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VW up!: 10 anos do carro amado pelos donos e odiado pelo mercado

Em 2014, o VW up! estreava no Brasil para suceder o Gol G4, mas seu papel mudou diversas vezes ao longo dos anos

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Volkswagen up! TSI [divulgação]

O VW up! é um carro que mexe com o coração de duas pessoas do Auto+. Em maio de 2014, ainda em seus primeiros meses no Brasil, minha família comprou um Take up! vermelho flash, sendo o primeiro carro 0km em casa após cinco anos. Coincidentemente, o editor do site, João Brigato, também teve um up! em sua vida, mas o dele era turbo e mais completo que o meu.

Pergunte para nós dois, e aposto que para a maioria dos donos do up!, e a resposta será unânime: o carro é muito bom. Mesmo o meu sendo o 1.0 MSI aspirado, de 82 cv, nunca senti falta de força. O carrinho era ágil e estupidamente econômico, com uma posição de dirigir correta e uma aparência simpática, embora muitos não gostem do visual.

Nesta semana, me peguei pensando em meu up!, que vendi em 2018 com 50 mil km rodados e apenas revisões periódicas sendo feitas. E isso me lembrou que seu lançamento faz 10 anos em 2024. Por isso, resolvi relembrar como o subcompacto veio parar no Brasil, sua trajetória, e tentar entender o motivo de seu fracasso em vendas.

VW up! europeu [divulgação]
VW up! europeu [divulgação]

VW up! chega ao Brasil

A primeira vez que ouvi falar no up! foi em 2007. Naquele ano, a Volkswagen apresentou o conceito dele no Salão de Frankfurt, e a ideia inicial era de que o motor fosse traseiro. Ou seja, o plano da VW era ter um Fusca moderno. E para as massas, já que as gerações mais novas do besouro eram premium demais.

Após isso, diversos rumores apontavam que a marca alemã iria trazer o hatch para o Brasil. E, como sabemos, isso aconteceu, em 2014 e com pompa e circustância. Afinal, como não lembrar do comercial de lançamento com a mújsica Girls Just Wanna Have Fun, de Cyndi Lauper.

Porém, o up! made in Brazil era relativamente diferente do europeu. A VW entendeu que por aqui é comum só ter um carro para a família toda (foi meu caso), por isso a montadora aumentou o hatch em 6,5 centímetros.

Dessa forma, o up! brasileiro tinha 3,60 m de comprimento no lançamento, 1,64 m de largura e 1,50 m de altura. O entre-eixos era de 2,42 m. Por conta do aumento em relação ao europeu, o up! do Brasil tinha um pouco mais de espaço na traseira e no porta-malas de 285 litros, mas mesmo assim não era o carro mais espaçoso do mundo. E pudera, afinal era um subcompacto.

Se faltava espaço, sobrava modernidade. Ele foi um dos primeiros carros nacionais a conseguir cinco estrelas no Latin NCAP, mérito de sua construção de última geração, com aços mais resistentes e amplo uso de solda a laser. 

Meu antigo VW Take up! [Leo Alves/ Auto+]
Meu antigo VW Take up! [Leo Alves/ Auto+]

Inicialmente, foram apresentadas quatro versões. A Take up! era a de entrada, enquanto a Move up! ficava no meio da gama, sendo seguida pela High up!. No topo, haviam três variações da mesma configuração: Black up!, White up! e Red up!. Os preços ficavam entre R$ 26.990 e R$ 39.990. 

Como dá para notar, o plano inicial da Volkswagen era transformar seu hatch no carro de entrada da marca. O up! entrou no lugar do Gol G4, que deixou de ser vendido no fim de 2013. Porém, essa estratégia foi revista depois.

Tampa preta

VW Speed up! [divulgação]
VW Speed up! [divulgação]

As versões mais icônicas do subcompacto surgiram em 2015, quando a Volkswagen estreou o motor 1.0 TSI, o turbo, com o up!. Para diferenciá-lo dos aspirados, a marca pintou a tampa traseira de preto. Isso também acaba sendo uma referência ao modelo europeu, já que por lá a peça era em vidro, como no Fiat Mobi, e por isso era sempre preta no velho continente.

Além da tampa preta, o up! TSI tinha um para-choque dianteiro mais pronunciado, que aumentou seu comprimento em 4 cm. Culpa do cofre do motor pequeno, que não tinha espaço suficiente para os componentes do motor turbo.

VW Speed up! [divulgação]
VW Speed up! [divulgação]

Moderno e utilizado até hoje, o motor 1.0 TSI rendia 105 cv e 16,8 kgfm de torque. Mesmo sendo mais potente, o up! turbinado era mais econômico que o aspirado, além de andar bem mais. Nascia, assim, a lenda da tampa preta.

Mudança de curso

Mesmo com um preço competitivo, e sendo um carro bem mais moderno que a maioria dos concorrentes, o up! não emplacava. Vendido entre 2014 e 2021, seu melhor ano foi o de estreia, quando ele teve 58.894 unidades comercializadas. Em 2015, mesmo com o TSI, esse número caiu para 53.542 unidades. Em 2016, a queda foi ainda maior, com o subcompacto vendendo 38.354 carros.

VW up! Pepper [divulgação]
VW up! Pepper [divulgação]

A VW percebeu, então, que sua estratégia foi equivocada. Como era um carro caro de ser produzido, ele não poderia ser o modelo de entrada da marca. Em 2017, a fabricante fez a única reestilização do up!, que com os para-choques novos ficou 8 cm mais comprido, chegando aos 3,68 m de comprimento. 

Com o Gol voltando a ser o veículo de entrada, o up! passou a ser um carro de imagem. A Volkswagen tentou deixá-lo mais sofisticado e elevou seus preços, na tentativa de pelo menos aumentar o lucro do modelo. Afinal, do jeito que estava, seu projeto não se pagava.

VW up! Pepper [divulgação]
VW up! Pepper [divulgação]

VW up! foi um fracasso?

Ao longo de sete anos, o VW up! teve 227.876 unidades vendidas. Não é um número ruim, mas suas vendas só despencaram ano a ano. Em 2020, último ano completo do modelo, foram menos de 7 mil unidades vendidas. 

Dessa forma, é possível ver a situação do carro sob o ponto de vista do copo meio cheio ou meio vazio. Comparado aos hatches populares, o up! flopou legal. Porém, seu número de vendas não foi de todo ruim. Entretanto, o maior legado está nas qualidades do carro.

VW up! Pepper [divulgação]
VW up! Pepper [divulgação]

De fato, o subcompacto da Volkswagen foi um carro adorado pela crítica, mas odiado (em termos) pelo mercado. Porém, ele é um modelo que guardo boas memórias até hoje. Foi meu companheiro por inúmeras viagens, já que foi o primeiro carro que, de fato, dirigi. Se hoje trabalho com automóveis, o up! teve um papel fundamental nisso.

Existem carros que fazem isso com a gente. Que são rejeitados pelo mercado e por boa parte do público, mas são cultuados por seus donos. O Ford Maverick clássico é um exemplo também: um fiasco de vendas, depois virou sucata nos anos 1980 e hoje vale tanto quanto um apartamento na Av. Paulista.

O up! não foi um sucesso por diversos fatores. Chegou em ano de crise, nunca teve um posicionamento ideal, e tinha um design que não agradava todo mundo, além de ser pequeno – o que para mim era ótimo, mas não sou o mercado. Só que quem superou esses pontos e dirigiu um, certamente acabou comprando o modelo.

Nem todo carro se torna icônico por ter bombado no mercado. O up! é um exemplo perfeito disso. E, se você estiver com uma unidade 2014, versão Take, vermelho flash e com o primeiro emplacamento de Santo André-SP, pode ser que meu antigo up! esteja em suas mãos. Cuide bem dele. Ele merece.

Até em Interlagos meu up! foi [Leo Alves/ Auto+]
Até em Interlagos meu up! foi [Leo Alves/ Auto+]

Você teve um VW up! ou pensou em comprar um na época? Acha que ele foi um fracasso? Deixe nos comentários a sua opinião.

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