Desde que começaram os rumores sobre a nova geração do Honda HR-V no Brasil, havia ficado claro o desejo da marca japonesa em promover o seu modelo de categoria. Ela não fez isso com as versões 1.5 aspiradas as quais ficam até aquém da geração anterior. Mas com os turbo Touring e Advance, havia ficado claro que a Honda queria cutucar o Jeep Compass.
A marca posicionou o HR-V turbo mais barato gritante diferença de quase R$ 30 mil para o EXL Honda Sensing – a topo de linha com motor aspirado. Recheou o SUV e deu um motor turbo para tirá-lo da cola de Volkswagen T-Cross, Jeep Renegade e Chevrolet Tracker para incomodar Jeep Compass, Toyota Corolla Cross e VW Taos. Mas sem o mesmo porte.
A grande questão é que os R$ 184.500 são altos demais para um SUV compacto…mas ele justifica tudo isso. Sinceramente, o Honda HR-V só está na categoria errada. Tem quase tudo que precisaria para brigar com o trio de ouro dos SUVs médios, só falta a ele mais porte e acabamento melhor. Só. Porque construção, mecânica e equipamentos estão no andar de cima.
Enquanto o ZR-V não chega
De fato, o SUV médio da Honda para brigar com Compass, Taos e Corolla Cross será o ZR-V. Mas a marca japonesa colocou o HR-V Touring muito mais equipado que os SUVs médios com preço equivalente, já que eles se apresentam nas versões de entrada ou intermediárias. É aí que ele começa a justificar os R$ 184.500.
O HR-V é o único SUV compacto de marca não de luxo a trazer porta-malas com abertura elétrica – inclusive traz sistema que fecha a tampa automaticamente quando você sair de perto dele com a chave no bolso. É genial. Tão genial quanto o Magic Seat que permite dobrar o banco traseiro rente ao porta-malas ou subir o assento para colocar coisas altas.
Como todo HR-V, o Touring é equipado com frenagem autônoma de emergência, alerta de mudança de faixa com correção de volante muito bem calibrada, controle de tração e estabilidade, piloto automático adaptativo, assistente de partida em rampa e monitoramento de pressão nos pneus.
A versão de topo é ainda equipada com ar-condicionado digital de duas zonas, carregador de celular por indução, câmera no retrovisor direito, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera de ré, painel parcialmente digital, assistente de descida, vetorização de torque, seis airbags, chave presencial, banco do motorista elétrico, farol alto automático, sensor de chuva e central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay.
Espírito de Civic
Confesso que a versão aspirada do Honda HR-V não me empolgou. Era um carro bem ok de performance, mas com suspensão molenga e direção anestesiada que fez sentir nítida saudades da geração antiga. Até citei na avaliação que ele havia se transformado em um SUV da Honda, não mais um SUV Honda. Ou seja, deixou de lado a essência da marca para se igualar aos outros modelos da categoria.
O alívio foi ver que o espírito de Civic que o HR-V sempre teve se manteve nas versões turbo. O Touring tem suspensão mais durinha, tem direção mais firme, chassi mais afiado e motor beeeeeeem mais potente. Que alívio, Honda. Pensei que haviam perdido a mão na nova geração do HR-V, mas o acerto feito para o Touring é estupendo.
O SUV é muito bom de andar, tem rodar sólido e silencioso, garantido pelo melhor isolamento acústico e retrabalho de suspensão. Ela está mais firme, permitindo curvas mais ousadas como um Civic faria, ao mesmo tempo em que a direção tem peso preciso e é rápida na atuação.
Em estradas sinuosas, nenhum outro SUV compacto chega perto do Honda HR-V Touring em prazer ao dirigir. É um carro muito bem acertado e que deixa as versões aspiradas parecerem um modelo de categoria inferior. É o tipo de condução que se assemelha ao Volkswagen Taos, mas mais sofisticada e bem isolada.
Turbo é vida
E que diferença um turbo fez na vida do Honda HR-V. Ele saltou de 126 cv e 15,8 kgfm de torque para 177 cv e 24,5 kgfm. Tem menos potência que o Jeep Renegade 1.3 turbo e o torque é inferior ao do Volkswagen T-Cross Highline. Mas a sensação é de que ele não deve em absolutamente nada aos concorrentes.
O SUV anda bem, acelera forte e com ímpeto – algo que o aspirado não consegue fazer. Na estrada, faz ultrapassagens fáceis, enquanto na cidade o CVT não precisa ficar jogando a rotação lá em cima para fazer o carro deslanchar. Só incomoda o fato de que as marchas são simuladas somente no kickdown do pedal – ou seja, com o pé no porão.
Outros carros com câmbio CVT simulam marchas já a meio pedal, o que ajudaria muito a evitar o efeito enceradeira que o Honda HR-V faz ao acelerar. Especialmente porque ele não precisa muito mais do que meio pedal para sair forte. A vantagem é que o CVT não irrita, o que já é um grande elogio para esse tipo de câmbio.
Como resultado, ele é um carro bem econômico. Durante nossos testes, ele rodou 1.000 km consumindo dois tanques de gasolina e meio de etanol. Isso se deu por conta do tanque pequeno de 50 litros. As médias ficaram em 12,9 km/l na gasolina e 8,7 km/l no etanol, com a maior parte dos trajetos feitos em estrada.
Impressão e tato
Além de ser menor que todos os SUVs médios, o que o deixa obrigatoriamente na turma dos compactos, é no acabamento que o Honda HR-V não consegue disputar justamente com Compass, Corolla Cross e…eu ia citar o Taos, mas o acabamento dele é ruim. O do HR-V está dentro da média para o segmento de compactos, mas para brigar lá em cima, não.
Os plásticos duros da cabine contrastam com elementos macios que ele tinha antes. Contudo, a Honda usou couro de excelente qualidade no volante – o mesmo usado no Accord e que deixa ainda mais claro que o material usado no City e nas versões aspiradas do SUV é barato e horrível.
Uma das sacadas inteligentes da marca foi usar couro bege na cabine para contrastar com os elementos em preto. Isso ajudou na sensação de amplitude e sofisticação, mas o acabamento ainda é simples. Espaço lá dentro não falta e a regulagem elétrica do banco dianteiro ajuda muito. Mas o porta-malas de 354 litros é apenas ok.
Há também de pontuar a central multimídia. Ela é a pior do segmento, com tela de definição ruim, gráficos lavados e usabilidade atrapalhada. Sem contar a moldura de televisão de tubo atrás. Seria melhor se a Honda tivesse usado a mesma central do HR-V lá fora e que o Accord usa. Ao menos tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio.
O painel de instrumentos, por outro lado, é o mesmo do sedã grande. Traz parte digital e outra analógica. A leitura é fácil e há muitas funções que podem ser controladas por ele. É um dos mais bem acertados da categoria em contraste com a central ruim. Mas há de comemorar o fato de o ar-condicionado ter botões físicos, melhorando a usabilidade.
Veredicto
Facilmente o Honda HR-V Touring se estabelece como um dos melhores SUVs compactos à venda no Brasil no quesito dirigibilidade e qualidade de construção e rodagem. Custa tão caro quanto um SUV médio e isso o coloca em uma zona de perigo, já que não tem porte e nem acabamento para isso.
Se era dono de um HR-V antigo, nem cogite as versões aspiradas pois elas não chegam aos pés dos turbinados. Agora, saiba que o preço que se paga por ele, é o mesmo de um modelo de categoria superior. Se não faz questão desse tipo de status, acabamento melhor e porte, o HR-V é um bom negócio por vir muito mais recheado que os modelos do andar de cima
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