
O disputadíssimo segmento de SUVs de luxo tem no Volvo XC60 seu rei há muito tempo. Mesmo que BMW X3 o ameace junto do Audi Q5 e Mercedes-Benz GLC, o sueco mostrou que a fórmula para vencer por aqui é a eletrificação parcial. Por isso, o Land Rover Range Rover Velar se tornou híbrido para disputar a briga do jeito certo.
A grande questão é que a Land Rover cobra muito caro por ele. Por fazer parte da linha Range Rover, ele tem um certo status extra, além de um inegável nível de refinamento. Mas, a coisa ficou ainda mais cara. Na semana que testei o Velar, ele custava R$ 697.121. Um dia depois de devolvê-lo, subiu a R$ 700.421. Só que ele vale tudo isso?
Refinamento do refino
Ainda que o Land Rover Range Rover Velar não seja exatamente um carro extremamente atual, o tempo fez bem a ele. O SUV tem um interior verdadeiramente refinado que mostra os britânicos sabem fazer carros de luxo como ninguém. A cabine traz couro de toque aveludado nos bancos, painel, portas e até no meio do volante.

No modelo testado, o contraste entre o couro caramelo e os elementos em preto na cabine deram um toque extra de sofisticação. No console central, o vazio existencial de ter somente uma pequena manopla de câmbio e um porta-objetos oculto, incomoda. Especialmente porque a área é feita em plástico cinza sem textura.
Antes da reestilização, a área era ocupada por uma segunda tela que controlava o ar-condicionado e o seletor de modo de condução da tração 4×4. Agora, tudo é conjugado na belíssima central multimídia de 11,4 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay sem fio. A tela é levemente curva, mas parece ter sido enfiada no painel como um assessório.




A central é muito fácil de ser operada e conta com diversos menus e sistemas que são acessíveis com dois ou três toques. A qualidade da tela é dígna de um iPad e traz até as medidas do carro, se quiser. O painel de instrumentos também é de ótima leitura e, mesmo com forte sol incidindo, não fica ofuscado.
Mimando nos detalhes
Ainda falando sobre o refinamento do Range Rover Velar, o modelo encanta por detalhes que são colocados para conforto do motorista. O descanso de braço central é dividido em duas partes, que podem se mover ou ser abertas individualmente. Assim, se o motorista está com o braço apoiado e o passageiro quer abrir o compartimento, não incomoda.


Caso você queira usar a central multimídia com cabo, é dentro desse porta-objetos que fica o ponto de carregamento. Nas portas, o Velar traz uma área em plástico que imita aço e reflete a luz ambiente de maneira muito elegante. Além disso, os comandos de vidro e memória dos bancos ficam facilmente à mão do motorista.
Quem senta atrás tem acesso ao belíssimo teto solar panorâmico, mas carece de espaço. O interior do Vela é apertado para um carro do seu porte, parecendo mais um modelo com porte de GLA, X1 e Q3 do que de uma categoria acima. O banco tem regulagem elétrica do encosto, mas a Land Rover usa o botão dos vidros elétricos do Ford Fiesta 1996 para isso.

Por falar em regulagem elétrica, o volante e os bancos dianteiros contam com essa regalia. Além disso, os passageiros dianteiros são agraciados com massagem no encosto do banco, que é ativada automaticamente depois de alguns minutos rodando com o Velar. O porta-malas tem abertura elétrica e carrega 625 litros.
Drive e vai
Ciente de que a maioria de seus clientes usam os Land Rover na cidade, a JLR simplificou as coisas no Velar para o Brasil. Agora, ele é vendido somente com motor 2.0 quatro cilindros turbo ligado a um sistema híbrido plug-in. O motor a combustão, igual ao usado pelo finado F-Type, entrega 300 cv e 40,8 kgfm de torque.

Já o elétrico adiciona 116 cv e 28 kgfm à conta, totalizando 404 cv e 65,3 kgfm. O interessante é que, mesmo o Velar pesando 2.233 kg, o motor elétrico dá conta sozinho do recado em uso urbano. Aceleradas mais vigorosas em centros urbanos e até em velocidade constante na estrada, são supridas pelo motor elétrico.
Já na hora de andar de verdade, o conjunto trabalha em harmonia. O interessante é que a transição entre os dois sistemas é extremamente suave e imperceptível a quem não estiver ligado no conta-giros do painel. Mesmo com o 2.0 rodando forte, o silêncio no interior é ensurdecedor.

Como resultado, temos um SUV acelerando de 0 a 100 km/h em 5,4 segundos, com velocidade máxima de 209 km/h (140 km/h só na eletricidade). A bateria tem alcance pequeno, de apenas 40 km, mas ela tenta segurar a carga por um tempo. Ao chegar perto de zero, o motor a combustão trabalha mais vezes para melhorar o desempenho.
Assim, o motor elétrico atua para arrancadas, ré e auxiliando o motor a combustão. Contudo, no momento em que o Velar fica sem energia, o start-stop se torna muito brusco e o motor a combustão tem uma certa dificuldade de tirar o Land Rover da inércia. Ao menos o freio regenerativo consegue recuperar uma boa carga rápido.

Chá das 5
Junto ao silêncio e elegância do conjunto mecânico, está e economia de combustível. Oficialmente, a Land Rover afirma que o Velar faz 8,3 km/l na cidade e 9,3 km/l na estrada. Contudo, é possível tranquilamente passar dos 12 km/l nas duas situações mesmo com a carga da bateria mais baixa.
A elegância do SUV britânico também está no rodar. Ele é muito sólido e parrudo, deixando claro que suas raízes são vinculadas ao Defender. Você sente uma direção mais firme, mas não pesada. O mesmo vale para a suspensão, que filtra absolutamente tudo que acontece para garantir que os passageiros não se incomodem.

Com a massagem do banco ligada e com uma música boa, você facilmente rodará três horas seguidas ao volante do Velar e se sentirá revigorado e nem um pouco cansado. Falo com propriedade pois fiz o trecho Brotas – Campinas dois dias seguidos depois de uma rotina cansativa e dirigir o Velar foi a parte mais relaxante.
Outra vantagem é que os sistemas eletrônicos de auxílio à condução, como sistema de manutenção em faixa e piloto automático adaptativo, funcionam de maneira orgânica e linear. Chegam perto da precisão e tranquilidade de Honda e Volvo, referências nessa categoria.

Luxo é assim
Por falar nesses sistemas, o Land Rover Range Rover Velar cobra mais de R$ 700 mil por conta dos equipamentos que traz. De série, ele conta com seis airbags, sistema de câmeras 360° com função de carro transparente, faróis full-LED adaptativos com acendimento automático e luz alta autônoma, porta-malas com abertura elétrica e chave presencial.
Há ainda sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, alerta de ponto cego, alerta de tráfego cruzado, frenagem autônoma de emergência, vetorização de torque, internet integrada ao carro, painel de instrumentos digital, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio.

A lista continua com ar-condicionado digital de quatro zonas, bancos dianteiros com aquecimento, resfriamento e massagem, banco traseiro com aquecimento e encosto controlado eletricamente, teto solar panorâmico, retrovisor central e lateral esquerdo fotocrômicos, suspensão pneumática e subwoofer.
Veredicto
Considerando que seus concorrentes diretos estão mais próximos da faixa de meio milhão, o Land Rover Range Rover Velar cobra caro demais para não ter um conjunto muito superior a eles. De fato, é bem mais sofisticado do que X3, XC60, Q5 e GLC. Mas até que ponto é válido pagar tanto por refinamento?

O Velar, em si, é um excelente carro, gostoso de dirigir, luxuoso de verdade e econômico. Dentre os Land Rover, honestamente, é o mais bonito e até o mais equilibrado. Mas precisava de mais autonomia no sistema elétrico e um preço mais comedido. No final das contas, ele sempre foi um carro de nicho e, mesmo eletrificado, seguirá assim.
Você teria um Land Rover Range Rover Velar? Conte nos comentários.