Já reparou como as propagandas da CAOA Chery são exageradas? Sempre colocando seus carros como o melhor do mundo em alguma coisa, ou no caso do Tiggo 8, a oitava maravilha do mundo. É o estilo deles, mas isso se traduz nos carros, como é o caso do CAOA Chery Tiggo 5X Pro e seus grandes superlativos.
Na língua portuguesa, um superlativo é algo que exprime uma qualidade em grau elevado ou mais elevado que a média. São elementos que o Tiggo 5X Pro tem em relação a alguns rivais. Especialmente ao perceber que os R$ 154.990 que a CAOA Chery pede por ele, o coloca contra as versões intermediárias de HR-V, T-Cross, Creta e Renegade.
Pro, master, blaster
No Brasil, a CAOA Chery voltou a adotar a estratégia de vender seus carros em versão única. Por um tempo, os SUVs contavam com uma versão de entrada menos equipada, mas que sempre perdia espaço para o modelo topo de linha. Assim, agora você escolhe o Tiggo por tamanho, ao invés de equipamentos.
A versão Pro é a única do Tiggo 5X, tanto na versão flex quanto na Hybrid (que não é híbrida de fato) e vem bem recheada. É nível de equipamento esperado por uma versão topo de linha, contando itens como câmeras 360°, teto panorâmico (que não abre) com luzes nas bordas e seis airbags.
Conta ainda com controle de tração e estabilidade, chave presencial por proximidade, sensor de ré, ar-condicionado digital de duas zonas, freio de estacionamento elétrico com função auto hold, faróis com acendimento automático, banco do motorista com regulagem elétrica e revestimento de couro.
A grande questão só é que ele não possui qualquer tipo de sistema de segurança ativa que os rivais já contam. Nada de frenagem autônoma de emergência, ou sensor de ponto cego, ou até mesmo manutenção em faixa. Piloto automático adaptativo? Esqueça, o Tiggo 5X Pro não tem. Isso acaba justificando seu preço abaixo dos rivais top de linha.
Heranças do Tiggo 8
Só que um dos grandes superlativos do CAOA Chery Tiggo 5X Pro está em seu interior. A referência de melhor acabamento da categoria sempre foi o Jeep Renegade, mas desde a última reestilização do Chery, esse título passou a ele. Mas como? Simples, usando tudo do Tiggo 8 que cabia dentro dele.
É como se a Jeep usasse o interior do Commander no Renegade, um modelo de duas categorias acima. Com isso, o 5X tem acabamento emborrachado bem macio na parte superior do painel e das portas, enquanto a parte inferior do painel e portas recebe uma faixa em couro de boa qualidade.
O volante tem ótima empunhadura, é grosso e tem couro de qualidade próximo a de marcas premium. Ele não tem base reta como o Tiggo 8, mas é exatamente a mesma peça. Já o console central muda um pouco, pois no modelo menor o acabamento imita aço escovado e ele não tem botões no console.
Uma perda em relação ao 7 Pro e ao 8, que tem o mesmo interior, é a ausência de carregador de celular por indução. O Tiggo 5X tem até o mesmo suporte, mas sem a funcionalidade. Além disso, o painel de instrumentos totalmente digital do modelo menor é mais simples e tem tela que ocupa somente metade do nicho dedicado.
Espaço traseiro, como todo carro chinês, é farto, enquanto na dianteira há ajustes de todos os tipos. A posição de dirigir é alta, típica dos SUVs, mesmo com o banco na posição mais colada ao chão possível. Contudo, a própria construção do Tiggo 5X não te incentiva a ficar tão baixo assim. Porta-malas leva 340 litros: na média da categoria.
Toques e telas
Voltando ao painel de instrumentos digital, ele merece uma atenção a mais por contar com poucas funções e ser um pouco confuso de operar. Algumas funções são acessíveis somente com o carro parado. Mas os gráficos são bonitos e fáceis de ler. Não parece que há uma tela relativamente pequena ali.
Já a central multimídia carece de um pouco mais de atenção. Ela é lenta no funcionamento dos menus, enquanto no Android Auto e no Apple CarPlay vai bem. O problema é que no espelhamento para celulares Google, metade da tela fica preta, enquanto no para iPhone todo o espelhamento ocupa a área tátil.
Os menus parecem de celulares antigos e há poucos recursos. Mas como todos vão usar o Android Auto e o Apple CarPlay no fim das contas, não há problema. O único incomodo é que ao operar o ar-condicionado, o menu dele ocupa toda a tela e tampa informações que estavam sendo vistas ali. Demora muito para sair automaticamente e irrita.
Como a área dedicada para o ar-condicionado é bem grande, a Chery poderia ter deixado uma segunda tela ou pelo menos um visor de temperatura. O layout é diferente do Tiggo 8, que mistura botões físicos com outros sensíveis ao toque. No 5X Pro há apenas botões sensíveis ao toque e sem a função de arrastar como é usada no Volkswagen Nivus 2023.
Constante evolução
Quando o Tiggo 5X estreou no Brasil, ele veio equipado com motor 1.5 quatro cilindros turbo flex e transmissão automatizada de dupla embreagem. Ao ganhar o sobrenome Pro, ele trocou o criticado câmbio por uma caixa CVT usada até então por seus irmãos Arrizo 5 e Arrizo 6, que contavam com o mesmo motor.
A mudança fez bem, afinal a transmissão CVT trabalha melhor com o motor 1.5, mas ainda há falhas. Ao sair de um sinal, o Tiggo 5X se arrasta muito, nitidamente faltando fôlego e vontade de sair da inércia, além de vibração excessiva. Alguns rivais com o mesmo tipo de câmbio elevam em excesso a rotação para sair, ele faz o contrário, não ganhando giro suficiente para sair.
Nem mesmo em modo Sport o efeito melhora. Culpa também está no fato de que o motor não tem injeção direta, prejudicando seu torque em baixa. Ele oferece 150 cv e 21,4 kgfm de torque, mas que brilham de verdade somente a partir de rotações intermediárias. Ou seja, quando o Tiggo 5X embala, aí que ele fica bom de dirigir.
O motor se torna responsivo e tem retomadas rápidas. A transmissão entende perfeitamente o momento de manter o giro baixo ou subir o ritmo, mas sem provocar gritarias do 1.5 turbo. O efeito enceradeira é raro, especialmente por conta do exemplar isolamento acústico do SUV compacto da CAOA Chery. Mas baixas rotações são o terror do motor e do câmbio, que não lidam bem com isso.
Mas há um preço nisso: ele gosta de beber. Durante nossos testes fez média cravada de 9,4 km/l, sendo que boa parte dos trechos rodados eram na estrada. Desconfiava que ele estava abastecido com etanol, mas não, era gasolina. Tanto que ao reabastecer com gasolina, o consumo alto se manteve.
Segundo a CAOA Chery, a média é de 9,9 km/l na cidade e 11,5 km/l na estrada com gasolina. Já com etanol, o consumo cai para 6,9 km/l e 8,1 km/l nas mesmas condições. Só que considerando que Renegade e Duster, ambos com motor 1.3 turbo, fizeram média de 6,9 km/l e 7,1 km/l, respectivamente, com etanol durante nossos testes, o Tiggo 5X mostra não ser tão econômico.
Pluma de ganso
Nitidamente voltado ao conforto, o Tiggo 5X é silencioso, macio e ótimo para viagens longas. O som do motor pouco invade a cabine, mesmo em ritmos mais altos. Parece um carro que nasceu para ser eletrificado de alguma maneira, pois sonoramente se comporta como se fosse.
A direção peca pela leveza excessiva, ficando até um pouco boba. Mas há uma solução para isso: basta deixar o volante em modo Sport que a calibragem se torna perfeita. Não é pesada, mas tem o esforço necessário para manter o Chery firme nas estradas e competente nas curvas.
Carroceria rola um pouco nas curvas, mas não chega a ser perigoso. É um carro sem vocação esportiva ou o apetite por estradas sinuosas como os Volkswagen têm. Mas como o máximo de aventura que um dono de SUV compacto terá é a rampa do shopping, fique tranquilo pois ele conta com assistente de descida e partida em rampa.
A suspensão é macia, absorvendo os impactos a contento, mas nada que se destaque da média da categoria. Assim como o visual, que é bem bonito e elegante. Só que não tem nada de extraordinário ou que o faça chamar atenção nas ruas. Acaba que, nesse quesito, é só mais um no segmento.
Veredicto
Ao contrário do que diz a propaganda da CAOA Chery, não o Tiggo 5X Pro não supera o Audi Q3. Aliás, eles nem concorrem, por serem de categorias diferentes. Contudo, o modelo é um dos melhores SUVs compactos hoje à venda no Brasil – posto onde Hyundai Creta e Jeep Renegade também ocupam.
Tem o melhor acabamento da categoria, é confortável, o conjunto mecânico é competente e o visual agrada, apesar de um pouco sem personalidade. Poderia ter uma transmissão mais esperta nas saídas de sinal e um consumo mais comedido, além de mais itens de segurança modernos. Só que o custo-benefício é forte e o SUV surpreende pela qualidade.
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