A diferença entre os carros a combustão e os elétricos está diminuindo muito mais rápido do que se imaginava. Prova disso é o que a BYD conseguiu fazer com o Yuan Plus no Brasil. Com porte e preço de Jeep Compass, mas acabamento no nível de Audi, BMW, Volvo e Mercedes, o BYD Yuan Plus é uma opção tentadora contra os modelos a combustão.
Durante anos, os carros elétricos vendidos no Brasil tinham uma distância de preço alta para os modelos a combustão, além da pouca autonomia. Prova disso é o Peugeot e-208 ou o Renault Kwid E-Tech custando o dobro de suas variantes topo de linha a combustão. Ou o modelos bastante interessantes como Peugeot e-2008 como pouca autonomia.
Era preciso partir para o segmento de luxo para ter um carro elétrico com preço equivalente a um modelo a combustão ou autonomia minimamente decente para viagens. Mas o BYD Yuan Plus é o primeiro passo de uma revolução silenciosa dos modelos elétricos. Até porque, por R$ 269.990, ele não é tão mais caro que um Compass topo de linha.
Medição brasileira e medição real
Um dos primeiros e mais importantes pontos em um elétrico é a autonomia. Oficialmente de acordo com a nova medição brasileira, a autonomia do BYD Yuan Plus é de apenas 294 km. Contudo, com carga completa ele marca 475 km em seu computador de bordo. Na vida real, mesmo pegando estrada, ele faz fácil mais de 400 km.
Essa nova metodologia de medição brasileira é muito mais severa do que a usada na Europa e EUA, derrubando as autonomias extremamente otimistas de antigamente. Mas também é bem mais pessimista que a realidade. Durante a semana de testes com o Yuan Plus, rodei 800 km e só carreguei duas vezes.
Nas duas situações, vale ressaltar, ele ainda tinha pelo menos 40% de carga. Isso porque meu trajeto de São Paulo a Campinas conta com um carregador de 150 kW na estrada, que reduz o tempo de recarga para meia hora. Em Campinas, onde resido, os carregadores minimamente rápidos sempre estão ocupados com algum Nissan Leaf de locadora.
O que chamou atenção é que o computador de bordo do BYD Yuan Plus é melhor calibrado do que o do Peugeot e-2008. Seu rival direto consome cerca de 3 km de autonomia para cada 1 km rodado na estrada. Já o SUV chinês faz estimativas mais precisas, o que ajuda bastante a planejar melhor os trajetos.
Susto para iniciantes
Enquanto seus irmãos Tan e Han são elétricos do tipo estúpidos de potência e torque, o BYD Yuan Plus vai assustar só aqueles ainda não iniciados ao mundo dos carros elétricos. Com 204 cv e 31,6 kgfm de torque despejados nas rodas dianteiras, o SUV acelera com força para te grudar no banco e fazer um desavisado xingar o motorista.
São 7,3 segundos para chegar aos 100 km/h, mas a primeira acelerada vem com força total, fazendo até com que as rodas destracionem e cantem. A eletrônica dá conta de colocar tudo no lugar, afinal, o acerto dos carros chineses tem como grande objetivo manter a segurança. Por isso, ao sinal de abuso, o Yuan Plus já ativa os controles de tração e estabilidade.
Como todo BYD, o Yuan Plus é voltado ao conforto. Isso faz com que ele seja um verdadeiro iate sobre rodas na estrada. A suspensão é macia, bastante. Por isso, em solavancos ou irregularidades na estrada, ele produz aquele efeito de gota d’água em que repete o movimento depois da ondulação mais uma ou duas vezes.
Isso faz com que a carroceria role mais nas curvas e também se incline mais. Mas o Yuan Plus não é ruim de curva e nem desengonçado como os SUVs dos anos 1990. Se comporta mais como um hatch alto de suspensão macia do que como um utilitário trambolho. A direção é melhor calibrada, sendo leve na maior parte do tempo, mas rápida e direta.
Toca Raul!
Carro mais bonito que a BYD vende no Brasil, com um desenho cheio de personalidade e verdadeiramente bonito (especialmente nesse tom de verde do modelo testado), o Yuan Plus também chama atenção por dentro. Ainda que a combinação de tons azul marinho, preto, bege e vermelho beira o cafona, o SUV parece (e é) um carro de luxo.
Não devendo em nada ao acabamento de um Audi Q3, Volvo XC40, Mercedes-Benz GLA ou até ao BMW X1, o BYD entrega couro na parte superior do painel e das portas, além do console central. Há material macio nas partes beges e os plásticos são bem raros de serem vistos.
O couro dos bancos é levemente aveludado e bem macio, assim como as espumas. Há tempos não via um carro com bancos tão confortáveis quanto os do Yuan Plus – talvez só os Zero Gravity da Nissan. Tudo que suas mãos podem tocar transmite qualidade de montagem e de materiais usados.
Mas, para chamar atenção, a BYD trouxe algumas soluções inusitadas. As portas trazem três cordas vermelhas capazes de produzir sons como um violão. A maçaneta fica apoiada em uma caixa de som e, quem anda no Yuan Plus pela primeira vez, fica perdido em como abrir as portas.
Há ainda saídas de ar com três filetes cromados, mas que tem péssima regulagem e não permitem direcionar o ar corretamente. Como todo carro da BYD, a central multimídia roda de um lado para o outro como o Pião da Casa Própria. As linhas são orgânicas, inspiradas nas ondas do mar: por isso os tons de azul e bege.
Nascido para isso
Por ter sido desenvolvido desde o princípio como um carro elétrico, o BYD Yuan Plus se beneficiou de alguns pontos. O piso traseiro é totalmente plano, fazendo com que o passageiro do meio se beneficie do espaço. Aliás, é o que não falta lá atrás. Nessa categoria, só o GWM Haval H6 e seu irmão Song Plus são mais espaçosos que o Yuan Plus.
Quem senta na frente tem bancos com regulagem elétrica, mas o encosto de cabeça é fixo. Volante ajusta em altura e profundidade e leva consigo o painel de instrumentos totalmente digital. E aí que começa um problema. Apesar de toda sua modernidade, o Yuan Plus tem painel extremamente pequeno e com poucos recursos, além de ser confuso de usar.
A tela é pequena, o que faz parecer um cluster de moto. Há também o agravante da central multimídia. Ela tem uma belíssima tela de alta definição, mas o sistema operacional Android a faz travar o tempo todo, além de ter reconhecimento falho de alguns comandos como de arrastar.
Pelo menos agora tem Apple CarPlay de série, mas a ausência de Android Auto é inexplicável. É possível controlar diversos elementos do BYD Yuan Plus pela central, como quantos por cento você quer de abertura da cortina do teto solar ou do próprio vidro superior – ao menos um recurso legal além da câmera 360° de qualidade impecável.
Auxílios e atrapalhos
Outro ponto problemático no Yuan Plus é que o seletor de modo de regeneração da bateria tem um delay absurdo para funcionar. É preciso esperar alguns minutos até que ele entenda em que modo está e passe a regenerar a bateria como escolhido. É comum variar constantemente nesses modos em outros carros a fim de otimizar a bateria.
Fora isso, a parte tecnológica do Yuan Plus foi muito bem calibrada. O sistema de manutenção em faixa beira a perfeição. Ele corrige o volante sutilmente junto do envio de pequenas vibrações para o motorista se tocar que está fazendo coisa errada. Só que ele permite trafegar dentro da faixa sem o obrigar a ficar no centro.
Piloto automático adaptativo funciona de maneira sutil e orgânica, com acelerações bem ponderadas e frenagens bem suaves e sem sustos. Há ainda frenagem autônoma de emergência, assistente de luz alta, alerta de ponto cego, assistente de partida em rampa, seis airbags, alerta de tráfego cruzado e assistente de saída segura.
A lista de itens de série do BYD Yuan Plus ainda contempla chave presencial, ar-condicionado digital de duas zonas, teto solar panorâmico, faróis full-LED com acendimento automático e assistente de luz alta, freio de estacionamento eletrônico, retrovisor interno fotocrômico, retrovisores elétricos e vidros elétricos nas quatro portas com função um toque.
Veredicto
Custando pouca coisa a mais que a versão topo de linha de Jeep Compass e até que a do Mitsubishi Eclipse Cross, o BYD Yuan Plus é sim uma alternativa verdadeira a um SUV a combustão, mas com eletricidade. Especialmente por ter boa autonomia, acabamento de marca premium e um belo design
Ele é uma compra mais interessante até mesmo que o já verdadeiramente bom Peugeot e-2008. A única questão é vencer o preconceito do brasileiro com marcas chinesas, especialmente com uma iniciante.
Contudo, a BYD está conseguindo criar uma imagem bastante positiva, especialmente desde que declarou guerra à Tesla e é vista como a única marca que pode verdadeiramente brigar com os carros de Elon Musk. Ao menos no Brasil já está vencendo a batalha, porque não há Tesla oficialmente por aqui.
>>Peugeot e-2008 é a Stellantis com faca e queijo na mão | Avaliação
>>Carro elétrico de R$ 59 mil da BYD tem imagens divulgadas
>>BYD Song Plus é o pesadelo do Jeep Compass 4xe | Impressões