Único Suzuki vendido no Brasil hoje, o Jimny Sierra tem uma ficha técnica e até o preço jogando contra ele. É um carro minúsculo, de nicho e que custa R$ 203.990 na versão 4Style. De cara, nem deveria ser considerado para a compra. Isso se você só se atentar aos números. Porque depois de uma semana com ele, o pequenino mexeu com meu coração.
É que existem poucos carros que, como o Suzuki Jimny, conseguem ter personalidade tão forte e uma inesperada diversão ao volante que fazem com que você esqueça os fatores que jogam contra ele. Mas será que ele é capaz de ser mais do que só um dos mais respeitados SUVs 4×4 verdadeiramente off-road que tem por aí?
Coube uma escada
Desenvolvido no Japão para ser um kei car, o Suzuki Jimny Sierra fica mais largo e ganha para-lamas bojudos para o mercado internacional. Contudo, mantém os limites de porte para a categoria. São apenas 3,66 m de comprimento, ou seja, 10 cm a mais que um Fiat Mobi apenas.
Além disso, são 1,64 m de largura, 1,77 m de altura e 2,25 m de entre-eixos. Tudo isso coroado com um minúsculo porta-malas de 85 litros – o menor do Brasil. Até mesmo o porta-malas dianteiro do Porsche 911 é maior. Mas, durante a semana que testei o Jimny, ele foi capaz de levar uma escada em seu interior.
Ainda que para ter feito essa façanha, tenha sido necessário dobrar os bancos traseiros e empurrar o assento dianteiro até o limite na frente. A vantagem de as costas dos bancos traseiros contarem com revestimento emborrachado é que, ao deitar, eles ficam na mesma altura do porta-malas e criam uma área decente de carga.
Espaço para o motorista é suficiente, mesmo para uma pessoa alta – algo que o antigo Jimny não conseguia lidar. Falta ajuste de profundidade no volante, enquanto o banco dianteiro não tem ajuste de altura. Já o passageiro frontal tem que ajustar o banco inteiro todas as vezes que alguém se senta atrás no Suzuki.
Isso é culpa do mecanismo que faz o banco ir para a frente, o qual usa a mesma alavanca de ajuste do encosto. Com isso, quando o assento se move para abrir espaço aos sentantes da segunda fileira, ele volta em uma posição aleatória. O espaço traseiro é apertadíssimo, com os passageiros espremidos entre as caixas de roda e com as pernas muito altas.
Sinais de outros tempos
Como a cabine carece de espaço, a Suzuki precisou lidar criativamente com alguns elementos para que tudo coubesse ali. As portas têm descanso de braço finos e que obrigaram os comandos de vidro a serem posicionados no painel. O acabamento, contudo, é bom. Não há superfícies macias, mas o plástico usado tem qualidade.
O pequenino Jimny Sierra traz painel de instrumentos analógico com computador de bordo que carece de funções. Nem mesmo um velocímetro digital simples há. Ele conta também com central multimídia JBL com tela de definição péssima, gráficos ruins, mas dotada de Android Auto e Apple CarPlay para facilitar o dia a dia.
Há ainda ar-condicionado digital de uma zona, retrovisores elétricos, airbags duplos, direção hidráulica, faróis com acendimento automático e lavadores, lanternas traseiras de LED com seta sequencial, assistente de partida em rampa, controle de tração e estabilidade, câmera de ré e só. A lista é bem enxuta, honestamente.
Tanque em miniatura
Se até agora, praticamente tudo joga contra o Suzuki Jimny Sierra, na hora de dar a partida é que as coisas mudam. Esse SUV 4×4 é um verdadeiro monstrinho do off-road, mas que ganhou uma surpreendente convivência urbana cabível na versão 4Style. Para se tornar mais citadino, trocou os pneus de uso misto por um de uso 100% asfalto, o que mudou muita coisa.
O ruído forte de rodagem e a aspereza ao volante se foram, substituídas por uma surpreendente suavidade. Assim como as caminhonetes médias e grandes, o Jimny Sierra é construído no esquema chassi sob carroceria. Essa construção é mais rústica, barata, mas que permite uma maior flexibilidade no off-road, além de mais robustez.
A contrapartida é, na maioria dos casos, pular muito. Não é o que ocorre no Suzuki. Por ser pequeno, ele não sacode tanto ou pula desnecessariamente. Isso se dá por conta também da suspensão que é bem trabalhada para seu porte. Só não experimente fazer curvas fortes com ele, pois a carroceria inclina perigosamente.
Em contrapartida, basta colocar o Jimny Sierra em uma estrada de terra que ele se sente em casa. É uma inegável valentia que só poderia ser sentida em carros maiores. Ele enfrenta superfícies ruins com extrema facilidade e com um nítido gosto por isso. É divertido ver sua traseira alegre em curvas fechadas, enquanto a suspensão trabalha nos buracos.
A direção é hidráulica, nitidamente bem pesada nas manobras, enquanto no dia a dia assume um peso adequado. O que chama atenção é que ela exige muitas voltas de batente a batente, mas não tem reação lenta. Ou seja, o Jimny se comporta como carro grande, mesmo sendo pequeno.
4×4 + 4
Debaixo do capô do Suzuki Jimny Sierra reside um motor 1.5 quatro cilindros aspirado de 108 cv e 14,1 kgfm de torque. Parece (e é) pouco, mas como ele pesa só 1.1300 kg, são poucos os momentos em que falta. Na cidade, ele manda bem, entregando força suficiente e performance a contento, mesmo quando lotado com quatro pessoas.
Já na estrada, sofre. Como o câmbio automático tem apenas quatro marchas, recorrentemente o Jimny suplica pela segunda ou terceira marcha para ter fôlego, mesmo em alta velocidade. A quarta funciona só como Overdrive, mantendo a rotação a altos 3 mil giros a 100 km/h. As trocas, porém, são suaves, mas lentas para ocorrer.
Como resultado, ele manteve média de 10 km/l tanto na cidade, quanto na estrada durante nossos testes. Oficialmente, a Suzuki declara 10,6 km/l na cidade e 10,8 km/l na estrada. Ou seja, por conta de seu tanque de 40 litros, o Jimny não passa de 432 km de autonomia no melhor cenário possível.
Veredicto
Resumidamente, o Suzuki Jimny Sierra não é uma compra racional em momento algum. Apertado, com câmbio automático de apenas quatro marchas, fraco para a estrada e com caro demais para a lista de itens de série que tem, ele não é o tipo de carro que será adquirido fazendo as contas.
Mas sua grande virtude é apelar totalmente para o lado emocional. É divertidíssimo de dirigir graças à sua rusticidade encontrada somente em carros bem maiores que ele. Sendo diminuto desse jeito, é prático para qualquer canto da cidade e ainda até mais fácil de fazer off-road pesado com ele por passar sem dificuldade em obstáculos apertados.
Ou seja, se você tem orçamento para um segundo ou terceiro carro, que tenha como única função ser um brinquedo para os finais de semana ou para dias que sua vida pede uma dose a mais de diversão, o Suzuki Jimny é uma escolha mais do que bem-vinda. Até uma volta para comprar pão será divertida. Mas como único carro da casa, é impossível.
Teria um Suzuki Jimny em casa? Conte nos comentários.
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