Robusta e surpreendente

Renault Oroch Iconic 1.6 é rusticamente divertida | Avaliação

Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]
Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]

Apesar de ter sido lançada primeiro do que a Fiat Toro (mas não ter inventado o segmento), a Renault Oroch nunca encontrou seu lugar ao sol. Ela sempre fica na parte de baixo do ranking das caminhonetes mais vendidas do Brasil. Mas, ao conviver uma semana com a Oroch Iconic 1.6, ficou claro o porquê disso, ao mesmo tempo o potencial desperdiçado.

Situada como versão topo de linha da caminhonete da Renault com motor 1.6 aspirado. a Iconic 1.6 sai por R$ 131.150 e vem com quase tudo que a variante topo de linha 1.3 turbo traz. Comparada a Fiat Strada, ela se situa entre a Volcano 1.3 e as versões turbo. Já contra a Chevrolet Montana, a Oroch Iconic 1.6 fica entre a Sem Nome e a LT.

Eu lembro de você

A Renault Oroch é construída sobre a plataforma B0 sem a mesma atualização que o Duster passou. A caminhonete traz a mesma base do Sandero, Logan e Stepway, o que traz pontos positivos e negativos. Ela é extremamente robusta, algo que é nitidamente sentido no rodar do dia-a-dia.

Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]
Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]

Ela aguenta a porrada sem dó, passando por buracos e imperfeições com a mesma destreza que algumas de suas rivais dão voltas no shopping. A suspensão absorve bem os impactos do solo, ao mesmo tempo que mantém o carro confortável. Só que, surpreendentemente, faz bem as curvas. Mas, disso, vou falar depois.

A direção é do tipo eletro-hidráulica, que a torna excessivamente pesada nas manobras, mas bem calibrada em alta velocidade. Ao fazer manobras, ela trepida também por conta dos pneus de uso misto. Isso já mostra um pouco mais do lado bruta, mas ao mesmo tempo já antiquado da Oroch.

Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]
Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]

É só ela

Enquanto a Chevrolet Montana nasceu só com motor turbo, a Fiat Strada adotou a turbina nas variantes de topo, sobrou somente a Renault Oroch e a Volkswagen Saveiro nessa ponta de entrada das caminhonetes com motor aspirado. Especificamente trata-se de um 1.6 quatro cilindros aspirado de 120 cv e 16,2 kgfm de torque.

O motor entrega bastante torque em baixo giro, fazendo com que a Oroch desenvolva rápido. Como é um motor aspirado, logicamente falta fôlego em retomadas na estrada e o 0 a 100 km/h não parece animador quando vemos que é cumprido em 11,8 segundos. Não anda excepcionalmente, mas anda bem.

Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]
Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]

O consumo fica em 7,4 km/l na cidade com etanol e 8 km/l na estrada, já com gasolina ela marca 11,3 km/l na cidade e 11,6 km/l na estrada. Isso é resultado da transmissão manual de seis marchas com relação de marcha extremamente curta. E quando falo curta, é que ela pede sexta a 52 km/h.

Por conta da vocação de levar carga, a Renault deixou as relações de marcha muito curtas, te fazendo mal arrancar e já engatar segunda. O giro sobe muito rápido, fazendo com que as marchas tenham de ser trocadas o tempo todo. Em sexta, ela mantém giro muito alto na estrada, o que atrapalha o consumo.

Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]
Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]

Espírito de Sandero RS

Só que o mesmo tanto que as relações são curtas, também são os engates. O câmbio é muito bem construído, tendo engates curtos e precisos, que te instigam a uma tocada mais esportiva. Pense que a Oroch tem a mesma base do Sandero RS e entenderá onde quero chegar.

A Renault esconde o jogo sobre a caminhonete, apostando sempre sua comunicação em robustez e vocação de trabalho. Mas entre todas as caminhonetes monobloco, a Renault Oroch é a que tem mais chão. Mais até que a Ford Maverick, que é conhecida por uma dinâmica de sedã.

Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]
Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]

Ela agarra nas curvas inclinando pouco, enquanto os pneus Michelin 215/65 R16, mesmo de uso misto, cantam pouco. A direção, mesmo tendo o sistema eletro-hidráulico arcaico, é bem rápida das reações. Como é firme em alta velocidade, torna a condução da Oroch bastante animada e surpreendentemente esportiva.

É botox, é plástica, é tudo repuxado

Inegavelmente a Renault Oroch já sente forte o peso da idade. O visual não impressiona mais e as portas com molduras grossas e recorte feito no teto, mostram sinais fortes de que o tempo passou. Por dentro, a Renault tentou mudar as coisas com uma pesada reforma visual. Mas, sem atualização de plataforma, não há milagre quanto a ergonomia.

Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]
Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]

O volante, por exemplo, não ajusta em profundidade, só altura. O banco tem pouca quantidade de ajustes, um contraste gigantesco frente ao que a marca foi capaz de fazer no Kardian. Até mesmo o piloto automático é complicado de usar, porque tem botões na lateral do painel e em duas áreas diferentes do volante. 

A central multimídia pendurada no painel é a mesma do Kardian, mas não trava no sol, como acontece com o SUV compacto. A tela tem péssima definição e é revestida com uma película fosca que torna seu uso incômodo. Tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio, mas é lenta para fazer a conexão.

Apesar da rusticidade, o acabamento é bom – bem melhor do que de Montana e Strada. Só há plásticos duros no painel, mas eles não são ocos e tem boa textura. A porta tem boa área de tecido e apoio de braço em couro, mesmo material que está no volante e na manopla de câmbio.

Compacta com alma grande

Apesar de ser uma caminhonete intermediária, ela está na ponta do segmento. É mais próxima de uma Fiat Strada do que de uma Toro. Por isso, a Oroch é bem apertada. Com um motorista alto na frente, não sobra espaço para que um passageiro se sente confortavelmente atrás. 

Além disso, a Oroch não está pronta para os tempos modernos, visto que não há lugar para colocar um celular. O buraco entre os botões de comando e o ar-condicionado é liso e, na primeira acelerada, seu celular vai cair. O porta-copos na frente do câmbio é pequeno até para um iPhone das versões de porte normal, enquanto os bolsões de porta são rasos.

A falta de espaço é tão latente, que a Renault colocou o triângulo e alguns elementos para troca de roda em um saco preto pendurado na base do banco traseiro. Quem senta atrás não tem saída de ar, muito menos entrada USB, somente uma tomada 12V, a qual ninguém usa hoje em dia.

Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]
Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]

A caçamba da Renault Oroch traz de série o protetor e também a capota marítima – coisa que muita caminhonete que custa o dobro não traz. Ao todo, são 683 litros de capacidade, com 650 kg que ela aguenta. A tampa traseira é pesada e despenca com tudo, visto que não tem amortecimento.

Não vai fazer falta

A lista de itens de série da Renault Oroch Iconic 1.6 é bem completa para a categoria. Não há nada de sistema de auxílio à condução ou itens de segurança para além de airbags frontais, controle de tração e estabilidade. A lista de equipamentos é composta por ar-condicionado digital de uma zona, comandos de som atrás do volante e vidros elétricos nas quatro portas.

Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]
Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]

Ela traz ainda chave canivete, sensor de ré, câmera de ré, luz de neblina, para-lamas alargados, rodas de liga-leve, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, retrovisor elétrico, faróis com acendimento automático, sensor de chuva, sistema start-stop, faróis com regulagem de altura e piloto automático.

Veredicto

A Renault Oroch não é a caminhonete mais moderna do mercado, aliás, passa longe disso. Mas é verdadeiramente um tanque de robustez e esconde uma condução esportiva que surpreende no dia-a-dia. O consumo não é brilhante e a performance do 1.6 é boa, por isso depende do seu uso para entender se a Oroch encaixa.

Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]
Renault Oroch Iconic 1.6 [Auto+ / João Brigato]

Se é robustez que busca ou uma pequena dose de diversão ao volante enquanto trabalha, ela é o caminho a seguir. Agora, se preza por modernidade, espaço interno e itens de conveniência mais modernos, melhor partir para a concorrência. Ou comprar um Kardian ou um Duster.

Você teria uma Renault Oroch? Conte nos comentários.