Quando pensamos na Yamaha, rapidamente associamos o nome a instrumentos musicais ou motos. No entanto, a fabricante japonesa não vive só de pianos e veículos de duas rodas, já que produz um monte de veículos e motores, e nos anos 1990 ela esteve bastante perto de lançar um supercarro com motor de Fórmula 1.
Para relembrar como isso quase aconteceu, é preciso voltar mais alguns anos no tempo. Na década de 1960, um projeto da Yamaha deu origem ao Toyota 2000GT, enquanto que nos anos 1980 ela foi parceira da Ford e ajudou no desenvolvimento dos motores SHO da americana.
Com esse conhecimento no mundo automotivo, a Yamaha ousou sonhar mais alto e decidiu entrar na Fórmula 1 em 1989, para usar a categoria como um laboratório. Naquele ano, os motores voltaram a ser aspirados, o que diminuiu o custo e fez a japonesa sonhar em desenvolver um V12 para a categoria.
O problema é que o motor não ficou pronto a tempo da temporada, e o jeito foi utilizar um V8 com pouca potência para impulsionar os bólidos da pequena Zakspeed. A temporada foi um fracasso, e com o fim da equipe, a Yamaha precisou tirar um ano sabático em 1990.
Volta
Para 1991, o V12 3.5 da Yamaha enfim estava pronto. A parceira dessa fez foi a Brabham, que já estava perto de falir, mas ao menos era bem mais estruturada que a Zakspeed. O motor OX99 (guarde este nome) impulsionou a equipe durante aquele ano, mas a Brabham só pontuou em duas corridas, o que fez a Yamaha ir para a Jordan, em 1992, e para a Tyrrell, entre 1993 e 1996.
A última temporada na Fórmula 1 foi em 1997, quando os japoneses passaram a fornecer motores para a Arrows, que mudou de dono naquele ano e trouxe o campeão de 1996, Damon Hill, a peso de ouro.
Nesse ano, o motor já era um V10, e a Arrows estava longe de ser uma das melhores do grid, mesmo com um campeão do mundo no cockpit. Só que a equipe, e a Yamaha, quase conseguiram a primeira vitória no GP da Hungria. Hill liderava, quando seu acelerador começou a ter problemas quando faltavam três voltas para o final. Jacques Villeneuve, que seria o campeão de 1997 com a Williams, ultrapassou o antigo companheiro de equipe e fez Hill se contentar com o segundo lugar, mesmo com o carro capenga. Este foi o melhor resultado da Arrows no ano, e da Yamaha na Fórmula 1, que se despediu da categoria no fim daquela temporada.
Projeto de supercarro da Yamaha
No entanto, por mais que a passagem da Yamaha pela F1 não tenha sido memorável, ela serviu para a empresa criar um supercarro. Quando os japoneses fecharam com a Brabham, em 1992, eles desenvolviam em paralelo o projeto de seu carro.
Inicialmente, o OX99-11 (falei para guardarem o nome) seria um monoposto, mas a Yamaha queria um carro de dois lugares. Essa foi a base para o desenvolvimento do supercarro, que passou a ser projetado para ter o assento do passageiro atrás do banco do motorista, como em um avião caça.
Assim nasceu o OX99-11, que recebeu uma carroceria aerodinâmica feita em alumínio e tinha chassis de fibra de carbono. O motor era um 3.5 V12 Yamaha inspirado no propulsor da Fórmula 1, com 400 cv e capacidade de atingir 10 mil rpm. Se a potência não surpreende hoje, nos anos 1990 era algo absurdo.
Segundo a fabricante, o supercarro atingiria os 100 km/h em 3,2 segundos, e continuaria a acelerar até os 350 km/h. O câmbio era um manual de seis marchas, em uma época que até na F1 a transmissão sequencial ainda era novidade.
Quase venda
A Yamaha produziu três unidades do esportivo. O mais popular é o vermelho das fotos, já que foi utilizado para divulgar o projeto. Já o segundo foi um preto, enquanto que um exemplar verde foi utilizado para testes da empresa.
Só que a Yamaha se desentendeu com as empresas que a ajudavam no desenvolvimento do projeto. E, para piorar, o Japão vivia uma forte recessão econômica na metade dos anos 1990, o que forçou a fabricante a desistir do projeto antes da produção.
Dessa forma, o OX99-11 nunca foi vendido oficialmente, mas uma unidade foi vendida há alguns anos. Justamente o modelo verde, que foi comprado por algum milionário por US$ 1,3 milhão.
Yamaha e o motor do Lexus LFA
A Lexus sempre foi uma marca de luxo discreta, com carros tão empolgantes quanto um quarto pintado de bege. No entanto, há uma exceção: o Lexus LFA, que foi lançado em 2010, só teve 500 unidades feitas e é o único supercarro da fabricante até hoje.
E a Yamaha foi fundamental para o carro, já que ela ajudou a Toyota a desenvolver seu motor 4.8 V10 aspirado, e que tem um dos melhores roncos de todos os tempos. Ou seja, mesmo que seu supercarro tenha fracassado, ao menos a Yamaha ajudou a Lexus a dar ao mundo um dos melhores esportivos da história.
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