Desde que introduziu a gama RS no Brasil com o Onix em 2021, a Chevrolet posicionou a variante esportivada de maneiras diferentes. No Onix, fica entre a LTZ e a Premier, enquanto no Tracker é a mais barata com motor 1.2 turbo e no Equinox é a versão de entrada. Só que a Chevrolet Montana RS é a única que fica no topo.
Com visual de versão mais cara, nunca ficou claro o motivo pelo qual a Chevrolet não tratava a versão RS como uma equivalente em itens da Premier nos outros modelos. Mas, para a Montana, essa aplicação foi feita e foi o resultado mais acertado. Só que, por R$ 151.890, vale levar essa picape intermediária para casa?
Conjunto mais acertado
De todos os carros da plataforma GEM da Chevrolet no Brasil, a Montana é, sem dúvida, a mais bem construída. Ela passa uma sensação mais sólida do que a do Tracker, além de uma qualidade de montagem bem maior do que a do Onix. É um carro mais firme, acertado e com mais carinho.
A suspensão da Montana RS se comporta exatamente igual às demais versões, já que não passou por mudanças. E ainda bem. A picape roda como um bom SUV, mantendo a carroceria estável nas curvas e não pulando como outras caminhonetes. Você praticamente esquece que tem uma caçamba ali atrás.
É voltada ao conforto, absorvendo bem as imperfeições do asfalto em ruas ruins, além de manter a carroceria firme nas rodovias em alta velocidade. Em suma, um carro bom de dirigir para aqueles que dispensam emoções ao volante em favor do conforto – área na qual ela é bem competente.
Assistida eletricamente, a direção da Montana RS é bem leve nas manobras e suficientemente firme em velocidades mais altas. Não apresenta lentidão notória, nem é rápida demais como em modelos mais esportivos. Tal qual sua suspensão, segue por uma neutralidade que a torna mais fácil de agradar a diversos públicos.
RS não é esportivo
Apesar de implicar certa esportividade, a sigla RS tem ligação direta com visual. Por isso, não espere muito do motor 1.2 três cilindros turbo da Montana. São 133 cv e 21,4 kgfm de torque que a tornam extremamente sensível a cargas. Com o motorista, anda bem, enquanto com um passageiro mantém a performance. Mas, mais do que isso, já perde força.
Lotada com cinco pessoas e algumas cargas leves no porta-malas, o motor 1.2 turbo já não dá tanta conta do recado e faz com que a Montana RS pareça um tanto quanto manca. Fica difícil competir com a Renault Oroch e com a Fiat Toro com seus motores 1.3 turbo de 185 na Fiat e 170 cv na Renault, mas torque igual de 27,5 kgfm.
Um dos problemas maiores dessa falta de força se dá por conta da ausência de injeção direta de combustível. Mesmo turbinado, o motor só acende de fato aos 4 mil giros, exigindo pisar fundo no acelerador para que a Montana RS embale o que precisa na estrada quando está carregada.
Já o câmbio automático de seis marchas, já apresenta sinais da idade. As trocas são imperceptíveis em 70% do tempo, mas no restante, insiste em fazer as mudanças com trancos ou segurar a marcha mais do que deveria para trocá-la com lentidão. A falta de maneiras de fazer trocas manuais também incomoda.
Ao menos, o consumo é muito bom. Oficialmente, a Chevrolet divulga 11,1 km/l na cidade com gasolina e 13,3 km/l na estrada com o mesmo combustível. Enquanto nos nossos testes na cidade o consumo oficial bateu exatamente com o real, na estrada a Montana RS chegou a marcar 15,7 km/l mesmo em ritmo acelerado.
Peças que faltam
Talvez por culpa da crise de semicondutores ou por pura economia, o interior da Chevrolet Montana apresenta diversas peças faltantes. Há uma tampinha na parte superior do painel que parece pronta para um head-up display ou para as luzes de alerta da frenagem autônoma de emergência (que ela não tem).
Há também a gigante ausência de painel de instrumentos digital – especialmente porque o layout com a central multimídia foi pensado para receber essa tela. No lugar, a Chevrolet usou o mesmo cluster do Onix, que é pequeno, tem tela monocromática terrível de ruim e visual sem graça.
Fora esses pontos, a Chevrolet Montana tem uma cabine bastante agradável. O acabamento não é o melhor da categoria, mas está muito longe da má qualidade da Renault Oroch. É justo pelo valor pedido ao julgar os plásticos. Há uma larga faixa de couro perfurado com detalhes em vermelho que dão um charme a mais para a caminhonete.
Nas portas, o mesmo material é usado junto de costuras vermelhas. Já os bancos recebem couro perfurado em uma porção, liso em outra e tecidos diferentes na parte central. Eles tem qualidade aquém do couro usado no volante, que é uma enorme referência. O material usado na direção merece elogios por ser melhor do que até algumas marcas premium.
É fácil e é difícil
Como sempre, a central multimídia da Chevrolet merece elogios por ser extremamente fácil de ser operada. Ela é rápida, tem menus claros e com layout contemporâneo. Vem com wi-fi embarcado, além de Android Auto e Apple CarPlay sem fio. Só há uma leve sensação de falta de saturação nas cores, mas algo que é totalmente passável.
É um contraste frente à tela do painel de instrumentos, que é cheia de menus e submenus difíceis de entender e se ajustar. Por falar em ajuste, o volante conta com regulagem de altura e profundidade, algo mais do que bem-vindo para encontrar a posição ideal de dirigir. Ela é mais neutra, vale ressaltar: não é alta em excesso, nem baixa demais.
Na traseira, o espaço é melhor do que o da Fiat Toro e da Ram Rampage, mas ainda assim é ruim. As pernas ficam apertadas para quem se senta atrás de um motorista alto, enquanto as costas estão mais retas do que o que seria confortável. Ao menos, como na Ford Maverick, a Chevrolet Montana RS tem colunas bem retas que dão mais área para cabeça.
Na caçamba, ela leva 874 litros com até 600 kg de capacidade. Só que o destaque vai para o acessório Multiboard. Com ele, a Montana ganha uma prateleira de plástico rígida que permite organizar compras do supermercado ou outras utilidades para não ficar sambando de um lado para o outro da caçamba, além de proteger a parte inferior de furtos.
Premier a mais
O fato de ser baseada na versão Premier, fez com que a Montana RS tivesse acesso a todo o catálogo de itens de série da picape. Ou seja, já vem de fábrica com seis airbags, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera de ré, faróis full-LED com acendimento automático, câmera de ré, vetorização de torque e alerta de ponto cego.
Há ainda ar-condicionado digital de uma zona, chave presencial, vidros elétricos nas quatro portas, retrovisores elétricos, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, carregador de celular por indução, comandos de som no volante e monitoramento de pressão dos pneus.
Como diferenciais estéticos, ela conta com logotipos da Chevrolet em preto por dentro e por fora (exceto na chave), grade frontal com cromo escuro e trama interna diferenciada, rodas de liga-leve de 17 polegadas diamantadas, logotipo RS na grade e na traseira, retrovisor preto, além dos detalhes internos anteriormente mencionados.
Veredicto
Dentre todas as versões da Chevrolet Montana, a Premier é a que traz o melhor custo-benefício ao ser muito bem equipada. Só que a RS é a que tem o visual diferenciado que a destaca das demais. Por R$ 151.890, ela exige um investimento de R$ 3 mil a mais que a antiga variante topo de linha. Algo que, definitivamente, vale a pena.
A grande vantagem da Chevrolet Montana hoje no mercado é ser intermediária entre as Fiat Strada e Toro, mas um produto muito melhor que a Renault Oroch. Se a Strada ficou pequena demais para você e a Toro ainda é um passo longe, a Montana é uma escolha lógica, racional e, sinceramente, inteligente.
Qual picape intermediária você teria na sua garagem hoje? Conte nos comentários.
>>Chevrolet Montana aposta onde falta à Fiat | Avaliação