Carro elétrico não é novidade na General Motors. Faz anos que eles trabalham com essa tecnologia e foram pioneiros com o EV1, ainda que depois tenha sido destruído pelo próprio grupo. Só que a Chevrolet já deixou claro que será uma marca totalmente elétrica em 2040 e em todos os lugares do mundo. Para isso, dá o primeiro passo no Brasil com o Bolt.

Tudo bem que o Chevrolet Bolt não é tão novidade assim: ele é vendido no nosso país desde 2019, mas agora a importância é diferente. Sua variante reestilizada é marcada como o primeiro de quatro carros totalmente elétricos que a marca americana pretende lançar nos próximos anos. Agora, além do novo visual, ele tem missão de vender mais e em mais concessionárias.

Não demorará para que todos os carros da Chevrolet no Brasil e no mundo se tornem elétricos – isso inclui até o Onix. Isso faz do Bolt o grande abre alas dessa eletrificação. Por isso, a Chevrolet aposta na versão topo de linha Premier de R$ 329 mil para o nosso país. O problema é que o terreno é bem acidentado.

Começa pelo fato de que o Volvo XC40 P6 custa R$ 309.950 e tem números de performance bem parecidos, além de ser um modelo de luxo. Já rivais diretos como Peugeot e-208 GT (R$ 264.675) e Renault Zoe (R$ 239.990) são bem mais baratos. Outra questão é o formato minivan em tempos onde os SUVs dominam o mercado com uma mão nas costas.

Mas como visual é algo relativo, não dá para negar que a praticidade pelo estilo minivan é fato. O interior é bem espaçoso e arejado, com boa área envidraçada e posição de dirigir elevada. O para-brisa inclinado faz com que o motorista se sinta protegido e com ampla visão. Enquanto isso, quem senta atrás tem espaço para as pernas e cabeça com fartura.

Toques futuristas

A reestilização fez muito bem ao Bolt, que perdeu o ar de Meriva do futuro em favor de um estilo bem mais moderno e agressivo. Os faróis são divididos e trazem a parte superior com luz de seta e diurna, enquanto a porção inferior tem o farol principal. O logotipo agora fica sozinho na parte superior do para-choque, enquanto a abertura de ar ficou mais fechada.

Partes em plástico preto na parte inferior da carroceria são o torque de SUV ao Bolt, ainda que o Bolt EUV, seu irmão SUV de fato, ainda esteja fazendo as malas para o Brasil. Na traseira, novas lanternas e para-choque. Mas inexplicavelmente a Chevrolet deixou as luzes de seta e freio no para-choque, mesmo tendo uma lanterna enorme para isso.

Muitos dirão que é por culpa da lanterna subir ao abrir a tampa do porta-malas. Mas modelos da Audi fazem o mesmo e contam com a luz extra no para-choque para essas situações específicas, não para os momentos em que até a tampa está fechada. Por falar em porta-malas, ele leva 478 litros e tem uma rede de cobertura simples.

Balanço perfeito

O que não mudou no Chevrolet Bolt (sinceramente, ainda bem) foi seu conjunto mecânico. Ele conta com motor elétrico de 203 cv e 36,7 kgfm de torque, que parece bem mais no monovolume movido a baterias. As acelerações são bem fortes, com 0 a 100 km/h cumpridos em 7,3 segundos. Roda até 416 km com carga completa.

Contudo, o que ele se destaca mais são as retomadas, feitas com agilidade e muito silêncio. O Bolt tem bom isolamento acústico e cabine bem isolada, permitindo trafegar em altas velocidades os terrenos com asfalto ruim sem ouvir a barulheira que vem lá de fora. Se prestar atenção, ouvirá o motor elétrico, mas só em uma rua silenciosa.

Um dos pontos mais interessantes do modelo é o freio regenerativo. Ao contrário de diversos outros elétricos que ou deixam o sistema ser acionado somente por meio de um monte de menus na central multimídia ou apelam para o one-pedal, o Bolt faz diferente. Ele tem um botão atrás do volante que aciona o regenerativo somente quando pressionado.

Ao soltar o botão, ele volta a rodar sem intervenção do fluxo contrário do motor elétrico, permitindo rodar pela inércia. Há ainda a função de rodar somente com um pedal, caso o motorista prefira. Particularmente, não sou muito fã dessa função, preferindo o sistema inteligente do Bolt.

Destaque para o modelo também é a suspensão. Ela filtra bem imperfeições do asfalto e terrenos ruins, ao mesmo tempo que segura o Chevrolet Bolt nas curvas muito melhor do que o esperado. Um carro alto, com pegada de minivan, não deveria fazer curvas tão bem quanto ele faz. Boa parte da culpa é pelo centro de gravidade baixo por conta das baterias.

Bons tempos

Uma das mudanças mais impactantes e bem-vindas no Bolt é a reforma do interior. O acabamento melhorou muito com o uso de plásticos macios ao toque e superfícies com espuma. Estilo horizontalizado e até uma certa inspiração nas caminhonetes da Chevrolet fez bem ao elétrico.

Ele traz o mesmo sistema da central multimídia de outros carros da marca: fácil de usar, intuitivo e moderno – com direito a Android Auto e Apple CarPlay sem fio, Alexa e Spotify. Há ainda itens de luxo como bancos e volante com aquecimento, painel digital, frenagem autônoma de emergência, som Bose e alerta de ponto cego.

Veredicto

O Chevrolet Bolt chega ao Brasil cheio de atributos como boa autonomia, divertido de dirigir, com visual chamativo e lista generosa de equipamentos. Só que o preço é o grande problema: custa o mesmo que um Volvo XC40 e R$ 100 mil a mais que o Renault Zoe (que tem formato de minivan como ele e números semelhantes).

É um primeiro passo da General Motors no mundo dos elétricos no Brasil, mas o ticket de entrada é bem alto. Se esse fosse o preço do Bolt EUV, versão SUV do modelo, poderia até ser mais justificado. A questão é que ele é um carro bom, mas sem nada que o destaque no segmento. Por isso, os R$ 329 mil pesaram muito na conta.