Como sou novo aqui no Auto+, cabe-me explicar, para quem não sabe, o que é a palavra camioneta do título. Ela consta do Anexo I – Dos Conceito e Definições, do Código de Trânsito Brasileiro, lei federal de nº 9.503 23 de setembro de 1997, em vigor. Camioneta (não confundir com caminhonete), no texto legal é “veículo misto destinado ao transporte de passageiros e carga no mesmo compartimento”. É o que se conhece como station wagon (SW) ou perua.
Na minha vida profissional tenho como princípio evitar ao máximo o uso de palavras de outro idioma e também aquelas de origem duvidosa, como perua. Esta palavra carece de qualquer sentido, não representa nem de longe o que o veículo assim chamado é ou é capaz de fazer.
Camionetas fazem falta
Independente do nome, o fato é que não existe mais camioneta fabricada no Brasil. Começou pela GM ao tirar de linha a notável Omega Suprema em 1997, depois a Toyota parar de fabricar a excelente Corolla Fielder em 2008. E assim, uma a uma as camionetas foram ficando ausentes das linhas de produção — justamente o tipo de carroceria do primeiro carro nacional, a DKW-Vemag Universal de duas portas lançada em novembro de 1956.
A última camioneta a sair de cena aqui foi a Fiat Weekend, em 2020, após ser produzia por 23 anos. Era uma derivação perfeita do Palio.
Todas as camionetas sempre foram bem vistas e recebidas pelo mercado. Tanto que as 100 mil unidades de DKW-Vemag se dividiram meio a meio entre o sedã e a camioneta até a Vemag fechar em novembro de 1967 após ser absorvida pela Volkswagen em julho de 1966. Camionetas atraíam, inclusive a Simca chegou a lançar a camioneta Jangada, derivada do sedã Chambord.
Mas o que as fez sumir?
O que teria motivado o sumiço das camionetas aqui, se elas continuam a existir na Europa até hoje, cada vez mais espetaculares? Se eram tão apreciadas no Brasil, por que deixaram de ser fabricadas pela indústria aqui instalada? Intrigado, sempre me faço essa pergunta.
Seria porque não vendiam o suficiente ou passaram a não vender porque a oferta diminua cada vez mais? Outra hipótese é o Rei Mercado ter simplesmente enjoado do formato e quando o Rei enjoa é ele é quem manda, nada pode ser feito. Mas se o mercado enjoou, cansou-se das camionetas, deve haver um motivo, e esse minha IN (inteligência natural) tenta encontrar faz alguns anos.
De feias não têm nada. São nada mais que sedãs com teto alongado e amplo espaço no porta-malas. O teto mais longo proporciona mais conforto para passageiros do banco traseiro do que um sedã por estarem protegidos da luz solar por trás.
Elas são melhores
Em regra, são mais aerodinâmicas (menos arrasto do ar), o que para o mesmo conjunto motriz do sedã do qual derivam significa melhor desempenho e menos consumo de combustível, compensando com folga o peso marginalmente maior.
Dinamicamente são iguais aos sedãs, o que quer dizer que são mais estáveis e manobráveis do que os veículos de maior porte como o suves. Mesmo caso das picapes pequenas em relação às médias e grandes. A picape Ford Courier, por exemplo, aclamo-a como o veículo mais competente nas curvas que dirigi.
Um parêntese. Você leu a palavra suve na frase acima. Consoante com o que eu disse mais acima sobre evitar palavras de outros idiomas, parei de escrever SUV tanto por ser sigla de palavras em inglês (Sport Utility Vehicle), quanto por não constar das definições do CTB. Por isso aportuguesei a sigla ao mesmo tempo transformando-a num substantivo homófono a SUV quando pronunciado.
Uma experiência pessoal foi quando a Volkswagen, onde eu era chefe de Competições, se preparava para o Campeonato Brasileiro de Marcas e Pilotos de 1984. A engenharia recomendou usarmos a Parati em vez do Gol por sua superioridade aerodinâmica e distribuição de peso em relação ao hatch. Mas Marketing prevaleceu e barrou a engenharia, tivemos que usar o Gol.
As camionetas são mesmo perfeitas. Pena que o Rei Mercado não as quis mais.