Desde que foi lançada, em 2016, a Fiat Toro é a segunda caminhonete mais vendida do Brasil. E há muitas razões para isso, especialmente porque a Stellantis soube posicionar muito bem seu modelo. Com tamanho perfeitamente intermediário entre uma picape compacta e uma média, a Toro é a solução para muita gente.
Só que, de todas as versões da picape, a mais esquecida é a Endurance. Vendida só com motor flex por R$ 146.990, ela é a porta de entrada daqueles que querem levar uma Toro para casa. Mas também, o preço que se paga por uma Renault Oroch ou uma Chevrolet Montana topo de linha.
Pacote a contento
Mas por que essa versão vende tão pouco? Simples: a falta de firulas e itens que dão status. Só que, sinceramente, nessa variante há praticamente tudo que você precisa no mundo real. Confesso que o único item que senti verdadeira falta foi a câmera de ré, mas o sensor já resolvia boa parte da vida.
De série, a versão Endurance traz seis airbags, controle de tração e estabilidade, luz diurna de LED, monitoramento de pressão dos pneus, assistente de partida em rampa, ar-condicionado, volante com ajuste de altura e profundidade, banco com ajuste de altura e vidros elétricos nas quatro portas com função um toque.
Há ainda central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, painel de instrumentos totalmente digital, comandos de som no volante, chave canivete, retrovisores elétricos e piloto automático. Ítens como frenagem autônoma de emergência e outras partes do sistema ADAS, só em versões mais caras.
Só que a grande questão dessa versão é que ela aparenta ser mais simples do lado de fora. As rodas de 16 polegadas são cobertas por calotas, que disfarçam muito bem, mas são pequenas para o visual da Fiat Toro Endurance. Além disso, maçanetas e retrovisores recebem acabamento de plástico preto.
A grade frontal não tem um cromado sequer e o acabamento é fosco. Além disso, o rack de teto é menor, englobando somente a traseira da picape. Era a peça que originalmente servia às Toro equipadas com teto solar elétrico. Há também menos opções de cores, sendo o Vermelho Montecarlo a única tonalidade grátis.
Jogo de aparências
Por dentro, só alguns detalhes denunciam ser a versão de entrada. Como a maioria dos Fiat, o acabamento da Toro é bom. Os plásticos presentes na cabine são bem encaixados e contam com texturas diferentes, o que leva a uma impressão de mais qualidade.
Na Toro Endurance, a faixa central do painel traz acabamento que imita aço escovado, algo que deu uma aparência mais sofisticada à picape, algo não esperado em uma versão de acesso. O que denuncia a maior simplicidade dessa versão é o volante sem revestimento de couro.
O tecido usado nos bancos também é relativamente simples, mas a parte interna em trama cinza dá um contraste interessante. Diferentemente do Jeep Renegade sem nome e do Sport, a Toro traz painel de instrumentos totalmente digital igual ao do Fiat Pulse e do Fastback nas versões mais caras.
A tela tem boa definição e uma quantidade boa de funções diferentes. Já a central multimídia surpreende. Apesar de ser o modelo mais simples presente na Toro, ela tem ótima definição, é rápida e fácil de mexer. A conexão com Android Auto e Apple CarPlay sem fio é uma praticidade que o Argo deveria aprender com sua irmã.
Questões ergonômicas
Um dos pontos em que mais estranhei na Toro Endurance foi a ausência do descanso de braço central. Em seu lugar, só o porta-objetos padrão, mas sem qualquer tipo de tampa ou cobertura. Isso tira alguns pontos na ergonomia, ainda que o ajuste do banco e volante permita encontrar a posição de dirigir perfeita.
Só quem se senta atrás que sofre. O banco traseiro é muito ruim. O encosto é reto demais, fazendo com que as viagens fiquem rapidamente cansativas. Além disso, o espaço para as pernas é acanhado, fazendo com que seja impossível sentar-se mais à frente para aliviar a inclinação do encosto.
Some isso ao fato de que o banco é bem alto e a coluna traseira bem inclinada e terá na Fiat Toro uma das referências mais negativas da categoria no quesito espaço interno. Vale lembrar também que a Toro Endurance não tem saída de ar para o banco traseiro, então em dias quentes, passará calor lá atrás.
Na caçamba, a Fiat declara 937 litros com 750 kg de capacidade. Ela traz de série a capota marítima, algo que praticamente todas as fabricantes de picapes médias insistem em miguelar. A tampa traseira com abertura lateral permite peças mais leves e mais facilidade de alcançar o fundo da caçamba. Há luz interna.
Passado manco
Antigamente, a Fiat Toro flex era sinônimo de carro manco e beberrão. Só que agora as coisas estão bem diferentes. Com o motor 1.3 quatro cilindros turbo flex, a picape acelera de 0 a 100 km/h em 10,6 segundos. Isso porque a Stellantis deu tudo que tinha nesse motor, entregando 185 cv e 27,5 kgfm de torque.
Ela virou o jogo totalmente. É rápida, esperta e até arranca cantando pneu. Diferentemente do acerto da transmissão automática de seis marchas dos modelos da Jeep, a Toro é mais arisca, com trocas mais tarde e leves trancos sentidos a cada mudança. Só que o câmbio reage mais rápido e deixa a Toro mais arisca.
Só o consumo que segue sendo um problema latente da Fiat Toro. É proporcional: o tanto que ela anda, ela bebe. Oficialmente são 9,5 km/ na cidade e 11,2 km/l na estrada com gasolina. Em nossos testes, a Toro marcou 8,5 km/l de média com gasolina na estrada e 6,5 km/l na cidade abastecida com gasolina.
Ao colocar etanol, o consumo caiu para 5,8 km/ na cidade e 8 km/l na estrada. Oficialmente, o combustível derivado da cana deveria fazer a Toro marcar 6,6 km/l na cidade e 7,9 km/l na estrada. Por sorte, o tanque de 55 litros garante uma autonomia relativamente aceitável para a picape bebum.
Toque italiano
Mas se há um ponto em que a Fiat Toro se destaca muito frente à Renault Oroch e Chevrolet Montana, é na dirigibilidade. O toque da paixão italiana por carros fica nítido na dinâmica da picape. Ela é gostosa de dirigir e nitidamente bem robusta. Passar por buracos e valetas com a Toro é brincadeira.
Ela mal sente o asfalto lunar brasileira e engole os buracos com a mesma facilidade que o Pulse Abarth faz curvas. O isolamento da suspensão é muito elogiável, tanto no quesito ruído, quanto na absorção de impactos e imperfeições. A carroceria rola nas curvas e inclina em níveis aceitáveis para um SUV (e olha que ela é uma picape).
A direção é bem calibrada e rápida. Diferentemente do Fiat Argo que tem calibração excessivamente leve na hora de dirigir, a Toro ainda pende para uma leveza desnecessária, mas em níveis mais aceitáveis. Na hora da manobra, é uma manteiga, enquanto em alta velocidade, assume firmeza.
Veredicto
Apesar da aparência externa basicona, a Fiat Toro Endurance tem tudo que se faz necessário em uma picape de sua categoria e ainda com a vantagem de ter um interior mais refinado do que espera-se. Além disso, é boa de dirigir. Mas tem seus pecados: bebe demais e a segunda fileira é muito apertada.
Tecnicamente, ela é um carro bem superior à Chevrolet Montana e à Renault Oroch com preços similares. Contudo, fica devendo diversos itens de série que pairam entre o supérfluo e o desejável. Se, para você, é possível abrir mão de alguns itens, a Toro Endurance é uma pedida sem erro.
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