Com tantas novidades no mercado automotivo sendo reveladas a cada mês, a concorrência que não se mexe fica para trás logo. A Renault até que tentou correr atrás do prejuízo renovando Logan e Sandero em 2019, mas não foi suficiente. O estigma de carro de Uber grudou no Renault Logan e o efeito foi sentido.
A marca foi reduzindo gama de versões, cortando opcionais e chegou em um momento em que o Logan é vendido somente em duas versões com duas opções de motor. Quer câmbio automático? Não existe mais no Logan – isso depois de uma demora gigantesca até que a opção CVT chegasse a ele.
Isso faz da versão Zen 1.6 de R$ 74.990 a mais cara da gama – uma variante que, até então, era a segunda mais barata. Mas será que vale à pena optar pelo Renault Logan frente a tantos concorrentes mais modernos? E ainda: ele ainda é atrativo mesmo depois que o Taliant foi revelado lá fora?
Questão surpresa
Focado em mercados emergentes e de baixo custo, o Renault Logan surpreende por uma condução divertida. A versão avaliada conta com motor 1.6 SCe quatro cilindros aspirado de 118 cv e 16 kgfm de torque. Ele é combinado a uma transmissão manual de cinco marchas – justamente o grande trunfo desse Logan.
Enquanto alguns rivais apostam em motores turbo, o sedã da Renault continua com um aspirado. E por conta da carroceria com peso baixo (1.080 kg), o Logan é surpreendentemente divertido de dirigir. O motor tem boa elasticidade e não apresenta falta de força. Sem contar que não tem o mesmo buraco de torque que o Sandero 1.0 GT Line apresentou.
A transmissão tem engates curtos e precisos – que poderiam ser melhores se a manopla não fosse desnecessariamente grande. Além disso, a embreagem é leve, mas tem retorno mais forte que o normal, o que pode causar estranheza nas primeiras trocas.
Para não ter dificuldade quando carregado, o Logan tem primeira marcha curta. Até um pouco mais do que o necessário, diga-se de passagem. Já a quinta marcha poderia ser mais longa para baixar a rotação na estrada.
Mas é notável o bom casamento que a Renault fez entre câmbio e motor. O Logan é um carro que se torna prazeroso ao dirigir. O motor enche sem dificuldade, as trocas de marcha são fáceis e não tão constantes como em muitos rivais aspirados. Retomadas com o sedã da Renault são fáceis, revelando que ele vai além de uma potência suficiente.
Sutilezas
Vale um elogio também para o sistema start-stop do Logan. Ele atua rapidamente e com suavidade notável, especialmente ao desligar o motor. Como o trabalho de contenção de vibrações da Renault foi bem feito, o a atuação do sistema é pouco sentida e bem-vinda no dia-a-dia.
De acordo com dados do Inmetro, o Logan faz 8,3 km/l na cidade e 11,9 km/l na estrada com etanol. Durante nossos testes ele manteve média de 8,5 km/l na cidade e chegou a pouco mais de 11 km/l na estrada. Nada animador para um carro que vive no mundo dos motores turbo, mas longe de ser um beberrão por ser aspirado.
Meios termos
Mas por ser um projeto mais antigo, ele começa a derrapar em algumas questões. No caso, literalmente. Com pneus 205/55 R16 calçados em calotas, o Logan gosta de cantar nas curvas. Basta entrar com um pouco mais de força, que os pneus chegam ao seu limite e reclamam de maneira estridente.
Outro fator que atrapalha o irmão do Sandero nas curvas é a suspensão. Ela é mais macia que o hatch, o que faz com que ele balance mais nas curvas. Vez ou outra a traseira tende a se perder na trajetória por conta do comprimento extra, mas nada que comprometa a segurança.
Isso não significa, porém, que o Logan seja o tipo de carro que não pode ser divertido nas curvas. É que ele só chega ao seu limite cedo demais. Em compensação, a suspensão lida bem com asfalto ruim e não faz barulho mesmo em fortes solavancos. É um conjunto verdadeiramente robusto. Na estrada, porém, ele flutua mais do que deveria e parece molenga.
A direção é rápida, direta e tem peso adequado para a proposta do carro na cidade. Já na estrada, fica demasiadamente leve e boba. Mas, tal qual a suspensão, também tem seu lado negativo. Ela é eletro-hidráulica, um sistema um tanto quanto antiquado para 2021. Ela é relativamente pesada nas manobras. Mas produz um fino e nítido barulho em baixas velocidades.
Simplicidade
Ainda que essa seja a versão topo de linha do Logan no Brasil, ele é um carro simples. Não há rodas de liga-leve, nem mesmo retrovisores elétricos. O acabamento é simples, mas com bons encaixes e qualidade apenas ok dos plásticos. Um pouco de tecido na porta disfarça a simplicidade.
Mas, assim como acontece com o Sandero GT Line, o volante é o ponto mais contrastante do interior. Ele tem qualidade nitidamente muito superior ao resto do conjunto e, mesmo sem couro, tem boa pegada e material agradável. O computador de bordo é simplório e conta com só um botão para comandos, além de tela de celular dos anos 90.
A lista de itens de série também não vai muito além do básico. Ainda que conte com faróis com LEDs diurnos e quatro airbags como diferenciais na categoria, o Logan Zen não vai além do ar-condicionado, direção assistida só com regulagem de altura, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay, sensor de ré, travas e vidros elétricos.
Então qual o motivo para ser tão amado pelos motoristas de Uber? Simplesmente pelo fato de ter um interior exemplarmente espaçoso e um grande porta-malas de 510 litros. Como a posição de dirigir é mais alta, o Logan não obriga motoristas mais altos a colocar o banco tão para trás, salvando as pernas dos passageiros.
Há espaço lateral para três pessoas sem grande dificuldade. E os bancos são confortáveis. Não tanto quanto os do Nissan Versa, mas suficientes para não sofrer com dores na coluna depois de alguns quilômetros.
Veredicto
O Renault Logan é um dos raros casos de carros que surpreendem ao dirigir. Ele não foi criado com o intuito de divertir ao volante. Só que, no final das contas, é uma experiência agradável e mais memorável que muitos sedãs que tão emocionantes ao volante quanto ver a comida esquentar no microondas.
Ainda assim, pagar R$ 74.990 em um carro com projeto mais antigo e com rivais mais modernos ou turbinados na mesma faixa, é um tanto quanto complicado. É a faixa onde está o Nissan Versa Sense (R$ 76.890) e o Chevrolet Onix LT Turbo (R$ 73.260) – carros igualmente espaçosos, com lista de itens de série equivalente e com câmbio manual.
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