Em tempos de carros híbridos com baterias gigantes, ter um modelo que faça 33 km/l é algo bem comum. Mas imagine viver nos anos 1999 e ter um Audi refinado e luxuoso que fazia este tipo de consumo, mas sem a menor ajuda da eletricidade. O problema é que o ambicioso projeto alemão do Audi A2 só fez a marca ter prejuízo.
Lançado em novembro de 1999, o Audi A2 era fruto de um ousado projeto da engenharia da marca que decidiu criar um carro que rodasse de Stuttgart a Milão com um só tanque. O trajeto europeu é de 500 km, o que poderia ser fácil para vários carros diesel. Por isso, a Audi colocou como meta o consumo máximo de 3 litros a cada 100 km, ou seja, 33 km/l.
Alumínio, dieta e diesel
O primeiro conceito desse carro surgiu em 1997 no Salão de Frankfurt com o conceito Al2. Com a boa reação do público, o Audi A2 foi lançado em 1999. Ele foi o primeiro carro de produção em massa a contar com carroceria toda feita em alumínio. A marca optou por esse material para baixar o peso do hatch com ares de minivan, rival do Mercedes Classe A.
A Audi havia adquirido experiência com esse tipo de material com o A8, mas era um carro de volume menor. Com o A2, ela tinha pretensão de vender aos milhares todos os anos. Mas isso não aconteceu. Para atingir tal consumo, havia a versão especial 3L. Essa variante contava com motor 1.2 três cilindros turbo diesel.
O motor entregava tímidos 61 cv e 14,2 kgfm de torque, capazes de levar o A2 aos 100 km/h em agonizantes 14,9 segundos. Contudo, acionando o modo Eco, ele baixava a potência a 42 cv e o 0 a 100 km/h passava de 20 segundos. O motor era o mais leve de todos, entregando 100 kg apenas. Com isso, o A2 batia 895 kg de peso total.
A Audi provocou uma verdadeira dieta nessa versão ultra-econômico. Ele não tinha direção hidráulica, o ar-condicionado era limado, enquanto o banco traseiro não poderia ser dobrado e os vidros eram mais finos. Até mesmo a suspensão era feita em alumínio e ele contava com pneus mais finos e rodas menores.
O câmbio era automatizado de embreagem única, sendo um antecessor do i-Motion da Volkswagen. Com o modo Eco ativado, o câmbio era desengatado e o Audi A2 entrava em roda livre para economizar o máximo de combustível possível. O aerofólio traseiro também era diferente para melhorar o coeficiente aerodinâmico.
Plataforma de Gol
Além desse motor super econômico, o Audi A2 foi vendido também com outras quatro opções. Com gasolina, havia um 1.4 quatro cilindros aspirado de 75 cv e 12,8 kgfm de torque e o 1.6 quatro cilindros aspirado de 110 cv e 15,8 kgfm de torque que vários Volkswagen brasileiros usaram.
Com diesel, além do 3L, o Audi A2 era vendido com o 1.4 TDI quatro cilindros em variante de 75 cv e 19,8 kgfm de torque ou 90 cv e 23,5 kgfm. Todos esses motores diesel eram turbo, ao contrário das variantes a gasolina que sempre eram vendidas com aspiração natural. Por conta da plataforma compartilhada com Fox, Saveiro, Gol e Voyage, a tração era dianteira.
Exótico até em outros níveis
Além da construção diferenciada, o Audi A2 era construído em chassi do tipo sanduíche. Apesar de usar a plataforma que sobrevive até hoje na Saveiro, ele contava com um segundo piso na base, o qual permitiu manter uma posição de dirigir mais baixa e criar nichos na parte inferior do carro.
Haviam espaços de armazenamento no piso, que serviam tanto de porta-objetos, quanto para armazenar o estepe, ferramentas e criar um fundo falso no porta-malas. A estratégia era a mesma do Mercedes-Benz Classe A de primeira geração e, em teoria, permitiria fazer uma versão elétrica no futuro.
Na dianteira, a grade frontal em preto brilhante (até os modelos 2004, depois virou filetada em preto fosco) era falsa. Ela podia ser aberta para baixo onde revelava a vareta de óleo, bocal de água do para-brisa e de alguns fluidos. O capô não tinha dobradiças para abrir, sendo necessário removê-lo por completo do Audi A2.
Apesar de ter sido vendido em cores cartas, a marca criou a edição Color Storm em 2002 a qual trazia tonalidades exóticas antes disponíveis só nas versões RS. Além das cores chamativas, ele contava com para-lamas pretos foscos, borrachões também em preto e grade frontal no mesmo tom. Eram toques que davam a ele um estilo meio aventureiro.
Prejuízo até a página dois
A Audi tirou o A2 de linha em 2005 após alegar prejuízo médio de 7.530 euros por unidade vendida. Em valores atualizados, é como se a Audi perdesse R$ 46 mil a cada A2 vendido. A marca só não ficava no vermelho em unidades que contavam com opcionais, onde os valores eram propositalmente exorbitantes.
O A2, no final das contas, foi um dos maiores fracassos da história da Audi. Enquanto o Mercedes-Benz Classe A teve sua primeira geração com venda na casa dos milhões, o rival das quatro argolas teve apenas 176.377 unidades fabricadas em Neckarsulm durante seus seis anos de produção.
A Audi até ensaiou trazer o modelo de volta em 2011, quando apresentou o conceito A2 no Salão de Frankfurt. Diferentemente de antes, ele era totalmente elétrico. Só que o mercado ainda não estava pronto para esse tipo de carro e o fracasso de modelos como Nissan Leaf e Mitsubishi i-MiEV na Europa desincentivar a marca.
Você já conhecia o Audi A2? Conte nos comentários o que achou desse exótico modelo.