Até hoje, o segmento de hot hatches (ou hatches esportivos, se preferir) é a grande porta de entrada dos amantes de esportivos. É a categoria mais barata de comprar, manter e até de conviver. Só que eles estão deixando de ser meros carros de entrada para ser esportivos sérios que, por um acaso, são hatches. E essa é a situação do Mercedes-AMG A45 S.
Por R$ 574.900, ele não é um carro barato, definitivamente. Mas, considerando as versões mais fortes dos Mercedes-AMG, ele é a porta de entrada. Significa ser menos esportivo? Só se você for piloto de super-trunfo. Porque esse hatch médio tem a alma verdadeira de um AMG, ainda que seu ronco seja menos instigante do que o de um Fiat Pulse Abarth.
4 cilindros mais potente do mundo
A grande estrela do A45 AMG é seu motor 2.0 quatro cilindros turbo. E um esportivo de verdade não precisa ter um amontoado de cilindros para impressionar. Até porque, o hatch da Mercedes é dono do motor 4 cilindros mais potente da história. E também o 2.0 mais potente hoje à venda no mundo – excetuando, claro, modelos híbridos.
São 421 cv e 51 kgfm de torque – potência e torque suficientes para o colocar muito próximo ao Porsche Macan GTS. O SUV alemão tem motor V6 2.9 turbo com 440 cv e 56,1 kgfm. Claro, são 19 cv e 5,1 kgfm de torque a mais, só que é um 2.0 quatro cilindros contra um 2.9 V6. Deu para entender o quão impressionante esse motor da Mercedes é?
Aliado a uma transmissão automatizada de dupla embreagem com oito marchas e tração integral 4MATIC+, o A45 AMG S acelera de 0 a 100 km/h em ridículos 3,9 segundos. Tem muito esportivo de elite que fica para trás desse hatch amarelo. E o melhor é que ele faz isso com um toque maldoso típico dos AMG mais fortes. Os de verdade, ouviu ESQ 53 AMG?
A aceleração é bruta, com uma patada violenta que te faz grudar no banco imaginando estar em um carro maior e com motor, pelo menos, V6. Em modo Sport+ ou Race, cada troca de marcha é acompanhada de um estampido vindo do escapamento, que torna a brincadeira ainda mais instigante. Piscou, está bem acima do limite de velocidade da via.
Personalidades
Em modo Comfort, a transmissão de dupla embreagem faz trocas extremamente suaves e imperceptíveis. Já nas variantes mais esportivas, cada troca é um soco nitidamente sentido e forte, que instiga a condução apimentada. É interessante ver essas duas personalidades diferentes do A45.
Só que a suspensão gosta mesmo é de ficar no modo bruto o tempo todo. Infelizmente a Mercedes não trouxe os amortecedores adaptativos presentes na Europa, o que significa que a versão mais bruta do Classe A anda no modo duro como pedra o tempo todo. Depois de uma semana, você vai precisar realinhar a coluna inteira.
História de bastidor: na saída da minha casa, me deparo com uma longa rua de paralelepípedos, que são o pior pesadelo do A45. Ele chacoalha, faz barulho e devolve direto no nervo ciático cada imperfeição do solo. Ele nitidamente odeia qualquer superfície que não seja um asfalto liso perfeito padrão Europa.
Além disso, ele é mais baixo que o recomendado para ruas brasileiras. O que significa raspar a frente em toda e qualquer entrada de garagem ou subida de guias. O modelo avaliado, que passa pela mão de outros jornalistas, já conta com a parte inferior do para-choque toda ralada (e infelizmente contribui com isso).
Cola alemã
A contrapartida positiva dessa suspensão extra dura é o comportamento do A45 AMG nas curvas. Combinada à tração integral, esse hot hatch contorna estradas sinuosas com perfeição. Apontou, ele vai, segurando o asfalto com compostura. O sistema de tração permite enviar 50% de força para cada eixo e redistribuir essa parcela de força para cada roda.
Isso significa que, em uma curva, a roda do lado oposto da virada recebe mais força que o lado interno. Como resultado, ele consegue fazer as curvas mais fechadas e com mais controle. A traseira fica mais alegre no modo Sport+ e ainda mais solta no Race, mas de maneira controlável.
Não é como o antigo C63 AMG, que qualquer erro de aceleração em Sport+ faz com que você o transforme em Mercedes da casa própria, rodando mais que o Baú da Felicidade. É permissivo para além do limite, deixando clara a intenção de todo AMG que é de temer pela sua vida, mas de maneira segura. É como uma montanha russa.
Hora da plástica
Lá na Europa, o Mercedes-Benz Classe A já foi reestilizado e aqui no Brasil o modelo roda em testes. Só que o que precisava mudar, ficou de fora: o interior. A cabine tem qualidade, mas falta um pouco mais de refino para um modelo de uma categoria de luxo, especialmente por ser um AMG que custa mais de meio milhão de reais.
Todo painel é macio, assim como parte das portas, mas não é um material tão refinado. O couro dos bancos também não parece um Mercedes, contrastando com alcântara de qualidade usado na parte central dos assentos. O volante sim, tem qualidade, é levemente acolchoado e mistura couro com alcântara de maneira elegante.
Existem muitos plásticos preto brilhante na cabine de aparência simples, enquanto as telas já parecem pequenas para ele. Junte isso ao fato de que o interior é idêntico ao de Classe A Sedan, CLA, GLB, EQA e EQB, parte do charme do A45 se vai. Novamente, não é um interior ruim, mas não te faz sentir especial.
O espaço interno paira entre duas realidades opostas. O porta-malas de 370 litros é excelente para um hatch médio, mas o espaço na segunda fileir é apertado. Especialmente porque os bancos dianteiros são grandes e a posição de dirigir é baixa, obrigando o motorista a ocupar mais espaço no A45.
Hey Mercedes
Em contrapartida, a parte tecnológica e ergonômica é bem servida. Bancos têm ajuste elétrico com três posições de memória, sendo que os controles na porta não poderiam estar em um lugar melhor. Volante ajusta bem em altura e profundidade e todos os comandos são bem fáceis de alcançar. E o melhor de tudo: comandos físicos para o ar-condicionado.
A central multimídia é grande referência no mercado, sendo rápida e prática de usar. A tela tem ótima definição e é cheia de recursos, inclusive com elementos de performance adicional exclusivos para os modelos AMG. O painel de instrumentos é personalizável também, permitindo mudar mostradores, visual e funções exibidas na tela.
O modelo ainda conta com luzes ambiente configuráveis em uma tonelada de cores, além da possibilidade de pontos multicoloridos com mudanças dinâmicas. Ao mexer no ar-condicionado, as cinco saídas de ar mudam de cor: azul se a temperatura é baixada ou vermelho ao aumentar a temperatura – independentemente de qual zona das duas.
O A45 AMG ainda conta com itens como frenagem autônoma de emergência, piloto automático adaptativo (mas fica devendo sistema de manutenção em faixa), alerta de ponto cego, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, controle de tração e estabilidade, teto solar, chave presencial e sistema de som premium Fender.
Veredicto
O Mercedes-AMG A45 S é o tipo de esportivo de verdade com concessões parciais. Não é como um cupê ou um conversível que sacrifica a praticidade e o conforto para dirigir em favor de esportividade pura. Ainda assim, não é o carro mais confortável do mundo para andar na cidade.
Só que compensa com um comportamento dinâmico irrepreensível, porta-malas grande, e espaço interno que permite levar alguns passageiros. Vale o preço que custa por entregar a experiência de um esportivo de verdade, mesmo sendo a porta de entrada para os AMG maníacos. Só não esqueça de incluir um quiropata ou um massagista nos gastos mensais com o A45. Suas costas vão me agradecer.
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