Em 2020 o Fiat Mobi não passava de um coadjuvante no mercado brasileiro. Ele fazia parte de um segmento que perdeu dois modelos em pouco tempo (Chery QQ e Volkswagen up!) e que não conquistava mais o brasileiro pela fórmula de baixo custo. Mas bastou a Fiat fazer mudanças nas versões e uma nova grade para que ele reascendesse no mercado.
E não somente isso, algumas melhorias técnicas às escondidas também foram feitas, o que levou o subcompacto a ser um dos cinco carros mais vendidos do Brasil. Mas o que fez agora do Fiat Mobi tão atraente? Testamos a versão topo de linha Trekking de R$ 59.990, mas que sai por R$ 64.540 se quiser um modelo idêntico ao das fotos.
Pacote de custos
Mês ou outro, o Fiat Mobi é o carro mais barato do Brasil. Ele alterna as posições com o Renault Kwid, mas sempre em suas variantes de entrada. A versão Trekking, no entanto, tenta apelar para o lado emocional – já que custa o mesmo que a versão 1.0 basicona do Argo.
Para conquistar, ele traz suspensão elevada, para-choques aventureiros e para-lamas alargados com plástico preto – recursos também presentes na versão intermediária Like, a com melhor custo benefício. Como diferencial, tem teto com pintura preta, rack de teto, adesivos na lateral e traseira, além de rodas escurecidas.
A versão avaliada ainda trazia alguns mimos opcionais que elevavam seu preço em quase R$ 5 mil. Começa pelo Pack One de R$ 1.500 com volante com regulagem de altura, sensor de ré, cinto com ajuste de altura, comando interno para abertura do porta-malas e retrovisor elétrico com tilt-down. Pelo preço, o pacote vale à pena.
Já o Pack Style com rodas de liga-leve de 14 polegadas e faróis de neblina por R$ 2.300 pode ser repensado se há real necessidade. Vale ressaltar que a Fiat cobra R$ 750 pelas cores sólidas Branco Banchisa e Vermelho Montecarlo. Já o Cinza Silverstone é metálico e adiciona R$ 1.600 à conta. Os preços, é claro, são maiores em São Paulo, atingindo R$ 66.614 no total da conta.
Reduções e avanços
Para custar menos que os outros carros, o Fiat Mobi precisou fazer algumas economias, especialmente por dentro. As portas são feitas de plástico duro e praticamente em uma peça só. O painel é simples, mas bem trabalhado em texturas para criar um contraste e deixar a cabine mais agradável.
São materiais simples, mas de qualidade evidentemente superiores a de seu principal rival, o Renault Kwid. Ao menos a ergonomia é aceitável, com comandos fáceis e operar e sempre à mão. Os pedais poderiam ser um pouco mais espaçados e o volante ter ajuste de profundidade para ajudar a encontrar uma posição melhor para dirigir (que é naturalmente alta).
O contraste fica por conta do painel de instrumentos simplório e a central multimídia moderna. Conta-giros pequeno fica ao lado de um gigante velocímetro, que é acompanhado de uma tela monocromática com pouquíssimas funções no computador de bordo. Falta até um velocímetro digital, que seria mais do que bem-vindo e está presente no Argo basicão.
Já a central multimídia tem tela de ótima definição, com tela de tamanho suficiente e boa quantidade de brilho. Ela é veloz em sua operação e roda o Android Auto e o Apple CarPlay sem engasgos e de maneira fluida, mesmo na conexão sem cabo. Entrada USB no console é bem posicionada e é capaz de carregar bem o celular.
Bancos tem espuma mais mole do que deveriam e o encosto de cabeça fixo fica bem recuado, não dando o apoio suficiente. Mas as coisas começam a apertar, literalmente, na fileira de trás. Motorista e passageiros altos fazem com que fique impossível a utilização dos bancos traseiros. Já o porta-malas de 235 litros sofre até para levar uma mochila.
Heranças do Mille
Um dos pontos em que os clássicos Fiat Uno, Mille e Palio sempre foram conhecidos é por sua robustez. E os subcompactos, pelo contrário, sempre passaram a sensação de não ter esse atributo. Não é o que acontece com o Mobi. Ele honra o legado dos seus antecessores Fiat, ainda que tenha apenas 3,56 m de comprimento, 1,66 m de largura e 1,55 m de altura.
A suspensão da versão Trekking (e também da Like) é elevada e reforçada em relação ao que o subcompacto oferecia antigamente. Isso se traduz em uma maior valentia na hora de atropelar uma tartaruga ou cair em um buraco. Ele não é um mini Jeep Renegade, mas vai enfrentar as intemperes urbanas com surpreendente robustez.
Faz falta
O que o Fiat Mobi merecia, no entanto, ele já teve e a Fiat abandonou. O motor 1.0 Firefly que está hoje no Argo deveria ter continuado no subcompacto, ao menos na versão intermediária e na aventureira Trekking, visto que o 1.0 Fire de hoje é insuficiente. Com apenas 75 cv e 9,9 kgfm de torque ele não anda bem e não é tão econômico quanto poderia.
O Mobi já sente fraqueza quando leva um passageiro à bordo além do motorista, exigindo constantes reduções e acelerações mais vigorosas. O motor antigo não dá conta do recado e demora a embalar, tanto que chega aos 100 km/h em 13,8 segundos. E mesmo sendo um quatro cilindros, é um tanto quanto áspero, mas produz um ronquinho interessante.
Em conjunto está a transmissão manual de cinco marchas com engates longos, imprecisos e borrachudos. Na estrada, em quinta marcha, o motor fica girando alto, mas se faz necessário para não perder o ritmo em um local em que ele não se sente tão à vontade. Tanto que o consumo cidade e estrada não é muito diferente.
Segundo o INMETRO, o Mobi faz 8,9 km/l na cidade com etanol e 10 km/l na estrada com o mesmo combustível. Em nossos testes, porém, ele ficou com média dentro do esperado: 9,3 km/l com trecho 50% estrada e 50% cidade. O motor Firefly aqui resolveria dois problemas em um: tornaria o Mobi mais gostoso de dirigir, mais esperto e bem mais econômico.
Outro ponto está na direção hidráulica. O Mobi já teve direção elétrica e ela deveria ter ficado. O atual conjunto é pesado nas manobras e leve demais na estrada. Ao menos o volante tem boa empunhadura e úteis comandos de som de série que facilitam um pouco a vida.
Veredicto
A proposta essencialmente urbana do Fiat Mobi se comprova satisfatória no fim das contas. Como um segundo carro ou alternativa essencialmente para os deslocamentos diários, ele entrega robustez, conforto e praticidade. Mas existem alguns pontos a serem notados, como o fato de não ser tão econômico quanto deveria e ter um porta-malas praticamente inexistente. Além disso, merecia novamente o motor Firefly e a direção elétrica para ficar verdadeiramente atrativo. Um câmbio manual melhor também seria bom de se ver.
Se optar por um Mobi, escolha a versão intermediária Like que tem os itens necessários e é bem mais barata que a Trekking. Contudo, se sua opção ainda for o modelo aventureiro, cogite olhar com mais carinho um Hyundai HB20 Sense ou juntar um pouco mais por um Argo 1.0 sem nome. São menos equipados, mas mais prazerosos ao volante e mais espaçosos.
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