Um cruzeiro é, para muitas pessoas, a síntese do luxo, especialmente aqueles 5 estrelas ou de grife. É o tipo de experiência onde você desfruta de muito espaço, atividades para todos os cantos, uma bela vista para o mar e entretenimento digno de Hollywood. Se pudesse traduzir tudo isso em um carro, seria o BYD Tan.
Não porque ele tem dimensões de um navio de cruzeiro, mas sim por entregar o luxo e refinamento junto a toda a experiência envolvendo esse tipo de viagem. Aliás, viajar com o BYD Tan é algo que vou deixar para contar em outra matéria. E já falei que ele é elétrico? Não? É que você nem lembra por conta da ótima autonomia de 437 km.
Construa seus sonhos
Por R$ 519.990, você espera uma experiência de cinco estrelas. Afinal, é um território onde Volvo, Audi, BMW, Mercedes-Benz e até Porsche se aventuram com seus SUVs a combustão. A BYD é iniciante em nosso mercado e ainda tem de aturar o preconceito chato do brasileiro com marcas chinesas (culpe a Effa, a Lifan e os primeiros Chery por isso).
Mas a BYD já tinha prometido que só venderia seus carros fora da China quando chegasse no nível da tríade alemã. E chegou, sem a menor dúvida. O interior do Tan é como o cassino do navio: cheio de couro, luzes brilhantes e mimos que farão até a primeira classe sentir que seu quarto não é tão refinado assim.
A marca soube elegantemente misturar os furinhos da ventilação e aquecimento do banco de couro com as costuras ondulares que formam o desenho do assento. Junto a isso, suede em alguns pontos do painel traz textura visual diferente. Há plástico no painel, portas e console, mas sempre em preto brilhante. Mas são de qualidade, vale lembrar.
O show de luzes vem por filetes de LED no painel e portas, o qual pode ter cinco ajustes diferentes de iluminação e cores praticamente infinitas. O nome da marca por extenso (Build Your Dreams – Construa seus sonhos) está do lado do passageiro para lembrar de que marca ele é – afinal o volante tem o logotipo Han em chinês.
Diretamente do Cirque du Soleil vêm a apresentação da central multimídia rodante. Ela pode ser usada na horizontal ou, ao apertar de um botão no volante ou na própria tela, roda para a posição vertical. É um acessório que mais serve para mostrar às visitas do que o BYD Tan é capaz de fazer do que ser algo útil de fato no dia-a-dia.
A central, aliás, poderia ter tido um pouco mais de cuidado da BYD. Ela ainda está em inglês, mesmo tendo todo seu sistema baseado em Android. Aliás, Android Auto e Apple CarPlay só estarão homologados mais adiante. O painel de instrumentos também está em inglês, mas ambas as telas impressionam pela qualidade excelente, facilidade de uso e respostas rápidas.
Espaço extra do espaço extra
Um carro com dimensões de transatlântico como o BYD Tan reflete isso em seu interior. São 4,87 m de comprimento, 1,95 m de largura e 1,75 m de altura, com entre-eixos de 2,82 m. Por dentro, porta-malas amplo de 960 litros na configuração de cinco lugares e apenas 235 litros com os sete lugares levantados.
Mas, como todo carro chinês, o espaço traseiro merece destaque. Três adultos grandes conseguem viajar por ali sem aperto nem para as pernas, nem para os ombros. Uma vantagem de ser 100% elétrico é que o BYD Tan tem piso traseiro plano, dando mais área para que o passageiro central coloque seus pés.
Contudo, ele não mima as pessoas tanto quanto o Han, não contando com comandos eletrônicos ou até zona individual do ar para quem senta atrás. Os bancos do meio, porém, se ajustam em altura e inclinação para ampliar o conforto de quem senta atrás. Segunda fileira sim, segunda classe, não.
Só a turma do fundão que se aperta e tem ergonomia estranha. O porta-copos, por exemplo, fica na altura do sovaco do passageiro da terceira fileira – exigindo um malabarismo e contorcionismo para alcança-lo. As pernas ficam bem elevadas e não há muito espaço para os pés. Melhor que um Toyota SW4, mas mais apertado que um Jeep Commander.
Navio
Boa parte da inspiração oceânica para descrever o BYD Tan tem muita relação com seu comportamento ao volante. Na estrada ele balança sutilmente como um grande navio transatlântico atravessando o oceano. É suave, confortável e nitidamente macio. Pode rodar várias horas com ele que não se cansará – garanto porque eu dirigi esse Tan 6 horas seguidas.
Mas essa maciez cobra seu preço em curvas fortes – algo que dificilmente alguém vai tentar fazer em um SUV grande de sete lugares. Mas sou jornalista, preciso testar o carro em todas as situações. Em curvas fechadas, a frente desce, a traseira joga um pouco e o Tan sente sua massa jogando para os lados.
A tração nas quatro rodas e a sopa de letrinhas eletrônica salva a vida e mantém o SUV no comando. O interessante é que o modo Sport é bastante permissivo, deixando a traseira fritar um pouco de pneu como um carro de tração traseira, ao mesmo tempo em que deixa o motorista ir além do que deveria, desde que não perca o controle. Divertido, diria.
A direção tem modo mais macio, mas em Sport ela assume o peso ideal para velocidades altas e também para condução na cidade. Com o modo ativado, ela se torna mais direta e na medida para a preferência do brasileiro. Em normal, ela pende para a leveza excessiva, o que passa pouca confiança na estrada.
Duplo sentido
Enquanto em outros carros a mudança do modo de condução mais serve para trocar a cor do painel do que produzir um efeito prático, no BYD Tan há, de fato, mudanças. Em Eco ele limita a potência a 300 cv e não te recebe com aquela patada típica de um carro elétrico. É bem ágil, mas nada de arregalar os olhos.
Mas experimente o Sport. Nesse momento terá 517 cv e 69,3 kgfm de torque – é força capaz de deixar alguns Mercedes AMG ou BMW M passando vergonha. Nessa condição, ele chega aos 100 km/h em 4,6 segundos – quase empata com o Porsche 911 de entrada, mas levando 5 pessoas a mais e um monte de tralha no porta-malas.
Ai sim é soco no estômago a cada arrancada. O BYD Tan acelera como se não tivesse o porte que tem e nem carregasse 2.479 kg sem contar passageiros e bagagens que o acompanham. Triscou o pé no acelerador e o carro no retrovisor fica pequeno rápido. Impressiona que mesmo em alta velocidade, o Tan corta o vento e mantém o silêncio na cabine.
E se precisar frear, ele conta com conjunto da Brembo que estanca o SUV tão rápido quanto escreve o nome Tan. É capaz do celular do passageiro do meio voar da mão e parar no carregador por indução de tão forte que são os freios desse BYD. E a marca exibe com orgulho o nome Brembo em vermelho através das rodas pretas de 22 polegadas
Na minha mão
O que vale destacar na lista de equipamentos de série do BYD Tan é o piloto automático adaptativo combinado ao sistema de manutenção em faixa. Eles trabalham em sincronia, permitindo que o SUV se dirija sozinho sem perrengues. Não fica quicando de um lado para o outro da faixa como alguns rivais, mas acelera e freia suavemente.
O catálogo de itens de série ainda traz alerta de tráfego cruzado, alerta de ponto cego, farol alto automático, controle de tração e estabilidade, seis airbags, porta-malas com abertura elétrica, monitoramento de pressão dos pneus, controle de descida, faróis full-LED, banco do motorista e do passageiro com regulagem elétrica (memória no motorista).
Aquecimento e resfriamento nos bancos dianteiros fazem também parte da lista de equipamentos, assim como retrovisor fotocrômico, direção elétrica com ajuste elétrico de altura e profundidade, teto solar panorâmico, ar-condicionado digital de duas zonas, retrovisor com rebatimento elétrico, chave presencial, tomada 110V e sistema de som Dirac.
Vista para o mar
Assim como acertou em cheio com o visual do Han, é inegável o quanto o BYD Tan é bonito. Ver o mar da varanda de um transatlântico ou apreciar as linhas desse SUV são experiências riquíssimas para os olhos. Ele não é exagerado, mesmo com a grade frontal enorme. Todas as superfícies tem transições delicadas e fluidas.
A BYD soube bem disfarçar a traseira longa com a linha dos vidros que tenta dar um ar de cupê a ele. Assim, o Tan não parece tão gigantesco como é. Na traseira, o toque é o limpador camuflado no aerofólio traseiro, deixando a superfície do vidro limpa. As lanternas ligadas com o nome da marca por extenso são outro charme.
Mas a noite o show de luzes formado pelos faróis e lanternas faz com que o Tan se destaque em qualquer rua que passa. Aliás, ele só não virou mais pescoços na rua que o Han que testamos antes aqui no Auto+. Mas ele despertou a curiosidade alheia em diversos momentos.
Veredicto
Enquanto o BYD Han briga com equivalentes elétricos custando a metade e entregando (em alguns casos) o dobro, a vida do Tan é mais complicada. Ele enfrenta modelos igualmente equipados, com o mesmo nível de luxo e espaço para sete lugares, mas com motores híbridos, diesel ou gasolina.
A vantagem de ser elétrico pode ser uma decisão que vira o jogo a favor do BYD Tan no mesmo instante. Contudo, ele é uma alternativa mais do que viável ao rei do segmento, Volvo XC90, mas também a modelos como Mercedes-Benz GLE. BMW X5 e Audi Q7. O Tan é muito bonito, igualmente refinado como qualquer um dos rivais e tão equipado quanto.
Precisa somente de um retrabalho na suspensão, assim como o Han pede, tradução para sua central multimídia e painel de instrumentos digital. Ele é mais uma prova de que os chineses chegaram lá e, especialmente no caso da BYD, criaram um novo patamar no segmento que ninguém ainda conseguiu chegar usando eletricidade.
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