Vez ou outra as fabricantes tomam algumas atitudes bastante questionáveis e que se tornam polêmicas. Exemplo é a Fiat Multipla ou a seta no para-choque do novo Hyundai HB20. Mas nada consegue explicar o verdadeiro surto que a Aston Martin teve em 2011 quando lançou o Cygnet. O carro de luxo que, talvez, seja a maior bizarrice da indústria automotiva na história.
O Cygnet nasceu a partir de uma necessidade. A Europa tem uma rígida lei de emissão de poluentes a qual exige que a média de emissões das montadoras diminua de tempos em tempos. Não é necessário que um modelo específico polua menos, mas que a média de carros da marca cumpra essas regras.
Por conta disso, antes mesmo da obrigatoriedade de vender carros elétricos, diversas montadoras investiam nesses modelos como compensação das emissões que seus modelos a combustão soltavam na atmosfera. Nesse contexto, a Aston Martin com seus motores V8 e V12 claramente não cumpriria com a regra com facilidade.
Em vigor a partir de janeiro de 2011, o Euro 5A determinava que a média de emissão de NOx deveria cair de 0,08 para 0,06, enquanto haveria uma regulamentação de limite máximo de partículas tóxicas emitidas no meio ambiente. E qual seria a solução mais lógica? Investir em um esportivo híbrido ou elétrico. Mas não foi isso que a Aston Martin fez.
Oi Toyota, tudo bem?
A ideia da Aston Martin foi ambiciosa, mas ridícula no mesmo nível. Ela bateu na porta da Toyota e decidiu pegar o menor e menos poluente modelo da marca: o microcarro iQ. Esse pequenino surgiu em 2008 como uma alternativa ao Smart ForTwo e nunca foi um sucesso de vendas, apesar de seu visual simpático e soluções interessantes de espaço interno.
Assim, surgiu o projeto P298 que deu origem ao Aston Martin Cygnet. A marca britânica não colocou um motor V8 nele ou aumentou a potência. Deixou o 1.3 quatro cilindros aspirado de 98 cv lá sem qualquer tipo de alteração com objetivo de continuar a cumprir com as regras exigentes de emissões da Europa.
Ele foi o único Aston Martin com câmbio CVT da história (mas havia opção manual), contrastando com a tradição da marca em usar câmbios bem mais esportivos (manual, automático ou dupla embreagem). Emoção ao dirigir já havia ficado claro que o Cygnet não passaria. Mas a ideia da marca era vender 4 mil unidades por ano para compensar seus beberrões e poluentes esportivos.
E isso deu certo? Não. Foram vendidos somente 300 Aston Martin Cygnet e a marca teve prejuízo tão grande com ele que desistiu de oferecer o pequenino depois de só um ano de produção. Dessas 300 unidades, aproximadamente a metade ficou no Reino Unido, enquanto o restante foi vendido a outros países.
Couro sobre couro
O grande problema do Aston Martin Cygnet é que ele era simplesmente um Toyota iQ com meia tonelada de couro no interior e umas mudanças externas. Nada além disso. A cabine era muito refinada, com couro no painel, volante, portas em todas as outras superfícies de plástico barato que a Aston conseguiu trocar por couro.
Os bancos eram bem mais macios e grossos, como é necessário em um carro de luxo. Ele tinha costuras refinadas de couro e padrões de cores chamativas. Havia até uma almofada de couro solta na traseira como forma de deixar a cabine ainda mais chique. Só que peças como comandos dos vidros elétricos e retrovisores, além das hastes de seta do Corolla não escondiam a origem Toyota do Cygnet.
Por fora, ele tinha elementos de Aston Martin, mas mais parecia um iQ irritado. O para-choque ganhou a grade frontal típica da marca, junto a entradas de ar adicionais ao lado dos faróis para tentar simular o desenho do conjunto óptico dos Aston – já que, para economizar, o farol era igual ao do Toyota.
Capô ganhava duas entradas de ar, assim como havia uma saída de ar no para-lama para, novamente, trazer o DNA da marca. Seu nada poderoso motor 1.3 quatro cilindros não precisava de tanta ventilação, por isso esses elementos são falsos. O toque de Aston Martin ainda se dava pela maçaneta aerodinâmica camuflada, algo que virou moda hoje em dia.
Na traseira, as lanternas originais da Toyota eram substituídas por novas em LED que invadiam a tampa do porta-malas. O formato em C replicava o que a marca fez no DB7 e no Vantage da época. Para-choque era exclusivo e as rodas de liga-leve eram bem maiores do que as do Toyota.
Por fim, o Cygnet não conseguiu convencer como um carro de luxo, menos ainda como mini Aston Martin, nem mesmo como um Toyota que ganhou na loteria. Ele só não é um grande mico e um carro rejeitado pelos fãs da marca porque se tornou um modelo muito raro e, de tão absurdo, é um dos carros mais exóticos feitos pela terra da Rainha. Mas, convenhamos, um gigantesco surto.
Você acha que o Cygnet era um carro de luxo bizarro ou você teria esse exótico Aston Martin? Conte nos comentários
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