Utilitário com algo a mais

Usei o Renault Kangoo por uma semana como um carro normal | Avaliação 

Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]
Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]

Já faz muitos anos que o Fiat Fiorino domina o segmento de furgões de entrada no Brasil. Nem mesmo seu primo idêntico Pejorino, quer dizer, Peugeot Partner Rapid conseguiu números relevantes no mercado. Mas agora, depois de seis anos de hiato, o Renault Kangoo voltou.

Nossos testes aqui no Auto+ nunca foram voltados ao segmento comercial, mas vi uma oportunidade de fazer algo diferente com o Renault Kangoo. Usei o modelo como se fosse um carro normal, de passeio, ao longo de uma semana. E o resultado final foi muito surpreendente.

Família Sandero

Enquanto a geração anterior do Renault Kangoo compartilhava muito com o Clio de segunda geração, o novo modelo é basicamente um Sandero. E um Logan. E um Duster. E também uma Oroch. Tudo ao mesmo tempo.

Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]
Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]

A base B0 é a mesma usada pelos irmãos, mas já parece a variante evoluída que está no Duster. O que torna sua robustez inegável. O Kangoo é um carro parrudo, que aguenta de verdade o tranco da lida que ele precisará enfrentar.

A construção é bem simples, com suspensão McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira (o Fiorino usa feixe de molas). Contudo, a capacidade de carga é maior do que a do modelo da Stellantis, aguentando 750 kg (100 kg a mais).

Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]
Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]

A direção do modelo é do tipo eletro-hidráulica. Mais moderna que a hidráulica do Fiorino com motor 1.4 Fire, mas ainda assim longe da modernidade dos dias atuais na qual o sistema eletrico domina. 

Como é típico dos modelos da Renault, a direção é firminha e instiga uma tocada mais esportiva. Ela não é suficientemente leve nas manobras, mas não chega a incomodar. Até porque, diferentemente da Oroch, não trepida durante o esterçamento.

Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]

Receita que funciona

Debaixo do capô, o Renault Kangoo conta com o já conhecido motor 1.6 quatro cilindros aspirado de 115 cv e 15,7 kgfm de torque. Ele é pareado a uma transmissão manual de cinco marchas, que também está presente em outros modelos da Renault.

É surpreendente o desempenho desse pequeno furgão. Ele acelera forte sem medo a ponto de cantar pneu com facilidade. Além disso, como o torque chega ao pico aos 4.000 rpm, as retomadas do Kangoo na estrada são bem ágeis.

Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]

Ele tem facilidade em desenvolver altas velocidades e seguir acelerando sem medo de 120 km/h a 150 km/h. Depois disso, fica mais difícil extrair mais dele, visto que a velocidade máxima é de 176 km/h e a quinta marcha é curta.

Diferentemente da Oroch que, com suas seis marchas, exige trocas exageradamente seguidas, o Kangoo trabalha melhor o câmbio. Primeira e segunda são mais curtas para fazê-lo e desenvolver mesmo carregado. Enquanto terceira e quarta são mais longas.

Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]
Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]

Isso reflete no consumo que é melhor do que na irmã. Oficialmente ele marca 7,5 km/l na cidade e 8 km/l na estrada com etanol. Nas mesmas condições, mas com gasolina, o Kangoo marca 11,3 km/l e 11,8 km/l.

É compreensível

Algo que me surpreendeu no Renault Kangoo é sua dinâmica. Ele é um grande tijolo sobre rodas, mas consegue segurar bem em alta velocidade e também nas curvas. Claro que o teto alto faz com que ele penda para os lados se abusar.

Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]
Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]

Ao mesmo tempo você tem um carro bem na mão e que aguenta buracos e solavancos sem o menor problema. A única questão, talvez, seria o fato de não ter retrovisor central, o que causa estranheza no começo e dificuldade nas manobras.

Dignidade básica

Foi-se o tempo em que mesmo os carros voltados ao trabalho faziam com que seu motorista sofresse. A vida agora é mais fácil, visto a quantidade de itens que a Renault colocou no Kangoo para o Brasil. Ele, aliás, justifica melhor os R$ 120.800 que cobra do que o valor semelhante que se posiciona o Fiat Fiorino.

Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]
Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]

De série, o Renault Kangoo traz ar-condicionado analógico, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay com fio, direção eletro-hidráulica, vidros dianteiros elétricos, retrovisor elétrico, travas elétricas com comando na chave e ajuste de altura do farol.

A parte de segurança oferece somente o básico: airbags duplos, controle de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, abs e um extremamente útil sensor de ré. Afinal, ele não tem vidro traseiro. 

Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]
Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]

Heranças da família 

Se você já andou em um Sandero, Logan, Oroch ou Duster da geração anterior, vai se sentir em casa com o Renault Kangoo. Ele tem várias peças compartilhadas com os irmãos. O painel basicamente é igual ao do Sandero, mas com algumas coisas extras.

Exemplo é o espaco de armazenamento à frente do motorista com dois nichos para colocar objetos. Há também um suporte na lateral que pode ser usado para colocar objetos mais finos. Os bolsões de porta também são maiores do que dos irmãos.

Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]
Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]

No teto, o Kangoo oferece um porta-objetos enorme que pode ser usado para colocar diversos itens de trabalho. Há um recuo na ponta para evitar que itens caiam na cabeça do motorista. Mas o Kangoo tem problemas sérios de ergonomia.

Ajuste de altura do banco? Não tem. Volante com ajuste de altura ou profundidade? Nem pensar. A posição de dirigir é bem alta e há pouco espaco para afastar o banco. Como resultado, o motorista se sente apertado, mesmo com uma cabine grande.

Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]
Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]

O acabamento é o que se espera de um Renault de entrada: simples e sem firulas, mas robusto. Já a central multimídia mantém a tradição da marca de ser ruim. A tela tem película fosca que deixa as imagens ainda piores do que já são.

Ao trabalho

Um dos pontos de gigantesca vantagem do Renault Kangoo frente ao Fiat Fiorino está onde o motorista não fica. O modelo conta com baú traseiro de 3.300 litros com 750 kg de capacidade. Há um vidro para que o motorista veja o que acontece lá atrás, se necessário.

Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]
Renault Kangoo [Auto+ / João Brigato]

Contudo, o item mais interessante é a porta lateral corrediça. Ela facilita, e muito, a colocação de objetos dentro do Kangoo, além de permitir acessar as cargas mesmo com o Renault parado em uma baliza com um carro colado na traseira. 

As portas traseiras contam com abertura de 90º, mas que podem atingir 180º soltando uma trava interna. A tampa esquerda é maior do que a da direita, o que também ajuda na hora de acessar o baú.

[Auto+ / João Brigato]

Veredicto

Como ferramenta de trabalho, o Renault Kangoo cumpre o que promete. É robusto, tem preco de compra interessante, é robusto e tem peças fáceis de encontrar. Só tem custo de uso maior do que o do rival direto.

Mas usar o Kangoo por uma semana me fez pensar: por que a Renault não traz a versão de passageiros desse modelo ao nosso país? Com sete lugares e com essa boa dinâmica, seria um carro até mais interessante que a Chevrolet Spin e que o Citroën C3 Aicross.

[Auto+ / João Brigato]

Você teria um Renault Kangoo? Acha que a marca deveria trazer a versão de passageiros para cá? Conte nos comentários.