À exceção da Ram e da Jeep, hoje todas as marcas do grupo Stellantis tem ao menos um carro elétrico em seu portfólio. A Jeep, contudo, foi para o caminho intermediário com o Compass 4xe. Só que o grupo italo-francês tinha outra carta na mão: o Peugeot 3008 Hybrid4. E é ele que deveria ter vindo ao nosso país.
Depois de testar o espetacular hatch médio 308, foi a vez de colocar o SUV médio eletrificado 33008 Hybrid4 para um teste nas ruas do Chile. O modelo não tem previsão de ser vendido no Brasil, visto que o SUV em breve trocará de geração. Mas ficou o gosto de que a escolha da Stellantis teria sido mais acertada se tivessem optado pelo francês.
Vendido no Chile em diversas versões, testamos a topo de linha GT de 41,99 milhões de pesos chilenos. É um valor que equivale a R$ 240 mil, aproximadamente. Hoje, um 3008 1.6 THP no Brasil custa R$ 219.900, ou seja, um custo de R$ 20 mil a mais pelo híbrido parece até pouco. Se fosse vendido por R$ 260 mil, estaria barato para ele.
Considerando que o Compass 4xe sai por R$ 347.300, colocar o Peugeot 3008 Hybrid4 até na casa dos R$ 300 mil ainda seria bastante vantajoso frente ao primo americano. Especialmente porque seu conjunto é mais eficiente, além de ele ser um SUV mais refinado. E não se preocupe: a tração 4×4 ainda está lá.
THP eletrificado
Debaixo do capô, o Peugeot 3008 híbrido conta com o já conhecido e apreciado motor 1.6 THP quatro cilindros turbo, mas com 197 cv e 30,6 kgfm de torque. No Brasil, esse motor, sem auxilio elétrico, entrega 165 cv e 24,5 kgfm. Ou seja, aqui já temos vantagem de potência frente à versão brasileira do SUV.
O THP é auxiliado por um motor elétrico de 110 cv e 16,9 kgfm na dianteira e outro elétrico na traseira de 112 cv e 32,6 kgm. Combinando todas as forças, temos um Peugeot de 300 cv e 53 kgfm. É uma cavalaria bem superior à do primo Compass 4xe, que entrega 240 cv e 47,9 kgfm. Para gerenciar tudo, o 3008 Hybrid4 usa um câmbio automático de oito marchas.
Como resultado, o SUV médio faz de 0 a 100 km/h em apenas 5,9 segundos (quase 1 segundo mais rápido que o Jeep) e tem consumo excelente. Durante os testes, quando o modelo tinha bateria carregada, passava fácil dos 23 km/l. Já quando a energia se esgotou, passou a fazer média de 11,5 km/l no ciclo urbano.
A autonomia elétrica, contudo, parece um grande problema para qualquer híbrido da Stellantis. O Peugeot 3008 Hybrid4 promete 50 km, mas as baterias se esgotaram em exatos 34 km de uso na cidade. Apenas para manter o efeito de comparação, seu primo Compass 4xe promete rodar 30 km apenas nas baterias, mas tende a fazer menos no mundo real.
Disparo francês
De fato, os 300 cv do Peugeot 3008 híbrido são sentidos. Mas às custas de um delay gigantesco. Ao arrancar, ele sempre usa o motor elétrico traseiro, mesmo que a bateria tenha acabado. Com isso, as saídas são apenas ok. O motor 1.6 THP e o elétrico dianteiro só entram em ação a partir do momento em que a segunda marcha é requerida.
Aí sim, o SUV médio dispara com vontade e ganha velocidade com o mesmo ímpeto de muito carro mais caro. É impressionante a força que esse conjunto do 3008 tem depois de sair da inércia. As retomadas são rápidas, mas a transição entre o motor elétrico e o combustão não é nada refinada, sendo nitidamente sentida e com trancos.
Já a transmissão automática de oito marchas deveria ser a referência da Stellantis para o Brasil. Assim como ela brilha no hatch médio 308 com motor 1.2 turbo, aqui no 3008 ela atua de maneira sublime. É rápida, sabe os momentos certos de segurar marcha ou trocar e transita com suavidade extrema.
Alma de hatch
Um dos pontos que mais me agrada no Peugeot 3008 é que ele é assumidamente um SUV urbano. A maioria das pessoas que compram esse tipo de carro só querem a posição elevada ao volante. Não necessariamente tendo de lidar com o comportamento menos na mão desse tipo de carro. A Peugeot sabe disso e por isso temperou o 3008 de um jeito diferente.
Dinamicamente, ele é um hatch alto. Faz curva como um modelo muito menor do que ele, gruda no chão com vontade e não gosta muito dos buracos. O silêncio à bordo passa um refinamento esperado por marcas premium, enquanto a direção é calibrada para a esportividade, com reações rápidas e peso alto em velocidades elevadas.
Contudo, por ter o volante pequeno, o 3008 também te instiga a uma tocada mais esportiva. Nas manobras, contudo, a assistência elétrica fica bem evidente, anestesiando o volante e deixando ele extremamente leve. No quesito de acerto de direção, o SUV da Peugeot é uma enorme referência na categoria.
O que é bom e o que é melhor
Outro ponto no qual o modelo francês é o topo da categoria, é no interior. A cabine dos Peugeot fica muito próxima dos carros de marcas premium, entregando acabamento refinado e visual elegante. A parte superior do painel é toda revestida em material macio, enquanto as portas, na versão GT, trazem couro com madeira contrastante.
Elementos em aço junto do acabamento em madeira ajudam a dar um ar diferenciado ao modelo híbrido quando comparado ao vendido no Brasil. O clássico volante pequeno da Peugeot, junto do painel de instrumentos elevado, também adicionam um toque extra de sofisticação. O painel é digital, mas não 3D como nos hatches 208 e 308.
O modelo conta com tela de ótima qualidade, mas com grande delay na troca do layout, além de alguns elementos confusos. Já a central multimídia mostra certa idade. Ela ainda usa o sistema antigo da PSA, que conta com diversos submenus e controles um tanto quanto antiquados. É um pequeno sinal de que esse 3008 já está antigo.
Especialmente quando evidenciada a ausência de Android Auto e Apple CarPlay sem fio: a conexão é feita somente via cabo e pelo USB mais antigo. Como compensação, um mimo: o motorista e o passageiro contam com aquecimento e massagem nos bancos, mas só o condutor tem regulagem elétrica do assento.
No quesito espaço, como todo Peugeot, ele não é referência. A área traseira é apenas ok, ficando mais confortável que um Jeep Compass, mas muito longe de um GWM Haval H6 ou de um Volkswagen Taos. O porta-malas tem capacidade para 390 litros, uma redução de 130 litros frente ao modelo a combustão por conta do sistema elétrico.
Lista completa
Além dos itens anteriormente citados, por se tratar do 3008 GT, o híbrido vem bem completo. Ele conta com ar-condicionado digital de duas zonas, piloto automático adaptativo, sistema de manutenção em faixa, frenagem autônoma de emergência, farol full-LED com acendimento automático e assistente de luz alta.
Traz ainda teto solar panorâmico, luz ambiente interna, controle de tração e estabilidade, seis airbags, porta-malas com abertura elétrica, retrovisores elétricos com rebatimento, freio de estacionamento eletrônico, som assinado, trocas de marcha no volante, chave presencial, câmera de ré (com qualidade tenebrosa), sensor de estacionamento dianteiro e traseiro.
Veredicto
Analisando o Peugeot 3008 Hybrid4 como produto, ele é um SUV de excelente acabamento, dirigibilidade apurada e conjunto mecânico eficiente. A autonomia elétrica é baixa perante os rivais hoje presentes na categoria e o delay nas arrancadas é algo que de fato incomoda.
Contudo, é preciso ver por um prisma maior dentro da Stellantis. O grupo sabia que ao trazer o Compass 4xe para o Brasil, o modelo venderia pouco. É um Jeep mais caro do que deveria e seu conjunto eletrificado mal faz diferença. Se seu objetivo era construir imagem e dizer que a Jeep tem algo eletrificado, ok, objetivo cumprido.
Mas se era para trazer um SUV híbrido para vender pouco, que o escolhido fosse o Peugeot 3008 Hybrid4. Ele é melhor que seu primo em todos os aspectos e ainda (potencialmente) custaria bem menos. Além disso, seria a chance de fazer o 3008 vender um pouco mais no Brasil, já que ele anda esquecido.
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