Quando você é da área de Comunicação de uma montadora e recebe o aviso de Vendas & Marketing de que o carro xis será lançado comercialmente no mês ípsilon, você programa para a véspera o “evento de lançamento com a imprensa”. Escolher o roteiro do test drive é parte fundamental da estratégia de apresentação para reforçar os dotes positivos do carro – ou tentar esconder deficiências técnicas.
- DS SM Tribute é uma reinterpretação que pode chegar por € 1 mi
- Giro ND Mais: acidentes são os destaques
Só que não são todas as montadoras que acertam na escolha do trajeto. Claro que os profissionais mais qualificados irão perceber esse tipo de “escolha” e as críticas serão inevitáveis. Mas não custa tentar.
Se você trabalha em uma marca chinesa, por exemplo, não convém escolher roteiros de test drive que sejam sinuosos e, principalmente, com pisos irregulares, visto que a maioria dos modelos produzidos naquele país possui suspensão traseira muito macia – e esse tipo de estrada vai reforçar essa percepção e gerar críticas.
Fica a dica.
Exemplos para o bem…
Uma vez, eu fui pra Alemanha para conhecer a nova geração do Mercedes-Benz Classe S. O pé de boi da família ali tinha lá seus 250 cv. O S600 (motor V12) chegava quase a 400 cv. E era O SEDÃ da Mercedes. Adivinhe: os caras deram a largada na porta da fábrica, em Stuttgart, e disseram: “te vejo em Lucerna (Suíça)”.
Eram cerca de 250 km, sendo boa parte desse trecho em território alemão por autobahnen, aquelas rodovias onde não há limite de velocidade. Se você não trabalha na Mercedes-Benz e não está lançando seu maior e mais refinado sedã, no entanto, convém tomar alguns cuidados.
Na minha carreira de quase 35 anos no segmento automotivo, eu pude ver inúmeros exemplos de erros e acertos, os quais descrevo a seguir. Em agosto de 2002, a Volkswagen promoveu o lançamento do Polo 1.0 16V no litoral catarinense. No test drive, nós, jornalistas, descíamos de Joinville para Florianópolis, ou seja, um roteiro praticamente ao nível do mar.
E faz uma tremenda diferença em motores (principalmente com baixo rendimento) a avaliação em localidades com baixas altitudes. Sabia disso? Vc perde 1% de potência a cada 100 metros de altitude (em motores aspirados). Embora as injeções modernas compensem um pouco, o oxigênio admitido “pobre” não fará milagres.
Isso quer dizer que um SUV de 150 cv perde uns 10 cv em São Paulo. Ao contrário disso, a maior pressão atmosférica (ao nível do mar) faz com que o motor “respire” melhor e ofereça o rendimento previsto.
Ou seja: lá na BR 101, o Polo tinha verdadeiramente os 79 cv declarados na ficha técnica. Como o roteiro escolhido era um “descidão”, você mal percebia a falta de fôlego do motorzinho.
E para o mal…
Só que a General Motors, poucos dias antes, fizera a apresentação da Meriva com motor 1.8, em um roteiro que ia de Guarulhos a Campos do Jordão, interior de SP. Essa cidade fica a 1.600 m de altitude e só é acessada depois de vencer a subida de uma serra repleta de curvas fechadas.
Ou seja: tudo errado. Minivan é o tipo de carro que aderna nas curvas e não se lança carro pesado na subida! Os jornalistas que estiveram nos dois eventos chegaram a comentar: “não parece que o Polo anda mais?” Não era só impressão, não. Lá no alto de Campos do Jordão, os 102 cv da Meriva reduziam-se a 84 ou 85 cv (ar rarefeito).
Como a minivan era bem mais pesada que o Polo 1.0, e o teste foi feito na subida de serra, andava menos mesmo. Se a Mercedes acertou ao lançar a Classe S nas espetaculares autoestradas alemãs… uma vez fez o evento de apresentação da SLS (a nova asa de gaivota) na Rota Panamericana no México.
Nada contra, a não ser pelo fato de o trecho escolhido ser pavimentado com concreto, não asfalto. A cada 200 metros, vc ouvia um “tum” acentuado nas emendas do piso. Com suspensão firme, a reverberação do “tum” vinha até o volante. Incomodava. E poderia sugerir que a suspensão era áspera, quando, na verdade, a culpa era do piso.
Outro exemplo, e aí os erros se multiplicam, é escolher um roteiro muito curto, em que o profissional mal tenha a chance de guiar decentemente o carro para começar a desvendá-lo. Houve montadora que já fez “evento de lançamento” em pátio de fábrica ou estacionamento de shopping certer. Você andava 2 km…
O ideal é proporcionar roteiros que incluam trechos urbanos e rodoviários de, no mínimo, 100-120 km. E incluir estradas de terra se o veículo tiver dotes off-road.
E os autódromos?
Isso gera polêmica. Há muitos jornalistas que não gostam de test drives em autódromos, mas eu tenho a opinião de que qualquer coisa acima de 300 cv se torna imperceptível para se experimentar em locais públicos. Carros com 300 cv ou 400 cv ou 500 cv são iguais na rua. Eles só serão devidamente testados em autódromos, que são os locais onde você poderá chegar aos limites.
Eles também servem para você testar recursos de ADAS, por uma questão óbvia de segurança. Quer mostrar uma frenagem de emergência? Só dá para fazer dentro de uma pista fechada.
- DS SM Tribute é uma reinterpretação que pode chegar por € 1 mi
- Giro ND Mais: acidentes são os destaques
- Novo logotipo da Jaguar é revelado, mas conceito só em dezembro
- Triton 2025 está à venda perto do Brasil e traz versão Katana