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Coluna do Tio Edu

Christian Fittipaldi ficou p...comigo e a culpa é de um Nissan

Em uma silenciosa disputa entre Edu e Christian Fittipaldi, o piloto não levou a melhor em um esportivo da Nissan

Nissan 300ZX branco de traseira
Nissan 300ZX [divulgação]

Naquele início dos anos 90, a chegada abundante de carros importados – e alguns esportivos para encher nossos olhos – rendia vastas capas de revistas. Todo mês era uma marca nova estreando. Ou um novo modelo que podia interessar, fosse pela tecnologia, pela grife, pela esportividade. Não faltavam novidades.

Era raro, mas até podia acontecer de você ficar sem um tema pulsante para estampar na capa da revista. Pois isso ocorreu em abril de 1992, quando nos reunimos para determinar a pauta da edição do mês seguinte. Nada. Nenhuma estreia verdadeiramente digna de ganhar a capa da Quatro Rodas de maio.

Eis que alguém solta a ideia de convidar o Christian Fittipaldi, que acabara de estrear na Fórmula 1, para testar algum carro. Se o modelo testado não rendia sozinho uma matéria da capa, a presença do Christian reforçava o apelo. Agendamos o encontro no autódromo de Jacarepaguá, no Rio, com o piloto como convidado. Ele testaria dois superesportivos japoneses: Mitsubishi 3000GT VR4 e Nissan 300ZX Turbo.

Mitsubishi 3000GT vermelho na pista
Mitsubishi 3000GT [divulgação]

Peguei um carro na garagem da revista, passei na casa do saudoso Marco de Bari, o melhor fotógrafo de carros que esse país já viu, e fomos no domingo à noite para o Rio de Janeiro – a pauta seria na segunda cedo.

Além de craque, o Bari tinha um humor fora da curva. Era um exímio tirador de sarro. Ninguém escapava dele.

reportagem da revista Quatro Rodas sobre o Nissan 300ZX e o Mitsubishi 3000GT
[Quatro Rodas]

Levamos até o equipamento de testes que usávamos na pista pra tirar os números. Antes de o Christian Fittipaldi chegar ao autódromo, montei tudo e fiz as minhas medições no retão do circuito fluminense (acelerações, retomadas, frenagens etc) logo no início da manhã, com os termômetros marcando entre 24 e 25 ºC.

Piloto vs jornalista

Chega o Christian. Entro com o piloto na pista pra ensiná-lo a lidar com o equipamento. “Pra fazer aceleração de 0 a 100 km/h, você aperta esse botão, dá a arrancada e, no final da reta, aperta aqui pra imprimir o resultado…”

Nissan 300ZX branco correndo em uma pista de frente
Nissan 300ZX [divulgação]

Desço do Nissan e ele parte pra pista sozinho (já estava uns 8°C mais quente). Ao retornar, Christian Fittipaldi mostra a fitinha impressa ao Bari. Eu sigo desmontando o equipamento do carro para passá-lo ao Mitsubishi. Detalhe: esses carros tinham, exatamente, 300 cv de potência. Mas nada de controle de tração.

Ou seja, você tinha que estudar a rotação que iria largar no 0 a 100 km/h com o 300ZX. Se acelerasse muito, ele patinaria as rodas traseiras e você perderia tempo. Se acelerasse pouco, ele arrancaria meio chocho. O 3000GT, por sua vez, tinha tração permanente nas quatro rodas, evitando que esse problema acontecesse.

Mitsubishi 3000GT [divulgação]
Mitsubishi 3000GT [divulgação]

Baixinho folgado

Ao olhar para a fitinha do 0 a 100 km/h feito pelo Christian Fittipaldi, o fotógrafo cochicha alguma coisa e o piloto passa a me olhar torto. E assim foi até o final da reportagem. Mal se despediu. E eu não entendia o porquê.

O Bari tinha dito a ele, por pura sacanagem, que meu tempo no 0 a 100 km/h havia sido 2 décimos melhor que o dele. Ele fez 6s71 no Nissan e eu, 6s5. “Esse baixinho vai querer aparecer em cima de você e vai publicar os tempos na reportagem”, disse o Bari. O cara era piloto de F1, vamos combinar. Ficou P da vida, até porque ele fez as medições com o sol do meio-dia, o que, naturalmente, renderia tempos ligeiramente piores.

Mitsubishi 3000GT [divulgação]
Mitsubishi 3000GT [divulgação]

Meus tempos nunca foram publicados, e sim os do Christian. O Bari se foi em um acidente dentro de um estúdio, anos atrás. Nissan e Mitsubishi quase não são vistos mais nas ruas… Nem Jacarepaguá existe mais.