Nos tempos áureos da Peugeot aqui no Brasil com o 206, o hatch compacto chegou a ter um motor 1.0 emprestado da Renault. Agora que ela tenta se reerguer com as mãos da Fiat através da Stellantis, trouxe ao 208 o motor do Argo para mudar sua trajetória no mercado. Mas o Peugeot 208 Style vai um pouco além disso.
Carros com motor 1.0 aspirado sempre foram renegados a versões de entrada bem basiconas e absentes de itens de série. Foram raras as exceções em que marcas oferecerem algo além do kit dignidade (ar-condicionado, direção assistida, vidros elétricos e algum sistema de som) e alguns adesivos. Mas o 208 Style tem cara de versões top, e preço também: R$ 84.990.
Sem Griffe, mas com Style
Se vir um 208 Griffe e um Style de frente, pensará se tratar da mesma versão. Afinal, somente os dois trazem teto solar panorâmico e faróis full-LED com ajuste automático de altura. O visual desse faróis é belíssimo, especialmente por conta da luz diurna prolongada pelo para-choque com desenho de dente de leão.
A versão topo de linha com motor 1.0 da Fiat ainda traz sensor de ré, câmera de ré, quatro airbags, controle de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, vidros elétricos nas quatro portas, retrovisores elétricos, ar-condicionado, volante com ajuste de altura e profundidade, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio e carregador de celular por indução.
Visualmente a versão Style do Peugeot 208 se diferencia das demais por ter rodas de liga-leve de 15 polegadas na cor preta, mesmo tom usado no aerofólio traseiro e retrovisores. Além disso, há o emblema Style na coluna C e nos tapetes internos. Os bancos são de tecido igual às demais versões do hatch compacto.
Jeito Peugeot
Outro ponto em que o Peugeot 208 Style se diferencia dos demais rivais na categoria é a qualidade de acabamento. Tudo bem que esse é um diferencial do hatch compacto em todas as versões, pois a qualidade interna é bem superior à média da categoria. Não há materiais macios, mas os plásticos ali inseridos são de boa qualidade e os encaixes justos.
O painel é dividido em dois andares por uma faixa que imita fibra de carbono, tendo desenho bastante elegante e moderno. Você enxerga os instrumentos por cima do pequeno volante, não no meio dele como outros carros. Isso cria uma posição de dirigir mais baixa, direta e com a direção mais próxima do motorista. Ou você vai amar, ou odiar esse jeito de dirigir.
Sinceramente, esse é o hatch compacto com a melhor posição de pilotagem hoje no mercado brasileiro. Não somente pelo layout padrão da Peugeot, mas pelo fato de que o volante pequeno e de aro grosso tornam a posição de dirigir bastante esportiva e instigante. Pena que a Peugeot esqueceu do couro no volante, já que o material é bem áspero nessa versão.
Um dos destaques vai para o carregador de celular por indução. Ele fica atrás de uma pequena portinha que, ao ser aberta, serve também como apoio para o celular. Logo ao lado existem duas entradas USB para carregamento. Ou seja, ficar sem bateria será algo bem difícil. Mas existe a questão do espaço, que não é nem um pouco farto no Peugeot 208.
O motorista conta com uma plenitude de ajustes e bastante área para se esticar. Já o passageiro do lado tem de enfrentar um piso inexplicavelmente mais inclinado e recuado, o que rouba espaço. Já quem senta atrás terá apenas o aperto, sendo o 208 pouca coisa mais espaçoso que um Mobi ou um Kwid. Porta-malas de 265 litros é apenas ok.
Contrário e grande
Um dos maiores contrastes de todas as versões do Peugeot 208 que não são a Griffe é o painel de instrumentos. Enquanto o modelo topo de linha tem tela digital 3D, uma das melhores do mercado, as versões mais simples, como o Style, contam com conta-giros e velocímetro analógico acompanhado por uma telinha digital que suspeito ser a mesma que compõe todo o painel do Citroën C3.
O pequeno visor conta com velocímetro digital, marcador de combustível e informações bem básicas (para não dizer simplórias) de computador de bordo. Mas o curioso é que o conta-giros corre ao contrário do velocímetro. Para ninguém se confundir, há indicador de troca de marcha.
Enquanto a tela do computador de bordo é simplória, a nova central multimídia dá show – tanto do lado positivo, quanto do negativo. Ela tem ótima resolução, é rápida e bem fácil de usar. Tem menus simples e claros, o que facilita bastante no uso diário e não precisa de uma aula antes de operar. Além disso, tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio.
Mas, para controlar o ar-condicionado é preciso sair do espelhamento. E como essa versão não tem a função automática, é preciso toda hora regular a velocidade do ventilador e a temperatura por uma barra sem indicação de temperatura. Além disso, durante uma semana de testes, a central travou pelo menos uma vez ao dia, se tornando inoperante.
A situação mais grave foi em uma ida de Campinas a São Paulo onde simplesmente o menu do ar-condicionado sumiu. Ele ficava inacessível mesmo pelo botão físico do painel. Ao desligar o carro, a central mostrava aviso de defeito e se tornou inoperante, até que o Peugeot 208 ficou parado por 10 minutos para reiniciar a central.
O problema é que no dia anterior a essa viagem, o ar-condicionado estava com velocidade alta e temperatura baixa. Mas no dia em questão, estava frio. Um pequeno perrengue causado por um bug eletrônico de uma central ainda bem nova. Além disso, o CarPlay constantemente ficava com atraso de tela, onde a imagem exibida tinha até minutos de atraso em relação ao que estava acontecendo no áudio e GPS.
Potencial para mais
Nessa nova versão Style e também na de entrada Like, o Peugeot 208 ganhou motor 1.0 Firefly da Fiat. O três cilindros aspirado entrega 75 cv e 10,7 kgfm de torque, surpreendendo no dia a dia. Na cidade ele é bem esperto, ligeiro e acelera sem medo. Tem vibração excessiva em certos pontos, mas compensa em economia de combustível.
Durante nossos testes, ele marcou média de 14,7 km/l com gasolina e 11,1 km/l com etanol. Oficialmente a Peugeot declara 13,6 km/l e 15,5 km/l com gasolina na cidade e na estrada, respectivamente, enquanto com etanol na mesma situação ele faz 9,6 km/l e 11 km/l. É um carro verdadeiramente econômico, especialmente na gasolina.
Na estrada é que ele começa a sofrer um pouco. Retomadas pedem uma redução para quarta marcha, quando não terceira. Além disso, subidas fazem com que o Peugeot 208 1.0 suplique por uma marcha a menos, não conseguindo manter os 100 km/h. Só que o interessante é o apetite do modelo por velocidades altas.
A construção refinada da plataforma CMP da Peugeot faz com que o 208 seja um modelo que tem potencial para ter mais potência. Tanto que o modelo elétrico esbanja 136 cv e o mesmo torque de um motor 1.4 turbo. Ou seja, há potencial para mais, tanto que a velocidade de conforto dele é algo na casa dos 130 km/h, quando ele assenta e roda liso.
Isso também se reflete no comportamento em curvas do Peugeot 208. Ele é grudado no chão e segura curvas fortes como se fosse (e foi) pensado para ter bem mais potência. A direção direta colabora para isso. Mas não espere mais pela suspensão frágil e barulhenta de antes: ele encara buraqueira sem reclamar ou bater seco – nesse quesito, está na média da categoria finalmente.
Alma de Fiat aprimorada
Confesso que meu grande receio com o Peugeot 208 era o câmbio. A Fiat não faz transmissões manuais boas e nem a Peugeot e a Citroën. Mas dessa vez me surpreendi. Sim, os engates continuam tão longos que ao colocar a quinta marcha é perigoso fazer um carinho na coxa do passageiro do lado.
Só que os engates são mais precisos e menos borrachudos do que os do Argo. A embreagem ainda é um tanto quanto melindrosa, pedindo bastante costume e algumas inevitáveis engasgadas nas primeiras saídas de sinal. Mas é um conjunto nitidamente aprimorado frente ao Fiat Argo, por exemplo.
Outro elemento em que o Peugeot revela sua verdadeira natureza mais sofisticada está no isolamento acústico. No Citroën C3, o barulho do três cilindros invade a cabine sem dó, enquanto no 208 o silêncio impera. O 1.0 faz presente somente em rotações mais altas e em momentos mais específicos.
Veredicto
É inegável que o Peugeot 208 é o hatch compacto mais bonito à venda no Brasil, tanto por fora quanto por dentro – além de ter o melhor acabamento. Sua construção pensada para ser um degrau acima das generalistas se reflete também na dirigibilidade apurada e na condução puxada para a esportividade.
Foi interessante ver que a Peugeot conseguiu combinar o motor 1.0, restrito a modelos de entrada, com elementos que tornam o modelo especial por conta da versão Style. Não tem cara de carro básico e nem custa igual a um, porque é caro. Falta força na estrada? Sim, mas ele tenta compensar em economia de combustível.
A única restrição para a recomendação do Peugeot 208 Style frente a outro hatch compacto à venda no Brasil hoje é se você precisar de espaço ou levar frequentemente pessoas no banco traseiro. Ele é muito apertado, muito mesmo. Basicamente é um carro que agrada ao motorista e aos que olham ele por fora.
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