Kia e Ford?

Como a Ford salvou a Kia da falência com um carro barato

Para substituir o Fiesta nos EUA e tirar a Kia da lama, a Ford criou o Festiva em parceria com a marca sul-coreana e a Mazda

Ford Festiva [divulgação]
Ford Festiva [divulgação]

Se hoje vemos a Kia como uma das maiores fabricantes do mundo, o seu passado foi um tanto quanto conturbado. Mas se não fosse pela Ford (e indiretamente a Mazda), talvez a Kia não estaria mais entre nós. E quem foi o responsável por salvar a marca sul-coreana? Foi o Ford Festiva.

Resumidamente, a Kia iniciou sua carreira no mundo automotivo em 1957 produzindo carros motos sobre licença da Honda. Cinco anos depois, fazia carros e picapes da Mazda. Só em 1974 produziu seu primeiro carro, além de ter acordos de carros licenciados da Fiat e Peugeot. 

Só que a marca teve um hiato de 1983 a 1986 sem produzir carros por conta do ditador coreano Chun Doo-hwan que demandou que a Kia produzisse caminhões ao invés de carros. Quando voltou à sua atividade usual, a KIa estava quase falindo. Foi ai que um acordo entre Ford, Mazda e Kia salvou a marca sul-coreana.

Ford Festiva [divulgação]
Ford Festiva [divulgação]

Três países

Sem dinheiro para desenvolver sozinha um modelo, a Kia entrou em acordo com a Ford para exportar um carro subcompacto de baixo custo para o mercado norte-americano. A Mazda ajudaria no desenvolvimento e forneceria o motor. Foi assim que surgiu o Ford Festiva, um hatch subcompacto que substitui o Fiesta nos EUA e nunca foi vendido no Brasil.

O modelo foi vendido como Mazda 121 no Japão entre 1986 e 1990 e como Kia Pride entre 1986 e 2000 (nos últimos anos mudou para Classic). Só que sua maior presença foi como Ford Festiva nos EUA. Por lá, ele sempre foi oferecido com duas portas e opção de câmbio manual ou automático. Já em outros mercados, tinha variante quatro portas, perua e sedã.

Ford Festiva [divulgação]
Ford Festiva [divulgação]

Como a Kia era responsável pela produção de todas as variantes e marcas, o Festiva conseguiu erguer a marca como nenhum outro modelo tinha conseguido. Nos EUA, seu sucesso foi relativo, afinal, carros pequenos nunca venderam bem por lá. Mas foi o suficiente para que o acordo entre as marcas fosse renovado.

Menos festa

Em 1993, a Kia revelou o novo Avella, que serviu como sucessor do Pride. Nos EUA e em alguns mercados específicos, ele foi vendido como Ford Aspire. O modelo seguia fortemente baseado nos modelos da Mazda, já que contava com motor e plataforma da marca japonesa. Mas todo o visual e construção era feita pela Kia.

Nos EUA, ele foi o primeiro carro compacto a contar com freio ABS e airbags duplos como item de série. Dessa vez, a Ford ofereceu o modelo em opção de duas ou quatro portas, mas ele ainda usava o arcaico câmbio automático de apenas três marchas. As vendas foram mais baixas do que as do Festiva pois o mercado já queria carros maiores e mais avançados.

Sobrevida iraniana

Só que a vida do Festiva não acabou. A primeira geração do subcompacto era produzida desde 1993 no Irã sob licença pela Saipa. Como já era um carro antigo, aos poucos a marca foi localizando componentes, até que em 2005 já era tudo feito localmente. Mas isso o transformou em um verdadeiro Frankenstein.

Saipa Quick [divulgação]
Saipa Quick [divulgação]

A Saipa usava a plataforma e motores do Kia Pride / Ford Festiva em tudo. A marca lançou versões estilizadas, sedã, liftback com traseira de Astra e até furgão. Mas o mais bizarro de todos era o Pars Khodro PK: o modelo era um Kia por baixo da carroceria, mas o visual era de Renault 5 dos anos 1972. Só que ele foi lançado em 2000 e durou até 2007.

O mais bizarro de tudo é que até hoje a Saipa fabrica carros com a plataforma do Kia Pride e do Ford Festiva. Os carros claramente tem visual totalmente diferente e tentam esconder as origens. Mas as rodas minúsculas e o tamanho desproporcional denunciam que há um projeto dos anos 1980 por baixo.

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