Existe a Chery antes e depois da CAOA e agora vai existir a JAC antes e depois da Volkswagen. Se aos primeiros olhares a compra de 51% da marca chinesa por parte da alemã não parecia ter resultado em nada, o pequenino elétrico JAC E-JS1 provou justamente o contrário. E detalhe: ele é o carro elétrico mais barato do Brasil.
Por R$ 149.900, o JAC E-JS1 prova que nem sempre custar pouco quer dizer ter que se contentar com pouco (Hyundai HB20 Sense está aí para provar isso). Ele custa menos que o iEV20 e consegue parecer anos luz à frente do seu irmão que tenta se passar por um SUV. A JAC ainda não fala em expectativa de vendas para o modelo.
J2 evoluído
Para começar a entender o que é o E-JS1 é preciso buscar suas origens. Ele nasceu como JAC J2, recebeu motorização elétrica, depois ganhou visual aventureiro (e virou o iEV20) para só agora, com a mão da Volkswagen, se transformar nesse simpático hatch elétrico. Na China, ele nem é vendido como JAC.
Por lá, o E-JS1 se chama E10X e é vendido pela SOL. A marca foi criada por JAC e Volkswagen para vender carros elétricos baratos e, posteriormente, importar modelos da Seat. Os planos mudaram e ela se tornou praticamente um segundo braço da JAC, mas com modelos já desenvolvidos sobre o rigoroso olhar da Volks.
O resultado é o E-JS1. Antes de pilotar o simpático elétrico, dei uma volta rápida no antecessor iEV20, que segue em linha. E, caramba, que evolução! A base é a mesma, o motor elétrico e as baterias praticamente iguais, mas a condução é completamente diferente e o salto em qualidade construtiva da cabine é alarmante.
A cabine tem estilo divertido que contrasta peças em plástico preto, branco e verde. É um ambiente alegre e mais bem cuidado que o do antecessor. Os plásticos são bem feitos, sólidos e com boa montagem. As texturas são agradáveis e até mesmo o couro do volante e o tecido dos bancos são nitidamente mais refinados que qualquer outro JAC.
Ele traz painel de instrumentos digital bem pequeno, mas com informações necessárias. A tela tem definição apenas ok, o que contrasta com a central multimídia herdada do T60 / E-JS4. Aqui no Brasil ela terá integração com Android Auto e Apple CarPlay, o que será bem-vindo, visto a qualidade do sistema (mas que ainda é um tanto lento).
Ele traz os comandos do ar-condicionado conjugados à tela, mas são de acesso um tanto quanto complicado. Em especial na unidade avaliada que ainda trazia os comandos em chinês. Há ainda console central bastante alto e envolvente, que da certo refinamento para a cabine. De brinde, carregador de celular por indução.
Há, no entanto, algumas heranças do J2 no elétrico mais barato do Brasil. O volante não regula em profundidade, o que atrapalha na ergonomia. O banco não ajusta em altura e não há porta-luvas com tampa. Além disso, o porta-malas de 121 litros só é maior do que o de um Fiat Mobi.
Mas, como é um carro de origem chinesa, alguns componentes foram copiados. A manopla de câmbio na coluna, por exemplo, idêntica à da Mercedes-Benz. Já o comando do farol, é exatamente a mesma peça usada no Polo. Mas nas versões básicas do hatch compacto, ou seja, sem acabamento metalizado.
Tempero alemão
Na hora de dirigir, outra grande diferença. O iEV20 é molenga, com direção leve demais e um tanto quanto ruidoso. Já o JAC E-JS1 não. Ele tem suspensão mais firminha, típica Volkswagen. Ela copia bem o que se passa no asfalto e traz uma estabilidade interessante ao modelo de dimensões compactas.
Dá até para abusar um pouco nas curvas, especialmente por conta do centro de gravidade mais baixo. Mas não abuse muito, porque suas rodas e pneus são bem pequenos e gostam de cantar com força. Mas o fato de ter rodas bem nos extremos da carroceria, faz com que ele pareça um kart divertido de dirigir.
A direção continua leve, na mesma pegada do Volkswagen Taos. Ela é rápida, transmite algumas sensações do asfalto, mas é um tanto quanto anestesiada. Já a performance, não vai ser a que muita gente se acostumou com um carro elétrico. O JAC E-JS1 não é rápido, apenas suficiente.
São 62 cv, ou seja, menos que um hatch 1.0 aspirado. Mas o torque de 15,2 kgfm se aproxima de modelos turbinados três cilindros. Ele é ágil, acelera sem dificuldades e com o torque instantâneo do motor elétrico, ganha velocidade instantaneamente. A velocidade máxima de 110 km/h faz com que ele deixe claro seu perfil totalmente urbano.
Segundo a JAC, são 300 km de autonomia – algo mais do que suficiente para trajetos citadinos durante toda uma semana.
Veredicto
O carro elétrico mais barato do Brasil também é bastante divertido. O JAC E-JS1 trouxe de volta o temperinho esportivo que o J2 tinha no passado, mas com uma dose a mais de cuidado e refinamento mecânico herdado da Volkswagen. É um produto nitidamente anos luz à frente de outros modelos da marca chinesa hoje presentes no nosso país.
>>JAC T40: ótimo custo benefício, mas derrapa em bobeiras – Avaliação
>>Porsche Taycan redefine tudo que você sabe sobre carros | Avaliação
>>Renault Zoe evolui tanto que parece outro carro | Impressões