A fama no mundo automotivo é algo bem difícil de construir, mas muito fácil de destruir. Basta perguntar para a Peugeot e Citroën que sofrem até hoje com erros do passado. Mas há quem tenha feito a lição de casa por muitos anos e agora colhe os louros por ser bem vista no mercado. Como é o caso da Toyota Hilux, avaliada na versão SRX Plus.
Caminhando para o décimo ano de produção, essa geração já mostra nítidos sinais de cansaço. Algo que foi escancarado pela Ford Ranger, a qual, do dia para a noite, fez todas as rivais parecerem uma década atrasadas. Por isso, nunca a Toyota mexeu tanto na Hilux quanto nos últimos tempos. Mas ela fez a fama, por isso deita na cama.
Largamente igual
Para trazer uma dinâmica mais apurada para a versão topo de linha, a SRX, que é a mais vendida da caminhonete média, a Toyota adotou um novo layout de suspensão derivado da GR-Sport. Os eixos foram alargados, exatamente em 14 cm na dianteira e 15,5 cm na traseira.
Além disso, o braço da suspensão foi para fora do chassi, ela ganhou novos amortecedores de tubo duplo com diâmetro maior, prolongamento dos braços superiores na dianteira e toda uma nova geometria da suspensão. Os amortecedores traseiros ganharam novo arranjo e o eixo traseiro tem barra estabilizadora, com melhora da rigidez de rolagem.
Tudo isso significa um comportamento substancialmente diferente da Hilux padrão? Honestamente, não tanto. Sim, de fato você tem uma caminhonete mais estável e mais na mão, com menos balanços laterais e mais estabilidade. Contudo, se a sua referência for a Ford Ranger, esqueça.
A Toyota Hilux SRX Plus, por mais que tenha evoluído em relação às outras versões, ainda tem uma certa receita antiga. Ela pula bastante, sendo nítido isso em asfalto de má qualidade. Amarok e Ranger são mais estáveis e dóceis no dia-a-dia, enquanto a Toyota pula a cada buraco e solavanco do asfalto.
Em algumas situações, inclusive, o pula-pula dela se reflete em um rebote no volante, exigindo correções. Claro que não chega ao nível da Fiat Titano, além de ser mais estável e menos puladora do que uma Nissan Frontier, mas Ford Ranger e Volkswagen Amarok não têm esse espírito de criança de 5 anos depois de tomar uma lata de Coca-Cola.
Experimenta, para você ver
Contudo, se há algo que a Toyota Hilux domina, é a terra. Como o povo do agro gosta de dizer: “a lida”. Colocar a caminhonete japonesa em terrenos não asfaltados a deixa feliz, pois é verdadeiramente seu território. É nesse momento em que a suspensão mais saltitante faz sentido, pois engole buracos e imperfeições como um tanque.
Ela é rápida e ágil na terra, além de mostrar a sua robustez da melhor forma. A fama de indestrutível da Toyota Hilux tem razão para existir. Quando se trata do batente e de usar sem só, ela é uma das poucas que verdadeiramente aguentam atravessar uma transamazônica sem quebrar.
Vale lembrar que ela tem tração 4×4 com opção de reduzia, mas não para alta velocidade como algumas rivais. O seletor fica no painel e é feito através de um botão giratório muito parecido com comandos de ar-condicionado analógico.
Acima da linha
Assim como os japoneses tinham um acordo de cavalheiros nos anos 1990 o qual dizia que todos os modelos esportivos feitos por lá podiam ter até 280 cv (mas ninguém respeitava isso), as caminhonetes médias tem algo parecido. Para o mercado brasileiro, se tornou praticamente inadmissível não ter pelo menos 200 cv e 50 kgfm de torque.
Por isso, não há muito tempo, a Toyota fez um upgrade no motor da Hilux a deixando com 204 cv e 50,9 kgfm de torque. São números suficientes para fazê-la acelerar de 0 a 100 km/h em 12 segundos e atingir 180 km/h. Esse motor é mais do que suficiente para ela, entregando uma faixa farta de torque e potência a contento sempre que o motorista precisa.
Um ponto interessante é que a Toyota ama transmissões CVT pela eficiência e suavidade do conjunto. Por isso, deixou o câmbio automático de seis marchas da Hilux SRX trabalhar com complexo de CVT. Explico: assim que o motorista acelera mais forte, a rotação sobe e o motor entrega o máximo de torque, trocando de marcha tarde.
No instante em que o pedal do acelerador é aliviado, a Hilux derruba a rotação e sobe para a marcha mais alta que ela consegue. É um comportamento muito parecido com a caixa CVT que está no Yaris ou no Corolla, com suas relações infinitas e a tendência de giro baixo sempre que possível.
Vale lembrar que o câmbio não tem trocas manuais, só limitador de marcha com o câmbio em S. Como resultado, a Toyota Hilux tem um dos melhores consumos do segmento: 9,7 km/l na cidade e 10,6 km/l na estrada. Durante nossos testes, ela cravou 10 km/l de média, tendo a maior parte dos trechos feitos em estrada.
Questões ergonômicas
Desde 2015, a Toyota Hilux tem o mesmo interior. Está certo que pequenos detalhes mudaram com o tempo e com a versão SRX Plus, como a central multimídia e um dos recortes do painel. Mas as marcas da idade são bem nítidas. Tal qual seu irmão Yaris, o volante é enfiado no painel. E nem adianta usar o ajuste de profundidade.
Temos um bom painel de instrumentos analógico, com tela colorida na parte central com poucos recursos. Comparando ao cluster da Volkswagen Amarok ou da Fiat Titano, está parelho, mas longe da unidade digital usada até pelas versões mais simples da Ford Ranger. (Entende o porquê a caminhonete da Ford está uma década à frente?).
Ergonomicamente falando, salvo o volante enfiado no painel, a Toyota Hilux SRX Plus é perfeita. Todos os comandos são fáceis de usar, estão ao alcance da mão e aos olhos do motorista. Nada de teclas complicadas ou multifunções em um único lugar só para atrapalhar quem dirige.
Nessa versão topo de linha, vale destacar que os bancos tem revestimento em couro e resfriamento para os assentos dianteiros – algo raríssimo na categoria. O ar-condicionado é digital de duas zonas com botões físicos para controle. Mas, a idade bate forte para a Hilux em alguns pontos.
Tempo, tempo, tempo
Não há onde colocar o celular, o que piora com o carregador por indução (vendido como opcional e presente na unidade testada). A central multimídia, nitidamente algo aftermarket, é bem ruim. Trava o tempo todo, perde a conexão com o celular continuamente até congelar, além de ter tela de definição abaixo do nível de um carro de R$ 333.290.
A qualidade de som não faz jusiça ao nome JBL estampado em vários cantos do carro, sendo seco e agudo demais. Há apenas uma saída UBS, que pode ser ocupada pelo motorista para o CarPlay ou Android Auto (recomendo porque sem fio trava demais), deixando os passageiros em ter onde carregar.
A caminhonete ainda traz relógio digital entre as saídas de ar no melhor molde Ford Del Rey. Há também recursos démodé, como costuras fake feitas nos plásticos das portas e painel. O acabamento é apenas ok, tendo materiais de qualidade, mas nada macio ao toque. O couro do volante, contudo, é áspero demais.
Latitude e longitude
No quesito espaço interno, a Toyota Hilux não decepciona, mas não brilha. Você encontrará espaço suficiente para todas as suas coisas em vários porta-objetos espalhados. Ela conta até com um segundo porta-luvas, que é refrigerado e bem útil. Na traseira, há um pequeno alçapão abaixo dos assentos.
A caçamba leva 1.000 litros e 1.000 kg de capacidade, ficando dentro da média. Contudo, a tampa é pesada e despenca com facilidade ao ser aberta. Além disso, ela não tranca remotamente quando as portas da Toyota Hilux SRX Plus são fechadas, o que pode deixar seus pertences em perigo.
Topo do mundo
Sendo essa a versão topo de linha da Toyota Hilux, era de se esperar uma lista de itens de série bem generosa. E ela se cumpre. A SRX Plus conta com seis airbags, chave presencial, ar-condicionado digital de duas zonas, banco do motorista com regulagem elétrica, retrovisor elétrico com rebatimento, além de câmera 360°.
Há ainda frenagem autônoma de emergência, sistema de manutenção em faixa e piloto automático adaptativo muito bem calibrados, controle de tração e estabilidade, controle de descida, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, farol com acendimento automático, ventilação nos bancos dianteiros e vidros elétricos com função um toque para todos.
Veredicto
É inegável a excelente fama que a Toyota Hilux tem no Brasil. É uma caminhonete com revenda instantânea e pouca perda de valor. Robusta como um tanque, confiável e bem equipada, ela torna seus R$ 333.290 compreensíveis pelo que entrega. Analisando ela sozinha, a compra é certa.
Mas, basta olhar na concessionária ao lado e ver o tanto que a Ford Ranger evoluiu e entrega um conjunto nitidamente uma década à frente dela. O grande problema hoje de qualquer caminhonete média é a rival norte-america, a qual criou um novo patamar para a categoria. Exatamente como a Hilux já fez duas vezes em sua história.
Você teria uma Toyota Hilux? Conte nos comentários.