Se seu sonho é ter um Mercedes-Benz, saiba que o CLA 250 é o jeito mais barato de entrar no mundo da estrela entre os 0km. Por R$ 350 mil, o cupê de quatro portas abre mão de diversos itens de série e mimos que se espera de um Mercedes, mas preserva boa parte do que é considerado essencial em um carro da marca. Mas vale á pena esse sacrifício?
Confesso que assim que entrei no CLA 250 vivi um verdadeiro choque. O acabamento esmerado estava lá, evidenciado principalmente pela tonalidade bege usada no modelo da frota de imprensa. Mas ao tatear a mão na porta, onde fica o comando de regulagem elétrica do motorista, nada encontrei.
Desde que minha mãe vendeu sua Classe A de primeira geração produzida em 2001, nunca mais havia entrado em um Mercedes-Benz sem banco elétrico. Um tipo de falha imperdoável para a faixa de R$ 300 mil. Especialmente quando, de maneira irônica, a marca colocou ajuste elétrico só para a lombar. Vai entender…
Mercedes sem Benz
A lista de itens de série também sente a falta de um ar-condicionado digital de duas zonas: no CLA 250 você precisa entrar em consenso com o passageiro sobre a temperatura da cabine. Também não há saída de ar para o banco traseiro. Mas a economia mais decepcionante foi na chave, que é meio presencial.
Explico: a chave é presencial para ligar o Mercedes-Benz CLA, mas não para destrancar as portas. É preciso acionar os comandos na chave para abrir o carro e sempre em duas etapas porque as portas dos passageiros não destrancam junto da do motorista. Ao menos as unidades para o Brasil não contam mais com telas pequenas no painel.
A Mercedes-Benz optou por manter o painel de instrumentos e a central multimídia com telas grandes para o nosso país. O modelo também freio elétrico, faróis full-LED com acendimento automático, sensor de chuva, frenagem autônoma de emergência, vetorização de torque, controle de tração e estabilidade, além de retrovisor interno eletrocrômico.
Grande família
Recentemente testei outro Mercedes-Benz compacto, o SUV de sete lugares EQB, o qual divide plataforma com o CLA. Por isso, me senti em casa no interior. O painel dos dois é praticamente idêntico, mantendo o layout básico e o acabamento de ótima qualidade. Há muitas superfícies macias e onde existe plástico, é de qualidade.
O couro que envolve o volante é um pouco aquém do que se espera de um Mercedes-Benz e contrasta com o banco, que tem ótima qualidade e é confortável. A noite, luzes decorativas nas saídas de ar e em filetes no painel e portas deixam a cabine mais jovial e interessante. Mas beira parecer algo cafona e exagerado.
As telas que compõem o painel e central multimídia merecem destaque. A qualidade é excelente, são fáceis de mexer e rápidas. Além disso, o painel e a central podem ser personalizados com temas diferentes. A Mercedes-Benz só poderia corrigir o Android Auto e o Apple CarPlay que ocupam metade da tela.
Além disso, faz falta também um botão físico para mudar de música. Para trocar de faixa é preciso usar o touchpad no console central, que se tornou um tanto quanto inútil com o botão de controle sensível no volante e com a tela touch.
Forma vs função
Diferentemente do Classe A Sedan que tem um perfil mais tradicional e espaço interno, o Mercedes-Benz CLA aposta no formato mais esportivo e acupezado para seduzir. O teto é baixo, curvado e com vidro traseiro bem inclinado. Como resultado, o modelo é bem apertado atrás. Bem apertado mesmo.
Pessoas de estatura média vão raspar a cabeça e reclamarão de falta de espaço para as pernas caso quem sente na frente seja alto. O porta-malas de 460 litros é bom, mas tem bocal pequeno, fazendo com que colocar cargas grandes seja bem difícil no Mercedes-Benz mais barato do Brasil.
A vantagem, contudo, é que é um carro muito bonito. Mesmo prestes a ser reestilizado, ainda chama atenção nas ruas pelo formato esguio. Ele parece mais caro do que de fato é e passa a sensação de algo exótico e diferente. Visualmente, é bem mais interessante que o Classe A Sedan e até que o Classe C.
Renault aqui não
Apesar de ser o Mercedes mais barato do país, o CLA 250 não usa o motor menos potente da marca. Ao invés do 1.3 turbo compartilhado com a Renault, ele traz o 2.0 quatro cilindros turbo de 224 cv e 35,7 kgfm de torque feito pela marca alemã. É um motor que surpreende pela boa entrega de força e consumo comedido.
Oficialmente a marca divulga 9,5 km/l na cidade e 13,3 km/l na estrada. Durante nossos testes, ele marcou média de 11,4 km/l com trecho cidade e estrada equilibrado. Ao mesmo tempo, ele não negava fogo, acelerando forte e retomando sem preguiça. Ele não é tão bruto quanto um VW Jetta GLI, mas é performance que se espera de um Mercedes.
Já a transmissão automatizada de dupla embreagem com sete marchas não parece acompanhar a boa performance do 2.0 turbo. Ela vacila nas saídas, revelando um delay nítido nas arrancadas. Além disso, as trocas são suaves, mas demoradas. Em algumas situações também, especialmente nas subidas, o câmbio se perdeu e fez o carro trepidar.
Nas curvas, a pegada de cupê faz jus ao CLA 250. Ele anda grudado e assentado. A direção tem acerto mais firme e esportivo, acompanhada pela suspensão igualmente firme e que é castigada pelo nosso asfalto lunar e ruim. É um carro bem divertido de dirigir e que, graças às suas proporções compactas, o torna um belo companheiro de estradas sinuosas.
Veredicto
Como em um jogo de toma lá dá cá, a Mercedes-Benz tirou itens de série do CLA 250 para o tornar o mais barato do Brasil, mas não sacrificou em performance. Ele é menos equipado que o esperado, mas anda tão bem quanto é desejado por um modelo alemão de luxo, especialmente com pegada esportiva.
A cabine é apertada, mas o belo visual esportivo foi o culpado por a fazer pouco convidativa aos que sentam atrás. Ao menos o porta-malas tem boa litragem e o interior tem acabamento impecável. O problema é que o CLA 250 é carro verdadeiramente caro, mesmo sendo o Mercedes-Benz mais barato do Brasil.
Até porque, por R$ 50 mil a menos dá para levar um Audi A3 Sedan para casa ou, por R$ 5 mil a mais, a versão topo de linha do BMW Série 3 com motor 2.0 flex – ambos bem mais equipados. A grande questão é que, para quem quer um Mercedes, o CLA atende bem, mesmo levando menos por mais.
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