
Pode ser que saiba, mas não por esse nome: é um mecanismo que toda bicicleta tem chamado catraca. Você (o motor) para de pedalar, mas ela continua o movimento no embalo no plano ou numa descida. O nome roda-livre surgiu aqui mais por ser um dispositivo na transmissão do automóvel DKW-Vemag (foto abaixo), fabricado no Brasil entre 1956 e 1967.
Uma forma de roda-livre sem dispositivo específico é a conhecida (e proibida) banguela ,colocar o câmbio em ponto-morto. A roda-livre nos automóveis foi uma ideia aproveitada justamente da bicicleta como forma de poupar combustível, uma vez que o motor a gasolina tem efeito frenante quando não está acelerado.
Desse modo desperdiça-se a energia de movimento (energia cinética) que consumiu a energia do combustível (ou a energia elétrica) a bordo para levar o veículo à velocidade desejada.

Como surgiu o conceito de roda-livre?
Mas a roda-livre não apareceu nos automóveis sozinha. Ela foi associada a uma pequena transmissão auxiliar montada no carro com a finalidade de fazer o cardã girar mais do que a saída da caixa de mudanças. Essa transmissão auxiliar tinha o nome que você talvez já tenha ouvido falar: overdrive (ôver/dráive).
O overdrive começou a ser utilizado a partir da segunda metade da década 1930 nos carros de alto preço. Não é tão simples entender o porquê desse estranho nome, mas vou tentar explicar. Você deve saber que dentro da caixa de mudanças há vários pares de engrenagens, que são as marchas que você vai engatando ao dirigir.

Independentemente do número de marchas, a última não era exatamente um par de engrenagens como as demais, mas uma conexão direta do motor com a saída da caixa. Essa conexão direta tem o nome de tomada direta, que em inglês é direct drive.
Mas, o que é overdrive?
É daí que vem o nome overdrive, que significa a rotação do cardã ser maior do que a saída da caixa (e do motor). Isso quer dizer que, em teoria, era desnecessário, para apenas movimentar o veículo, haver as “marchas” (numa próxima matéria explico por que tê-las).
Para a rotação do cardã ser maior do que a da saída da caixa, na citada transmissão auxiliar há uma engrenagem do tipo epicíclica, como as dos câmbios automáticos convencionais, que multiplica o movimento.

É como se fosse uma marcha adicional às demais cujo objetivo é reduzir a rotação do motor na estrada, em velocidades de viagem tanto para reduzir o consumo de combustível, quanto para proporcionar conforto pelo fato de o motor estar com menos rotações.
O Chevrolet Corvette C4 (quarta geração, 1984-1988) tinha uma versão de câmbio manual de quatro marchas com overdrive por meio de uma transmissão auxiliar que podia ser usado em segunda, terceira e quarta, por isso apelidado de”câmbio 4+3”, com mostra o desenho e mencionado como Doug Nash Overdrive extension.

E a roda-livre, onde ela entra nessa história?
Na transmissão auxiliar citada acima, além da engrenagem epicíclica há um mecanismo de roda-livre (pense na catraca da bicicleta) de tal maneira que ao acionar o Overdrive (por um interruptor) entra junto a função roda-livre.
Ao levantar o pé do acelerador o motor se desconecta do câmbio e o carro segue com o motor em macha-lenta até ser reacelerado e voltar a tracionar o carro. Era assim no DKW-Vemag, que podia ter a roda-livre desligada se o motorista quisesse por uma alavanca sob o painel no lado esquerdo.

Hoje há carros de câmbio automático que têm o modo roda-livre selecionável, inclusive até desligando o motor em velocidade abaixo de 120 km/h, como nos Mercedes-Benz EQ 200 e outros. Ao acelerar ou tocar no pedal de freio o motor é ligado instantaneamente. Como voltar a pedalar uma bicicleta!
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