Existem carros que atingem o status de clássico mesmo sem completar 30 anos de vida. E esse é o caso do Honda Civic Si de 8ª geração: aquela popularmente conhecida como New Civic. Ele foi o único Si produzido no Brasil e era o tipo de carro que vivia no imaginário de todo entusiasta automotivo.
Devo admitir que sou adepto das novidades e dos carros mais novos. Aliás quanto mais novo, melhor. E sempre fui fã do Civic, especialmente das versões Si. Mas faltava dirigir a versão nacional. Justamente a geração com mais alma e que tenho como preferida, mas que não havia dirigido até então.
Por isso, Auto+ e Alma Automotiva (@almautomotiva) se juntaram em uma parceria para promover esse encontro. Duas unidades do Civic Si, um do modelo pré-reestilização e outro com o visual renovado, foram gentilmente cedidas por colecionadores de São Paulo para esse teste retrô.
Aspirado no mundo dos turbo
Hoje em dia um esportivo fora das marcas de luxo precisa de um motor turbo para se manter dentro da legislação. Salvo a rara exceção do Renault Sandero RS. Mas em 2007, quando o New Civic Si foi lançado, isso não era problema. Ele contava com motor 2.0 quatro cilindros aspirado de 192 cv e 19,2 kgfm de torque.
São números que o Civic de hoje em dia não consegue alcançar. Os modelos 2.0 aspirados entregam 150 cv, enquanto o Touring com seu motor 1.5 turbo chega aos 173 cv. Em compensação, o Civic moderno da um banho no Si em torque: os aspirados entregam 19,5 kgfm, enquanto o turbo vai a 22,4 kgfm.
A grande diferença para os padrões atuais está na entrega dessa potência e torque. Por conta do sistema VTEC, o Civic Si tem seu pico de força entregue bem tarde: 6.100 rpm para o torque e 7.800 rpm para a potência.
A famosa “vtecada”
Esse sistema de controle de sincronização e abertura variável de válvula cria dois comportamentos diferentes ao Civic Si. Em baixa rotação, ele entrega força suficiente para o dia-a-dia na cidade e um ronco relativamente contido. É surpreendente como ele é civilizado para um esportivo. Mas basta atingir regimes mais altos que ele surpreende com força a mais e o barulho do motor se modifica.
A tal “vtecada” como os entusiastas gostam de chamar é diferente do soco dos motores turbo com delay no acionamento. Existe um nítido degrau entre o momento em que as válvulas estão mais abertas e mais fechadas. No mundo das sensações, parece que o Civic Si ganha instantaneamente algo entre 50 cv e 10 kgfm a mais de torque.
Isso tudo junto a um sorriso no rosto trazido pela força a mais e pelo som do motor mais alto e encorpado. Tudo bem que são números que, para os tempos atuais, não parecem tão entusiasmantes. E de fato em uma linha reta não são, afinal levar 7,9 segundos para chegar aos 100 km/h não é mais impressionante hoje em dia.
Afiado como uma lança
A grande questão do Honda Civic Si, em especial o New Civic, nunca foi a entrega de números de potência estonteantes ou acelerações de colar no banco. Seu charme e a verdadeira esportividade estão na entrega de diversão ao volante em pistas e estradas sinuosas.
O sedã médio da Honda é conhecido por ser um engolidor de curvas mesmo em seus formatos mais tradicionais. Só que o Si leva isso a outro patamar. Com pneus 215/45 R17 e suspensão mais firme que os irmãos, o esportivo faz curvas grudado no chão. Impressiona a compostura do sedã em viradas mais fortes com o pé em baixo.
Contribui também para esse comportamento a direção extremamente direta e firme. Basta mexer levemente o volante que a dianteira aponta na mesma direção. É um dos acertos mais rápidos e precisos entre os esportivos que já pilotei. E observe que é um carro com projeto que fará em breve 15 anos!
Contudo, confesso: meu ponto preferido do Honda Civic Si é, sem dúvida, o câmbio manual de seis marchas. Mesmo em 2021, algumas fabricantes parecem não ter aprendido a fazer um bom câmbio manual. Mas esse do sedã japonês é algo próximo ao que seria uma referência máxima.
Ainda que seja conhecido pela chatice para engatar a ré, o câmbio é uma delícia de usar no dia-a-dia. Tem engates extremamente curtos, preciso e rápidos. A manopla de câmbio pequena e em posição elevada ajudam nas trocas mais entusiasmadas em alta velocidade.
Até mesmo o barulho metálico das trocas traz uma sensação nostálgica dos melhores tempos do Need For Speed Underground. A embreagem dura e baixa com curso curto ajuda a tornar toda operação das trocas ainda mais eficiente. Além disso, os pedais próximos e alinhados transformam o Civic Si no rei do punta-tacco.
Contrastes da modernidade
É inegável como o estilo do New Civic não envelhece. Até hoje ele é um carro evidentemente bonito e moderno. Só não em tamanho: pois com 4,48 m de comprimento, 1,75 m de largura e 1,45 m de altura, hoje em dia ele tem as mesmas medidas de um sedã compacto como o Chevrolet Onix Plus.
Ironicamente é na cabine onde o contraste maior de tempo se faz presente. Se você esquecer que o rádio é visualmente integrado ao painel a ponto de ser impossível colocar por ali uma central multimídia que não fique estranha, o interior do New Civic ainda parece moderno.
Seu charme maior é o painel dividido em dois andares com a parte superior digital sendo vista por cima do volante, tal qual nos Peugeot modernos. Já o painel inferior serve somente ao conta-giros. É um layout minimalista, que mostra claro foco na dirigibilidade.
Além disso, há todo um desenho que parece feito para abraçar o motorista e isolá-lo do passageiro, criando um ambiente mais individualista. Isso é reforçado pela posição das saídas de ar mais centralizadas a cada passageiro. O desenho horizontalizado é moda até hoje em dia.
Influenciado pelas minivans, o New Civic tem vários porta-objetos no console central. Isso só foi possível pelo formato inusitado do freio de mão, que nessa época nem sonhava em ser eletrônico.
No Si, a Honda deixou todo o interior escurecido, criando uma atmosfera mais esportiva. Os bancos recebem revestimento em suede com costuras vermelhas e parecem prontos para um Civic de 2021. Ainda como destaque as abas laterais bem pronunciadas e a amplitude de ajustes.
Só não está pronto para os dias atuais o acanhado espaço traseiro e o porta-malas de tímidos 340 litros – existem hatches com porta-malas maiores que os do New Civic.
Veredicto
O Honda Civic Si produzido no Brasil já tem o status de clássico mesmo faltando ainda tantos anos para esse título de oficializar. É um carro que anda como um modelo moderno, mas ainda preserva as qualidades de antigamente: motor aspirado girador, câmbio manual quase perfeito e proporções mais compactas.
Se der sorte de encontrar um modelo original por aí por um bom preço, não tenha dúvidas em leva-lo para casa. Ele é cada vez mais raro, frequentemente modificado e está se tornando mais caro com o passar do tempo. Admito que agora sigo tentado a ter um New Civic Si na garagem.
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