Quando a Honda lançou a nova geração do City no Brasil e trouxe consigo o hatch para substituir o Fit, muita gente ficou órfã. Afinal, por melhor que seja, o City Hatch não tem o mesmo charme, praticidade e visual quase de minivan do Fit. Aliás, nenhum outro hatch tinha isso no Brasil, até a chegada do BYD Dolphin.
Novo modelo de entrada da BYD por aqui, o Dolphin quer pegar o segmento de entrada pelo pescoço. Ele é maior e mais sofisticado do que Renault Kwid E-Tech, JAC E-JS1 e CAOA Chery iCar. Deveria ser mais caro que eles, mas não. A BYD chutou os dois pés no peito das marcas e veio com o Dolphin custando menos que o Kwid e que o iCar.
Mas esse jeitinho de minivan do Dolphin e o jeito pacato dão a ele uma aura de Honda Fit que há tempos não víamos no Brasil. Será que ele é o verdadeiro sucessor do Honda Fit, não o City Hatch?
Imã de olhos
Há tempos eu não via um carro tão fora do comum quanto o Dolphin. Ele tem rodas nas extremidades, capô curtíssimo, vidro dianteiro bem inclinado, linha de cintura em Z e um porte que o coloca na faixa dos hatches compactos, mas com mais altura de carroceria e largura. Como quem? O Fit.
Na frente temos faróis triangulares com LED diurno em C, que se conectam com a grade frontal decorada por plástico preto com texturas foscas e pela luz de posição (lanterna), tal qual um VW Taos. No modelo testado com carroceria cinza, o para-choque recebe detalhes em laranja, que dão um tom divertido ao BYD.
Linha de cintura bem alta marca o visual do Dolphin, que ainda traz rodas de liga-leve de 16 polegadas com desenho bem fechado. A mesma textura da grade frontal está presente na coluna C, disfarçando o que poderia ser uma terceira janela. Na traseira, lanternas interligadas com LEDs em X são verdadeiramente muito bonitas.
Território BYD
Se há um ponto no qual a BYD sempre manda muito bem é no interior. A cabine do Dolphin segue por essa mesma escola. Tudo bem que o acabamento não está no mesmo nível do Song Plus e do Yuan Plus, muito menos do Tan e do Han. Mas, ainda assim, é um acabamento bem feito e criativo nas texturas.
Por conta de sua inspiração marinha, temos couro azul escuro contrastando com revestimentos pretos e beges, além de leves toques de vermelho alaranjado. Destaque para a faixa central do painel, que é macia ao toque, e traz desenho que imita escamas de peixe.
Nas portas e parte inferior do painel, os plásticos imitam a textura de uma rocha e fazem lembrar também materiais de impressora 3D. Os encaixes são todos bem feitos e sem rebarbas. Destaque ainda para a qualidade aveludada do couro no volante, bancos e console central.
Há de pontuar também a excelente visão na dianteira causada pelo para-brisa inclinado e pela janela à frente da porta. A estratégia também usada pelo Honda Fit ajuda a dar uma sensação maior de espaço na cabine e ampliar a visibilidade interna no BYD Dolphin.
Espacinho e espação
Há de se destacar a enorme quantidade de porta objetos na cabine do Dolphin. Ele conta com console central alto, onde existem dois espaços para celulares, mas sem carregador por indução. Perto do motorista, um porta-objeto com tampa corrediça ajuda a esconder pequenos itens.
Já a parte inferior do console é outro espaço gigantesco para colocar itens e parece caber até uma bolsa. É um esquema semelhante ao do Honda HR-V, mas com mais área útil para quinquilharia. Como todo BYD, a central multimídia tem complexo de pião da casa própria e pode rodar de um lado para o outro.
O Dolphin estreia o novo sistema da marca com Android Auto e Apple CarPlay já incorporado, mas segue um tanto quanto lento, propício a bugs e não muito fácil de mexer. Ao menos a tela tem definição muito boa e um tamanho generoso. Um contraste com o painel de instrumentos totalmente digital.
A tela minúscula, herdade do Yuan Plus, não é boa, podendo ver nitidamente os pixels presentes. Além disso, ela fica fixa no volante, que só ajusta em altura, não em profundidade. Ao menos o banco tem várias regulagens e que possibilitam facilmente encontrar uma boa posição de dirigir.
No banco traseiro, o espaço é surpreendentemente bom, pois as rodas ficam nas extremidades do BYD Dolphin. Com isso, o espaço interno foi privilegiado. O banco é alto, assim como o piso, mas não falta espaço para a cabeça ou para os pés debaixo do assento dianteiro. Porta-malas leva bons 345 litros.
Degrau de entrada
Por ser o modelo mais barato da BYD, claramente o Dolphin não teria a mesma performance estúpida do Tan e do Han, ou mesmo o comportamento arisco de Yuan Plus e Song Plus. Ele é apenas suficiente. São 95 cv e 18,3 kgfm de torque, ou seja, menos que o motor 1.0 TSI da Volkswagen que rende 128 cv e 20,4 kgfm de torque.
Só que, por ser elétrico e não muito pesado, o Dolphin faz de 0 a 100 km/h em apenas 10,9 segundos. As acelerações são fortes para quem não está acostumado a um carro elétrico, o que torna a performance dele apenas suficiente (e talvez eu esteja ficando mal acostumado a alguns carros elétricos).
A autonomia oficial é de 285 km no ciclo brasileiro ou 405 km no NEDC usado na China. Como o contato com o BYD Dolphin foi rápido e o modelo foi emprestado só com 31% da bateria, não foi possível atestar sua real autonomia. Contudo, são números coerentes com sua proposta de mercado e melhor do que alguns rivais.
Tempero europeu
Em geral, carros de projeto chinês quando não passam por um trabalho especifico de engenharia no Brasil, como aconteceu, por exemplo, com o GWM Haval H6 ou o CAOA Chery Tiggo 7 Pro, a suspensão tende a ser molenga como um pudim. O Tan é um pouco assim, mas não é o que acontece no BYD Dolphin.
O novato da marca chinesa tem um certo tempero europeu, um tanto quanto inesperado. A suspensão é mais firminha, pendendo para a esportividade. Não é muito fã de buracos e superfícies ruins, mas não castiga os que estão a bordo. Temos ainda uma direção bem rápida, direta e igualmente firme.
Ausências sentidas
Diferentemente de todos os BYD até o momento, o Dolphin não traz uma enormidade de itens de auxílio à condução. Não tem frenagem autônoma de emergência, muito menos piloto automático adaptativo ou sistema de manutenção em faixa. Até mesmo o limpador traseiro foi esquecido.
Mas a lista de itens de série, para a faixa de preço, está apenas ok. Traz ar-condicionado digital de duas zonas, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay com fio, vidros elétricos nas quatro portas, chave presencial, faróis de LED com acendimento automático, retrovisores elétricos e câmeras 360º.
Veredicto
Custando em um nível intermediário entre os elétricos de entrada como Kwid E-Tech, iCar e E-JS1, mas mais barato que um Peugeot e-208, o BYD Dolphin começa a colocar a marca chinesa em um caminho de maior volume. Especialmente porque o preço, de fato, é arrebatador frente seus rivais.
Com visual diferentão, interior espaçoso e criativo, além de uma dirigibilidade surpreendentemente agradável, o BYD Dolphin é um dos carros elétricos mais legais à venda no Brasil. Isso tudo com o benefício de um preço coerente. Tem potencial para liderar esse mercado de elétricos em pouco tempo.
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