Ford saiu do Brasil? Não, mas saiu do limbo e deu a volta por cima

Imagine a seguinte situação: você é dono de uma empresa com três fábricas no Brasil, dois centros de desenvolvimentos gigantescos e nada do que você faz, dá lucro. Sendo uma empresa, não uma ONG, é melhor mudar os rumos e estancar a sangria. E foi isso que aconteceu com a Ford, que não saiu do Brasil.

Fim da Ford como marca nacional

Tudo começou com o anúncio do fechamento das fábricas por aqui. Começou com a de São Bernardo do Campo, SP, que produzia caminhões e o New Fiesta. Como a linha de pesados era deficitária, foi encerrada com menos dor. Assim como a aposentadoria do New Fiesta, que não foi sentida porque havia o Ka.

Depois, a marca decidiu fechar a fábrica de Horizonte, Ceará,que era responsável pela fabricação do SUV Troller T4. Junto a isso, a planta de Camaçari, no interior da Bahia, também foi fechada. Por lá, a marca fazia Ka, Ka Sedan e EcoSport. Com isso, toda a fabricação nacional da Ford foi encerrada.

E isso fez sentido. Afinal, Ka e EcoSport estavam muito longe de terem uma participação forte no mercado. Vendiam relativamente bem, mas não o suficiente para lucrar. Inclusive, havia rumores de que a Ford perdia dinheiro com cada carro vendido. Por isso, os depenou nos últimos anos.

O erro de estratégia

A tentativa de recomeço da Ford foi o maior problema. Antes do massivo fechamento de fábricas e concessionárias, a marca anunciou que traria novidades e revelou que o Territory, importado da China, seria o novo produto dessa nova fase da marca. A questão é que ele estava longe de ser um carro bom e seu anúncio foi totalmente apagado.

A bomba sobre o fechamento das fábricas fez com que muita gente pensasse que a Ford saiu do Brasil, o que não é verdade. A marca apenas fechou suas fábricas, reestruturou as operações, mas impactou ao fechar descredenciar concessionárias deficitárias. Ou seja, as pessoas ficaram com a impressão de que a Ford saiu do Brasil. 

Afinal, ao passar em frente de revendas Ford tradicionais e não ver mais nada, além das notícias sobre fechamento de fábricas, criou na mente dos brasileiros a sensação de que a marca saiu. Mas não foi assim. Afinal, o centro de desenvolvimento em Tatuí segue até hoje operando, o prédio administrativo em São Paulo é gigantesco e os programas de engenharia na Bahia estão a pleno vapor do mesmo jeito que era antes.

Além disso, a Ford do Brasil passou a fazer parte do desenvolvimento de modelos globais e também de carros para mercados específicos. Os Lincoln, por exemplo, têm mão da turma de design e engenharia aqui do Brasil em seus desenvolvimentos, mesmo que eles não sejam comercializados no nosso país. 

A volta por cima

Demorou, mas a Ford deu a volta por cima. A marca vem em um crescimento constante de uns tempos para cá e mudou completamente sua imagem. Antes, a Ford era a fabricante de carros populares como Ka, EcoSport e Fiesta, agora ela tem uma imagem de marca legal. Afinal, apoia-se muito na imagem de Mustang, Bronco Sport e F-150.

Basta ver os números. Em 2021, a Ford vendeu 37.778 carros no Brasil, ainda com restos de estoque de Ka e EcoSport. Caiu para 20.824 unidades em 2022, quando só tinha carros importados (dados são da Fenabrave). Voltou a ganhar tração em 2023 com 28.711 carros, para depois decolar com 48.311 carros vendidos em 2024. 

Ainda que a imagem da Ford esteja muito fortemente associada a seus carros esportivos e off-road, quem faz o volume é a Ranger. A nova geração da caminhonete média chegou elevando o patamar do segmento e emplacou 31.860 unidades em 2024, representando mais de 50% das vendas da marca por aqui.

Por mais que não seja líder, posto da Toyota Hilux com 50.010 unidades, a Ford tem investido para aumentar o volume da sua caminhonete. Recentemente, o motor 2.0 quatro cilindros turbo diesel passou a ser produzido na Argentina junto da nova Ranger, possibilitando aumentar o volume de produção total da caminhonete.

Além disso, a Ford Ranger ganhará novas versões no Brasil ainda neste ano. A Storm deve retornar ao mercado, visto que era uma das mais vendidas da geração anterior. Além disso, ela deve ganhar variante de cabine simples destinada ao trabalho. Novas variantes também devem chegar, visto a recente estreia da Ranger Black.

Você ainda diz que a Ford saiu do Brasil? Qual sua visão sobre a marca hoje? Conte nos comentários.

---