Antes de começar, já alerto: pode apostar que muitos textos sobre o Mercedes-Benz EQS 53 AMG vão chama-lo de Classe S dos elétricos. Na teoria é isso mesmo, mas a real é que ele é o EQS e ponto. É algo totalmente fora desse clichê e também de qualquer coisa que hoje você pensa sobre Mercedes-Benz, AMG e até sobre carros elétricos.
Aliás, foi essa palavra que ficou martelando na minha mente após dirigir o EQS em São Paulo e retornar à minha casa em Campinas: clichê. Como ele foge de tudo isso. E como evita também ser o que as pessoas acham que sabiam sobre sua marca Mercedes, sua grife de luxo AMG ou até sobre sedãs elétricos. Mas cobra a partir de R$ 1.350.900 pelo seu show.
Ronco de alma
Friso o a partir de porque vários sistemas são opcionais. Um deles é o AMG Dynamic Plus que faz a potência e o torque subirem de 658 cv e 96,9 kgfm do EQS 53 AMG padrão para 761 cv e 104,01 kgfm. Também derruba o 0 a 100 km/h de 3,4 s para 3,8 s. Não pudemos atestar esse número na prática pois o test-drive foi curto, mas já deu para sentir a força bruta.
Aliás, esse é um grande ponto sobre o modelo. Todo AMG de verdade, especialmente os com números altos, são conhecidos por serem brutais ao volante, com roncos impressionantes de seus V8 borbulhantes e pelas acelerações de fazer a peruca de alguém se desprender da cabeça e sair voando pela janela.
Obrigado Mercedes-Benz por conseguir manter isso em um elétrico. E sim, estou falando especialmente do som. A marca alemã desenvolveu um sistema que cria um som de motor ao EQS AMG. É nitidamente algo pensado para um carro elétrico, mas grosso e borbulhante como se espera de um AMG.
A cada acelerada, o barulho cresce e invade a cabine, aumentando a sensação de velocidade e de força. Até porque mais de 100 kg de torque disponíveis a uma pisada no acelerador fazem desse gigante sedã meio cupê uma verdadeira bala de canhão. E se o barulho não for sua praia (o que eu duvido porque é divertido demais), dá para desligar em um botão no volante.
Quatro pontos de vista
Essa é só uma das diversas bugigangas divertidas que o EQS tem e que pude experimentar no curto test-drive. O EQS AMG talvez tenha o mais bonito head-up display que já usei em um carro. A imagem em 3D projetada no painel tem grafismos bem interessantes e um visual que não atrapalha no trânsito, mas chama atenção.
Só não é perfeito pois o nível de utilização da bateria fica paralelo e próximo do velocímetro digital. Em um determinado momento me confundi pensando estar a 70 km/h, mas estava a 35 km/h. Os 70 mostrados, na verdade, eram da bateria que estava sendo recuperada em 75% naquele momento. Uma confusão que pode ser perigosa em altas velocidades.
Esse head-up é só um dos quatro pontos de atenção do interior do AMG. Os outros três são formados pelo trio de telas que compõem o que a Mercedes-Benz chama de Hyperscreen: uma superfície de Gorilla Glass (o mesmo material da dianteira do seu celular) e que traz três telas distintas.
A da esquerda é o painel de instrumentos totalmente digital e com layout já conhecido de outros Mercedes-Benz, mas com alguns recursos extras por conta da eletrificação. Já a tela do meio é a central multimídia, que conta com resposta física como a central da Audi e controla também o ar-condicionado.
Por ser grande e ter botões igualmente enormes, fica fácil utilizar mesmo no trânsito – ainda que alguns botões no console ajudem mais nessas horas. Por fim, a terceira tela fica à frente do passageiro, permitindo a ele controlar diversos elementos do carro como GPS, massageador dos bancos, configurações do veículo, entre outros.
É possível até traçar rotas alternativas no GPS para que a autonomia de 580 km seja coberta por carregadores ao longo do caminho. Ou realizar a telemetria do ESQ 53 AMG em momentos em que ele acelera forte. Há até o modo Drag Race que pode ser acionado diretamente pela tela do passageiro. Mas o próprio EQS avisa para não usar isso na cidade.
Novo luxo
Além das telas enormes, o interior impressiona pelo luxo envolvido. Há couro e materiais nobres pelos quatro cantos do EQS AMG, dignos de um Classe S. Mas ele é mais moderninho, enquanto o seu irmão a combustão é (e precisa ser) mais careta. O console central é bem alto e abaixo dele há um grande porta-objetos no qual caberia uma mochila.
O puxador das portas é camuflado e você só nota sua presença ao intuitivamente colocar a mão no buraco entre o apoio de braço e a lateral das portas. Até mesmo o comando dos bancos é diferente de outros Mercedes, sendo os botões fixos na porta, mas que trazem a mesma resposta dos botões móveis dos outros modelos da marca.
Talvez o único pecado seja a posição de dirigir estranha. O painel é muito alto por conta das telas e a linha de cintura do EQS é baixa. Isso te convida a dirigir mais próximo ao solo, mas ele não deixa fazer isso. Você se senta mais alto do que deveria. Tanto um motorista alto como eu, quanto meu colega de test-drive, que era bem mais baixo, reclamamos disso.
Parece a posição de dirigir de um SUV, ainda que você esteja em um sedã de 1,51 m de altura e que te coloca com os olhos na altura da maçaneta de um Jeep Renegade. Não combina com um carro tão esportivo e tão moderno um posto de comando não tão ergonômico. Mas, novamente, o contato foi curto, em um teste mais longo repararei nisso novamente.
Do lado oposto temos o porta-malas de 580 litros o qual conta com abertura elétrica na qual o vidro também vai junto. Isso é, geralmente, algo de hatch. Seus rivais diretos Porsche Taycan e BYD Han não levantam o vidro junto do porta-malas, somente o Tesla Model S. Isso mostra que a Mercedes quis manter o visual de sedã, mas adicionar praticidade extra ao EQS.
Veredicto
É incrível pensar onde os carros elétricos estão chegando. O Mercedes-Benz EQS é luxuoso em níveis estratosféricos e tem um ronco sensacional (não estou louco em dizer que um ronco de mentira adiciona muito à experiência de condução). Cheio de eletrônica que faria até um Applemaníaco feliz, ele é o reflexo dos próximos Mercedes e uma fuga do que a marca é hoje.
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