A frase “o que os olhos não veem, o coração não sente”, não poderia ser mais justa a outro modelo que não ao Citroën C4 Cactus THP. Isso porque, ao olhar para ele, parece um SUV compacto com espaço interno apertado, acabamento simples e visual exótico. Mas quem dá uma chance a ele e o dirige, percebe o quanto as três letras THP fazer diferença.
Lançado no Brasil em 2019, o Citroën C4 Cactus não havia mudado desde então. Só que a linha 2024 trouxe alterações internas, redução de preço e até algumas mudanças na carroceria. Precisava de uma reestilização de fato, mas é algo que aparentemente não vai acontecer com o modelo por aqui.
Mas ao pensar que o Cactus THP sai por R$ 129.990 na compra online, dá para perceber onde a Citroën quer o colocar. O modelo, que segurou as pontas da marca por um bom tempo, agora aposta no fortíssimo custo-benefício. Afinal, trata-se de um SUV compacto com motor turbo forte e que cola no Pulse Abarth, mas cobrando menos.
Três letras mágicas
Sabendo a diferença que a sigla THP faz, a Citroën trouxe de volta o nome para a traseira do C4 Cactus na reestilização. As três letras significam que debaixo do capô reside um 1.6 quatro cilindros turbo de 173 cv e 24,5 kgfm de torque. É um motor já antigo, que foi concebido com a BMW.
Só que, sua idade já longeva reflete em uma enorme facilidade de preparação e em uma robustez extra por conta dos aprimoramentos lentos que foram feitos ao longo do tempo. Some isso ao baixo peso do Cactus (1.214 kg) e terá um SUV que faz de 0 a 100 km/h em 7,7 segundos apenas. Ou seja, 0,1 segundo atrás do Pulse Abarth, que é esportivo de fato.
O motor THP é ligado a uma transmissão automática de seis marchas que mostra certos sinais de idade. O câmbio faz trocas ascendentes demoradas e com eventuais trancos. Mas é bem calibrado. Sabe o momento de segurar marcha e rapidamente desce as marchas também em boa velocidade quando se faz necessário.
Como resultado, o C4 Cactus THP anda igual a um canhão. Acelera forte, retoma rápido e tem uma inegável vontade de andar em altas velocidades. O consumo não cobra tanto, surpreendentemente. Durante nossos testes, fez média de 8,6 km/l com etanol em trecho misto de cidade e estrada. Oficialmente faz 8,2 km/l em uso urbano e 9,5 km/l na rodovia.
Especialidade da Citroën
Uma coisa que sempre a Citroën soube bem acertar é em suspensão e direção. E isso ficou claro no Cactus. O motor THP é forte e precisa de um conjunto à altura para controlá-lo. Por isso, a suspensão é mais firminha, com pouca tendência a rolagem e atuação mais voltada a performance em asfalto do que o comportamento de SUV.
Por isso que, na realidade, o C4 Cactus era classificado como hatch médio na Europa. É nesse momento que você percebe que ele é, na essência, exatamente isso. Se comporta como um modelo rival do Chevrolet Cruze RS, não do Volkswagen T-Cross. Ainda que nitidamente um hatch médio de salto alto.
Como os pneus são borrachudos e o curso de suspensão é longo, ele se comporta melhor na buraqueira típica do Brasil. Ou seja, o bônus da dirigibilidade de um hatch médio sem o ônus desse tipo de carro que sofre em ruas ruins. Já a direção, típica Citroën. É bem leve nas manobras e dura igual a uma pedra em alta velocidade (o que é ótimo), além de direta.
Aviso sim, mas de um jeito chato
Considerando a categoria em que o Citroën C4 Cactus está, a versão THP Shine Pack vem relativamente bem equipada. Mas, com uma certa derrapada. O sistema de alerta de colisão com frenagem autônoma de emergência exibe um aviso de proximidade do carro à frente na central multimídia, bloqueando a visão do GPS. E faz isso toda hora.
Já o sistema de alerta de invasão de faixa não corrige o volante e avisa o motorista com o mesmo barulho das fritadeiras do McDonald’s quando a batata frita estava pronta. Dirigir esse carro com fome era algo que despertava gatilhos. Além disso, tem como item de série seis airbags e controle de tração e estabilidade na parte de segurança.
Entre os mimos, temos ar-condicionado digital automático de uma zona, vidros elétricos nas quatro portas com função um toque, painel de instrumentos digital (mas simplório), central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay, sensor de chuva e de farol, rodas de liga-leve de 17 polegadas, chave presencial e revestimento interno de couro.
Parente do C3
Um dos pontos que deixa claro que o posicionamento da Citroën no Brasil é de fato como marca de entrada da Stellantis é o que foi feito no interior. O C4 Cactus sempre teve um acabamento ok para a categoria, mas que foi simplificado em alguns pontos, enquanto ganhou melhorias em outros.
O Cactus THP sempre teve uma faixa de material emborrachado macio no painel, que era acompanhado por uma tira de tecido. Não mais. Agora todas as versões usam a mesma superfície de plástico rígido. Além disso, mesmo o THP que tem bancos em couro, mantém tecido nas portas e no apoio de braço central, revelando uma falta de cuidado.
Os plásticos ainda são bons, melhores do que o de um Volkswagen T-Cross, mas abaixo de um Hyundai Creta. É simples, mas bem montado, sem rebarbas e sem barulheira. O console central é todo novo, trazendo carregador de celular por indução com saída de ar – algo herdado dos Fiat brasileiros – além de porta-copos e três entradas USB.
A central multimídia também é nova, sendo a mesma do C3 e do 208. Ou seja, uma tela muito fácil de mexer, com bons gráficos, qualidade boa e Android Auto e Apple CarPlay sem fio. Mas, tal qual seus parentes, uma central que ama travar e apresentar bugs aleatórios, especialmente falhas na conexão com celulares e congelamento de tela.
Lado hatch médio
Se na dinâmica o Citroën C4 Cactus se parece com um hatch médio, no espaço interno a história é a mesma. Ele é um carro apertado, especialmente para quem se senta atrás. Há pouco espaço para as pernas e até para a cabeça, sendo necessário deixar os passageiros menores por lá.
Na frente, quem fica ao lado do motorista tem uma excessivamente alta posição de sentar, mesmo problema enfrentado pelo C3. Já o motorista, tem regulagem de altura para o banco, enquanto o volante também tem ajuste de altura e profundidade. Ou seja, encontrar a posição ideal é fácil e convidativo.
Porta-malas de 320 litros está na média para um hatch compacto, mas longe de qualquer referência entre os SUVs compactos. Além disso, a tampa é alta, fazendo com que seja difícil colocar e retirar objetos pesados de dentro do espaço. São pontos nos quais fica extremamente claro que o C4 Cactus não é para quem preza por espaço.
Veredicto
Definitivamente não há nada mais divertido que o Citroën C4 Cactus por R$ 130 mil. O preço do modelo é pouca coisa acima de um hatch compacto topo de linha ou equiparável aos seus rivais em versão de entrada. Só que ele entrega mais diversão ao volante e uma melhor aptidão para o uso urbano.
Espaçoso ele não é, muito menos tem um porta-malas grande. Só que o Cactus THP entrega diversão ao volante de maneira que só os falecidos hatches médios conseguiam ou que só o Fiat Pulse Abarth tem. Quer algo divertido de andar e que não seja espalhafatoso? Ele é o seu carro. Quer um SUV compacto de fato, melhor olhar para o C3 Aircross ou outra coisa.
Você teria um C4 Cactus THP na garagem? Conte nos comentários.
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