome maior do que o próprio carro: Limited Edition Powered by Abarth. É a única variante com motor 1.3 quatro cilindros turbo flex de 185 cv e 27,5 kgfm de torque. Exatamente o mesmo motor dos Jeep Renegade, Compass e Commander e da Fiat Toro.
A vantagem é que hoje é o carro mais leve a usar esse conjunto pareado com a transmissão automática de seis marchas. É interessante notar que esse 1.3 falta no Commander, fica justo no Compass, surpreende no Renegade e sobra no Fastback. Ele é um carro ágil, rápido e que acelera em medo de ser feliz. Chega aos 100 km/h em 8,1 segundos, segundo a Stellantis.
Para ser coerente com a pegada mais esportiva e o motor mais potente do que o usado pelo Pulse, o Fastback tem direção mais pesada que a do irmão. Na hora da manobra o esforço é o mesmo, porém ao ganhar velocidade, o Fastback em modo normal exige o mesmo esforço do Pulse em modo Sport. Já em Sport, o novato fica sutilmente mais firme.
A suspensão segue nessa tocada, com mais firmeza e melhor apetite para as curvas. Ele perdeu o jeito um pouco desengonçado que o Pulse tem, se comportando mais como um hatch grande. O lado off-road, porém, não foi esquecido. Enfrentamos trechos ruins com ele e o SUV não reclamou, deu fim de curso na suspensão ou deixou a cabine barulhenta.
Claro que não é um Jeep Renegade, mas enfrenta ruas ruins e estradas não pavimentadas melhor do que o Cronos faria ou que qualquer sedã médio. Além disso, surpreende o cuidado com isolamento acústico que a marca aplicou no SUV cupê – tanto para motor, quanto para suspensão e ruídos de vento.
O único ponto, porém, fica para a transmissão. Ela já mostra sinais de cansaço, ficando indecisa na hora das retomadas e demorando mais tempo do que deveria para fazer reduções. Tem trocas extremamente suaves, mas deve em agilidade por conta da idade do projeto. Não é ruim, vale pontuar, mas dentro da Stellantis (vulgo Peugeot e Citroën) existem câmbios de seis marchas mais inteligentes.
Veredicto
Cobrando R$ 149.990 pelo Fiat Fastback Limited Edition Powered by Abarth a Stellantis coloca seu modelo em uma sinuca de bico. Ele tenta tomar o lugar dos sedãs compactos caros demais e de alguns médios, ao mesmo tempo em que se mostra como uma alternativa mais urbana e até esportiva ao Jeep Renegade. Por fim, ainda tenta seduzir donos de Fiat Toro.
Bom de dirigir e com rodar refinado, ele pode ser um dos modelos mais vendidos da categoria se repetir o sucesso que o Pulse vem atingindo. A realidade é que ele tem potencial para o superar porque se diferencia mais do Argo do que seu irmão. Além disso, é um carro com ótimo porta-malas, apesar do escasso espaço interno.
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