Não é fácil começar uma marca nova no Brasil, especialmente quando se trata de uma chinesa. É preciso lidar com um mercado muito fechado, cheio de gostos específicos e extremamente preconceituoso com marcas chinesas e francesas. Mas a GWM com o Haval H6 quer uma bela fatia do bolo. E, sinceramente, há muito potencial para isso.
Os planos da marca são ousados, começando com a fábrica em Iracemápolis (que era da Mercedes-Benz), passando pela contratação de executivos fortes de diversas montadoras e o objetivo claro: brigar com a Toyota, não com a CAOA Chery. Para isso, todo GWM vendido no Brasil será eletrificado, como o Haval H6 é.
Layout do Brasil
SUV mais vendido da China em 2021 e sétimo SUV médio mais vendido do mundo, o Haval H6 foi a escolha mais sensata da GWM para o Brasil. Afinal, começar com seu produto mais vendido no mundo é uma maneira de já criar expectativa de uma boa recepção. Mas, a marca não dormiu no ponto e já fez mudanças para o Brasil.
Começa pelo conjunto mecânico. A combinação de motor 1.5 quatro cilindros turbo a dois motores elétricos, sendo um na traseira, não é aplicada em nenhum Haval H6 pelo mundo. Esse sistema veio dos luxuosos Wey e é uma tentativa da Great Wall de se diferenciar no mercado e usar do truque 4×4 do Compass 4xe, que custa bem mais caro que o Haval.
A GWM não divulga torque ou torque específico do conjunto, mas promete 393 cv combinando todos os motores e chegar aos 100 km/h em 5,5 segundos. Na prática, o funcionamento do sistema é bem curioso. O Haval H6 é basicamente um carro elétrico, sendo movimentado pelos motores elétricos, enquanto o combustão auxilia ou os carrega.
Somente em alta velocidade que o motor a combustão entra em ação, pois é a situação onde o elétrico mais gasta. Mas, na hora de acelerar, primeiro o Haval H6 larga forte e em silêncio, depois o motor a combustão começa a acelerar para carregar o conjunto elétrico. Por volta dos 80 km/h entra mais força e o motor ronca mais alto, fazendo o SUV disparar.
Ele é bem rápido e tem muito mais agilidade que o Compass 4xe, além de mais econômico. Segundo medições feitas pela GWM para homologação no Brasil, o Haval H6 chega a marcar 28,7 km/l na cidade e 25,3 km/l na estrada. A promessa é de 1.000 km com um tanque e baterias carregadas, tal qual o BYD Song Plus.
Acertos futuros
Durante o breve teste em que experimentei o GWM Haval H6, a marca fez questão de frisar que o SUV ainda não está no acerto final de suspensão e direção, mas que muito já foi feito. O acerto típico chinês é de suspensão molenga como pudim e instável, junto a direção mais leve que chantily. Só que esse não é mais o caso do Haval.
Ele tem suspensão mais firminha, com acerto dinâmico bem interessante. Ainda rola um pouco nas curvas e inclina mais do que deveria, mas o caminho que a GWM está traçando é muito bom, mostrando que ela entendeu o gosto do brasileiro por carros mais firmes e de pegada esportiva.
O mesmo vale para a direção, que é rápida e direta, mas que ficará ainda mais firme com as próximas atualizações feitas pela engenharia. Do jeito que está, já é melhor que a média da categoria. Só merecia um volante menor, pois o usado é enorme, o que fica ainda mais evidente pelo painel de instrumentos digital com tela relativamente pequena.
Andar acima
Já que o interior entrou em pauta, essa é a grande arma de convencimento do Haval H6. A GWM caprichou no acabamento, usando superfícies macias ao toque nas portas e porção superior do painel. Só derrapou em alguns plásticos de baixa qualidade nas saídas de ar e nas portas traseiras.
Além disso, os elementos em preto brilhante na porta ficam em uma região que vai riscar com o tempo. O console central alto e com parte inferior vazada chama atenção pela qualidade de montagem e quantidade de porta-objetos. Até as saídas USB foram bem posicionadas de maneira a facilmente serem acessadas, mas deixando espaço para guardar o celular.
Por falar em espaço, o GWM Haval H6 vem para ser referência nesse quesito. Chinês adora espaço traseiro farto por conta da cultura de motorista particular, mesmo para a classe média. Por isso, mesmo uma pessoa com 1,87 m de altura, como eu, senta atrás de um motorista igualmente alto e pode cruzar as pernas. Porta-malas, com abertura elétrica, leva 560 litros.
O couro usado nos bancos e volante é de qualidade, mas não chega ao nível de uma marca de luxo – até porque esse não é objetivo do H6. Central multimídia tem boa definição e é fácil de mexer, contando com Android Auto e Apple CarPlay. Mas a GWM garante que ela só está 60% pronta. A marca mira na VW Play como grande referência para a sua central feita para o Brasil.
Preto, não cromado
Entre as mudanças feitas para o Brasil, estão o acabamento interno em preto e a substituição de cromados no exterior por preto brilhante. O acabamento escurecido foi aplicado na borda das janelas, régua da placa traseira e friso nas portas. A frente ainda traz cromados na grade frontal e bigodes a lá Peugeot 3008, mas o resultado é de um belo SUV.
As rodas de liga-leve são exclusivas para o modelo brasileiro, sendo aplicadas em outro Haval lá fora, mas não especificado pela GWM. Além disso, a marca reduziu o espaçamento das letras Haval na traseira, enquanto o logotipo dianteiro ganhou um novo tom de azul – mas que deve mudar pois nem internamente agradou.
A lista de itens de série será generosa, com teto solar elétrico, piloto automático adaptativo com assistente de desvio de veículos grandes e redução automática de velocidade em curvas, head-up display, ar-condicionado digital de duas zonas, internet para atualização do carro, assistente de manobra reversa, park assist e reconhecimento de placas.
Veredicto
Com uma estratégia ousada de abrir diversas concessionárias, oferecer assinatura por preços mais justos e direto no site, além de comprar uma fábrica antes mesmo de iniciar suas atividades no Brasil, a GWM já vem com força total para o nosso território. Mas nada adiantaria se não tivesse um produto a altura.
O Haval H6 entrega um conjunto eficiente e forte, embalado em uma bela e espaçosa carroceria de SUV. Seu sucesso dependerá muito do preço e de como o mercado brasileiro vai ler e entender essa nova montadora. Potencial para fazer sucesso existe, basta a estreia acontecer.
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