Em abril de 1998 saia da recém inaugurada fábrica da Renault de São José dos Pinhais uma Scénic branca com para-choques pretos, calotas e motor 2.0 aspirado. Uma minivan que poderia muito bem ser descartada depois, afinal, era só um protótipo para ensinar aos trabalhadores como montá-la.
Em agosto de 1994, nascia este que vos escreve na cidade de Campinas, SP. E por que estou compartilhando essa informação? Porque a minha história e a da Renault Scénic se cruzaram lá nos anos 1990 e agora novamente em uma segunda-feira de maio de 2023, quando realizei um sonho de infância.
No alto de meus 4 para 5 anos, no temido pré-apocalíptico ano de 1999, já era um pequeno entusiasta automotivo. E uma Renault Scénic verde me despertou sentimentos nunca antes vistos. Era algo totalmente diferente nas ruas e eu ficava fascinado cada vez que a mãe de um coleguinha do pré estacionava aquela minivan francesa na porta do colégio.
Não sei ao certo se foram alguns meses ou semanas, mas religiosamente pentelhava minha mãe diariamente para que convencesse a mãe do meu colega para que deixasse eu entrar em sua Scénic. Se conseguisse que ela desse uma volta na quadra comigo sentado no banco de trás, seria tão gratificante (para minha mente jovem) quanto ganhar na loteria.
Como a cara de pau herdei de família (não é dra. Marli Brigato?), criei coragem para pedir à dona da Renault Scénic que me deixasse adentrar no seu carro e explorar aquela vastidão de espaço. Bancos aveludados que corriam sobre sobre trilhos e as mesinhas do tipo avião para os passageiros traseiros despertaram um fascínio indescritível naquele mini João Brigato.
Troca de fileiras
Exatos 24 anos depois, eu me encontro novamente com a Renault Scénic. Não a verde da minha infância, mas uma muito mais importante. O modelo número um feito no Brasil, guardado com extremo zelo e cuidado pelo time da marca francesa, em um gigante sinal de respeito e delicadeza com a história da marca. Aliás, parabéns Renault por isso.
Esse modelo em específico trazia motor 2.0 quatro cilindros aspirado de 115 cv e 17,5 kgfm de torque. Números que hoje não impressionam, especialmente porque o 1.6 aspirado que a Scénic também teve tinha 110 cv e 15,1 kgfm de torque e o 2.0 aspirado que o Sandero RS herdou estreou na minivan em 2001 com 140 cv.
Mas meu coração acelerou de 0 a 100 muito mais rápido do que essa minivan seria capaz de fazer. Até porque, era o sonho daquele pequeno João de 1999 se materializando na vida adulta. Era eu que estava atrás do volante, não a mãe do meu amigo. Dei partida e ela pegou de primeira, como se tivesse saído da fábrica agora junto de algum Duster.
Renault Kombi
A posição de dirigir, confesso, é bizarra. Alta demais, fez com que a minha linha dos olhos fique na altura do para-sol. Essa unidade não tinha ajuste de altura nos bancos (que, quando criança, chamava de “levanta astral” porque o banco praticamente te ejetava para cima).
O volante é muito deitado, quase como uma Volkswagen Kombi, além de não ter ajustes no modelo testado. Ou seja, eu com 1,87 m de altura batia o joelho no volante e ficava exageradamente alto ao volante. Mas nada disso importava porque minha criança interna estava gritando.
A manopla de câmbio bizarramente grande fazia com que as trocas de marcha fossem fáceis de serem feitas. Especialmente porque a transmissão manual de cinco marchas tinha engates curtos e precisos – algo que algumas marcas não aprenderam a fazer até hoje. Esse casamento com o motor 2.0 mostrou disposição na minivan, mesmo com números baixos.
Outro ponto no qual ela se destaca muito é na suspensão. Como a Scénic é macia e confortável. Em um nível que faria muitos SUVs compactos de hoje em dia passarem vergonha. Isso sem contar a visibilidade privilegiada por conta da quantidade insana de vidro na carroceria.
Futuro do pretérito
Só que esse encontro com a Scénic guardava uma surpresa. Para poucos que lembram, originalmente seu nome era Mégane Scénic. E agora esse nome Mégane evoluirá para um novo ser. Especificamente um SUV elétrico batizado de Mégane E-Tech. E olha como as coisas são irônicas.
Quando a Scénic original surgiu, as minivans eram as rainhas das ruas, elas ditavam tendências visuais e eram as preferidas das famílias. Motores aspirados e grandes eram essenciais e o câmbio manual. Agora os SUVs que dominam e os carros elétricos deixaram de ser tendência para se tornar realidade.
Com isso, o legado construído pela primeira Mégane Scénic será renovado no segundo semestre com a chegada do Mégane E-Tech ao Brasil. Um mesmo nome, uma mesma família, a mesma vanguarda, mas duas realidades absurdamente opostas depois de 25 anos. E ah, em breve a Scénic volta, mas como o Scénic, já que também vai virar um SUV.
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