Coluna do Tio Edu!

Como eu comecei no jornalismo automotivo

Conheça a trajetória do nosso colunista Edu Pincigher ao longo de mais de 35 anos de carreira no jornalismo automotivo.

Ford EcoSport vermelho de frente andando na terra
Ford EcoSport [Foto: Divulgação]

Meu avô era mecânico em Sorocaba. Íamos de São Paulo lá uma ou duas vezes por mês. Com 8 ou 9 anos, minha diversão era desmontar carburadores e lavá-los no tanque de querosene, além, é claro, de ficar brincando com a morsa na bancada.

O interesse por carros era patente. Vivia enfileirando a coleção de 7 ou 8 carrinhos de Matchbox no chão da sala. E prestando cada vez mais atenção aos carros de rua, a ponto de saber diferenciar o ano de produção de qualquer carro dos anos 70, mesmo que fosse por detalhes de para-choque.

Minhas leituras eram sempre as revistas Quatro Rodas e, um pouco mais tarde, Duas Rodas e Oficina Mecânica. Gostava tanto de carros que cheguei a pensar na adolescência em fazer faculdade de Engenharia – mas fiquei encolhido em um canto da sala até a vontade passar. Fiz vestibular pra Jornalismo no final de 1986 e entrei na PUC-SP em 1987.

O primeiro contato

Quando estava no 2º ano, essa história começa de verdade. Sonhava em trabalhar no segmento, mas não encontrava nenhuma porta aberta. Não conhecia ninguém do setor.
O que era possível, à época, era trabalhar como “contato publicitário” de um jornal de bairro, na região de Interlagos, onde morava.

E assim parei, um dia, na esquina das avenidas Interlagos e Jangadeiro. Onde hoje há um posto de gasolina, funcionava o “Curso Marazzi de Pilotagem”. Toquei a campainha. O sr. Expedito atendeu gentilmente.

Eu o conhecia de reportagens na TV e, principalmente, da Quatro Rodas. Ele simbolizava TUDO o que eu queria ser na vida. Não só ele recebeu aquele menino que, mais do que vender um anúncio, queria bater papo sobre carros e testes de carros, como deve ter visto o brilho no olhar de quem era apenas um fã. E ele respeitou muito isso. Correspondeu.

O velho Marazzi, uma espécie de “patrono” dessa profissão, por ter introduzido a metodologia de testes de carros na Quatro Rodas da década de 60, ali estava, à minha frente, falando dos dele, mostrando a oficina.

O início no jornalismo automotivo

No final daquele ano, eu encontraria um papelote no mural da PUC anunciando vagas para estagiários na Autolatina. Corri pra atualizar meu currículo e consegui agendar a entrevista.
Continuava lendo tudo o que saía na imprensa sobre carros, o que era, e ainda é, fundamental para quem quer ingressar no jornalismo automotivo. Quanto maior sua bagagem sobre história do automóvel, ué, melhor, não?

Acho que fui tão enfático durante a entrevista, descrevendo em detalhes como eram compostas as linhas VW e Ford, falando de quantas centenas de vezes tinha ido ao Autódromo de Interlagos por morar próximo, que acabei sendo selecionado.

Ford Verona parado de frente em foto de divulgação
O Ford Verona foi um dos carros produzidos à época da Autolatina [Foto: Divulgação]

Iniciei 1991 como estagiário da assessoria de imprensa da Autolatina. Logo no meu segundo dia de trabalho, eu fui designado para acompanhar uma entrevista do Jornal do Brasil lá na fábrica da Ford. E os caras me deram um Escort XR3 Conversível pra ir até lá. E um guia de ruas pra me orientar como chegar à planta que ficava em São Bernardo do Campo…

Nos dois anos que lá estive, com alguns mestres inesquecíveis (como Luiz Carlos Secco, o maior de todos, até hoje), conheci dezenas de jornalistas que escreviam sobre automóveis, inclusive vários deles da revista Quatro Rodas.

Pelas redações no jornalismo automotivo

Quando me formei, no final de 1990, candidatei-me a uma vaga para o “Curso Abril de Jornalismo”, espécie de formação prática para trainees. Passei. E a indicação pra trabalhar da redação não demorou pra vir. Comecei fazendo atendimento ao leitor, mas logo fui efetivado como repórter da área de testes da revista.

Parecia um sonho. Comecei a trabalhar ao lado dos caras que eu mais admirava, como Douglas Mendonça (que foi o cara que efetivamente me ensinou a avaliar carros e fazer as medições na pista de testes) e Luiz Bartolomais. E cruzar com outros tantos ídolos da infância em eventos de lançamentos, como Claudio Carsughi, Bob Sharp, Emilio Camanzi, Josias Silveira.

Ford Escort XR3 Cabrio [Foto: Divulgação}

Pude encontrar o próprio Expedito alguns meses mais tarde. Relembrei da visita e o agradeci. Bonachão, ele ficou indignado. “Qualquer jovem que invista em seu sonho tem que ser respeitado. Estava na cara que você viraria um colega”. Quem diria. O velho Marazzi me chamaria de colega.

E só um detalhe: mais de 35 anos se passaram de jornalismo automotivo. E sabe o que eu faço quando sobra um pouquinho de tempo? Leio sobre carros. Nunca é demais, né?

Por Edu Pincigher